Existe um tema que permeia o ambiente do Grêmio há quase 10 anos. Quando o clube irá comprar a Arena e quando o Tricolor entregará a área do Olímpico para a OAS, empresa que construiu a nova casa gremista.
Múltiplas promessas foram feitas por gestões passadas, a OAS já entrou em recuperação judicial e o assunto ainda não foi para a frente. No entanto, em entrevista ao podcast "Denilson Show com Chico Garcia", o presidente Alberto Guerra falou sobre o tema e disse que espera resolver o assunto até o fim deste ano.
— A gente está trabalhando quieto, mas sempre está na mesa (a compra da Arena). Eles (OAS) analisam se vale a pena continuar ou não nessa situação. A relação até melhorou, com a modificação dos interlocutores. Era algo bem desgastado com a antiga gestão. Ainda este ano algum encaminhamento vai dar, não queremos ficar 10 anos negociando. O Olímpico ainda está no nome do Grêmio e a Arena no da OAS, tem que fazer a troca de chaves. É um assunto que estamos cuidando com todo carinho. Devemos ter uma resposta ainda neste ano — disse Guerra no podcast.
O presidente do clube afirmou também que a situação já não envolve mais apenas o Grêmio e a OAS, contando com outros participantes no processo.
— O Grêmio, para ter a Arena, deu a área do Olímpico. Acontece que logo após a inauguração houve a Lava-Jato. Aquela área está há 10 anos se deteriorando. Contrário do que houve na outra gestão, não é uma questão só entre Grêmio e OAS. A partir desse ano, entraram outros partícipes no processo — explicou, complementando:
— Primeiro a prefeitura com um projeto de lei que obriga a OAS a começar a construir em um período de um ano sob pena de perder os índices construtivos. O Ministério Público tem uma ação relacionada ao entorno da Arena (as contrapartidas). Existem também os bancos que financiaram a construção da Arena e também fundos abutres que estão rondando e daqui um pouco querem comprar esse crédito no negócio do Grêmio e seria muito ruim.
Na semana passada, Banrisul, Banco do Brasil e Santander pediram que todos os bens da antiga OAS sejam penhorados para pagar as dívidas deixadas. Dos R$ 210 milhões financiados para a construtora OAS — hoje chamada de Metha —, R$ 66 milhões foram pagos. Em dezembro, a juíza Adriana Cardoso dos Reis, da 37ª Vara Cível de São Paulo, determinou que as instituições bancárias deveriam indicar quais bens dados como garantias seriam penhorados, para que os demais não passassem por leilão.
O colunista de GZH Jocimar Farina elencou 20 perguntas e respostas sobre o tema. O objetivo é esclarecer as principais dúvidas sobre essa negociação. Confira:
De quem é a Arena?
A propriedade é da Karagounis e da OAS26. A gestão é da Arena Porto Alegrense, empresa do grupo Metha.
De quem é o estádio Olímpico?
Do Grêmio.
Quem é a Metha?
É o novo nome da OAS, que teve a razão social alterada após plano de recuperação judicial, aprovado na Justiça de São Paulo em 2015.
Quem é a Arena Porto Alegrense?
É uma empresa que foi criada pelo grupo Metha — antes OAS — para fazer a gestão do estádio por 20 anos. Prazo conta a partir de dezembro de 2012.
Quem é a Coesa?
É a empresa que comprou a parte imobiliária da OAS, dona da OAS26.
Arena pode ir a leilão?
Pode. Mas para que isso ocorra é necessário que a Justiça faça essa determinação.
Quem pode participar?
Qualquer empresa ou pessoa que se sentir interessada em pagar o valor proposto.
O Grêmio poderá participar?
Sim. Não há impedimento para que o clube gaúcho seja um dos participantes. Mas ele poderá enfrentar concorrência, o que poderia abrir uma disputa por quem pague mais.
Se leilão não for vencido pelo Grêmio?
A empresa vencedora precisaria honrar o contrato existente no qual o Grêmio tem a garantia de usar o estádio até dezembro de 2032. A partir de 2033, se Grêmio tivesse interesse em continuar usando o estádio, uma negociação com estas empresas deveria ocorrer. A gestão da Arena seguiria sem ser do Tricolor.
Grêmio poderia trocar o Olímpico pela Arena?
Se o vencedor do leilão da Arena tivesse interesse na área do bairro Azenha, a negociação poderia ocorrer.
A partir de dezembro de 2032, se Grêmio não entregar o Olímpico?
A empresa Arena Porto Alegrense deixa de gerir o estádio. Arena fica sob responsabilidade da Karagounis e OAS 26 se não ocorrer o leilão.
Por que Grêmio não entregou o Olímpico?
Quando construiu a Arena — parte com recursos próprios e outra com financiamento de bancos — a OAS colocou o direito de gestão do estádio como garantia, caso não honrasse com os pagamentos. Ao assumir a direção do Grêmio, Fábio Koff teme entregar Olímpico e perder o controle da Arena para os bancos. O acordo, então, é suspenso.
Quem são os futuros donos do Olímpico?
Karagounis e OAS 26. Elas são as proprietárias da Arena e estão comprometidas por contrato em permutar a Arena com o Olímpico. As duas empresas eram da OAS, mas foram vendidas. Atualmente, 80% dos donos da Karagounis são investidores do Fundo de Investimento do FGTS, da Caixa — o FI-FGTS. Os 20% restantes são de propriedade da Coesa.
Grêmio pode vender Olímpico e dinheiro ser usado para obras no entorno?
Poder, pode. Mas, certamente, ele será responsabilizado judicialmente por isso, pois há um contrato onde ele já se compromete a passar a área para Karagounis e OAS 26.
Prefeitura pode desapropriar Olímpico?
Pode. Ela precisa comunicar que a área é de interesse do município. Mas, para isso, ela precisará indenizar os donos.
Se pode desapropriar o Olímpico, por que a prefeitura quer diminuir o valor do terreno?
Se as obras não começarem em um ano, o prefeito Sebastião Melo quer tirar o regime urbanístico do terreno. É uma forma de pressão para que as partes envolvidas solucionem os impasses.
Por que a demolição do Olímpico parou?
O Grêmio autorizou a demolição, mesmo ainda não tendo se mudado totalmente para o bairro Farrapos. Porém, quando identificou que poderia sair prejudicado, o clube determinou a suspensão do desmonte do Olímpico.
O que será construído no estádio Olímpico?
A Karagounis irá construir prédios residenciais. A OAS 26 quer um empreendimento comercial. A Companhia Zaffari já chegou a manifestar interesse pela parte do terreno da OAS 26.
Onde surge o primeiro impasse sobre o entorno da Arena?
Em abril 2012, a prefeitura anuncia que assumiria as obras do entorno da Arena, que eram de competência da OAS. Após pressão do Ministério Público, em novembro de 2014, prefeitura revê posicionamento. A construtora até chegou a iniciar as intervenções, mas parou de cumprir suas obrigações a partir de outubro de 2015, já em meio a crise ocasionada pelos escândalos da Lava-Jato.
Quem é o responsável pelas obras do entorno da Arena?
A Metha. A empresa sabe que precisa executar as melhorias. Mas as intervenções não estão entre as suas prioridades de execução, conforme determina o plano de recuperação judicial. Prefeitura e Ministério Público tentam, na Justiça, que as intervenções sejam tratadas como uma dívida fiscal, que não se sujeita a lista de prioridades da recuperação judicial.