Kannemann chegou ao Grêmio em 2016 e se provou a peça que faltava em campo, com a liderança de Renato no banco de reservas, para que o time quebrasse o jejum de 15 anos sem títulos. A conquista da Copa do Brasil no final de sua primeira temporada no Brasil abriu os caminhos para o início de um período de muitas alegrias para o torcedor gremista.
Ao todo, o argentino repetiu a tradicional foto ao lado de Geromel por 12 vezes com o beijo na taça. Sua ausência dos jogos coincidiu com o momento da queda para a Série B. Agora, o argentino é a esperança da nova direção de ajudar em um momento de reconstrução.
Entre altos e baixos, o argentino de 31 anos completará nesta sexta-feira (24) contra o Novo Hamburgo o jogo de número 242 com a camisa do clube. Empatado com Hugo De León no ranking de estrangeiros que mais jogaram pelo Grêmio, fica só atrás das 428 partidas de Ancheta.
— Muito contente em chegar nessa marca vestindo a camisa do Grêmio. Tenho admiração pelo De Leon e ele é muito importante para a história do clube. Agradeço a todos do clube e aos torcedores pelo apoio que sempre recebi — disse Kannemann a GZH.
Responsável pelo comando do departamento de futebol que contratou Kannemann em 2016, Alberto Guerra fez questão que sua gestão como presidente também contasse com o argentino como um dos pilares da equipe. A ideia era de apostar em 2023 na mesma na mesma avaliação feita anos de sete anos atrás. Na época, após a queda na Libertadores para o Rosario Central, e a eliminação no Gauchão para o Juventude, o clube identificou a necessidade de mudar algumas peças no vestiário.
Buscar jogadores que resgatassem valores históricos do clube, como garra e espírito de luta. O lateral-direito Edílson foi um destes movimentos. Mas veio do México o maior símbolo da ênfase nessa postura. Após 30 dias de uma negociação de idas e vindas com o Atlas, Kannemann entrou em contato com a direção e avisou que ele mesmo atuaria para resolver as pendências para vir ao Brasil.
Algo parecido com o que aconteceu seis anos depois. Ele conversou com Renato Portaluppi no CT Luiz Carvalho em dezembro de 2022 antes das reuniões entre seu representante e a direção.
— Kannemann representa muito bem o torcedor do Grêmio dentro de campo. É um exemplo de conduta, de determinação, de garra e de qualidade. É tudo que o torcedor quer para o seu time. Um líder dentro e fora de campo. Eu, como treinador, quero ter ele sempre do meu lado do campo — afirmou Renato a GZH.
Neste encontro ouviu do técnico de sua importância para o grupo, e da possibilidade de dar sequência ao seu legado. Mas o técnico frisou que respeitaria a decisão do jogador sobre aceitar cortar cerca de 50% de seu salário.
— Encontrei o mesmo jogador que contratamos sete anos atrás. Só com a diferença de uma vinculação maior com o clube. Mas ele sempre foi um atleta que mais representa o espírito gremista. Talentoso, mas aguerrido. Extremamente correto no dia a dia. Continua igual, só melhorou por ter vínculo ainda mais forte com o clube e a cidade — projetou Alberto Guerra.
Boa parte deste novos elos são os filhos Juliana e Dante. A menina nasceu em 2019. Prestes a completar dois anos, o segundo filho do casal Walter e Carolina também é de Porto Alegre. A ideia de manter a família na Capital foi um dos pontos levados em conta na opção pela renovação. Como também mostrar que as lesões que o afetaram entre 2020, 2021 e 2022 ficaram para trás.
Recuperado de uma cirurgia no quadril que o afastou dos gramados por quase todo o primeiro semestre do ano passado, e da duas lesões musculares na panturrilha que o deixaram de fora de quase todo o restante da Série B, o defensor atuou sete vezes em 2023. Esteve em campo em todas as partidas com o time titular do Grêmio.
E a expectativa é de siga assim até o final deste ano, quando seu contrato com o Tricolor se encerra. Com a promessa de uma nova rodada de conversas para determinar a permanência.
— O time deste ano começa pelo Kannemann. Nunca questionamos a questão técnica e profissionalismo do Kannemann. Apenas a delicada questão financeira do clube atrapalhava. Nem questionamos o período que ele passou afastado. O contrato mais curto é uma preservação para o jogador, dá liberdade para que possa escolher seu futuro também — projetou Guerra.
Estrangeiro com mais jogos pelo Grêmio, Ancheta acompanha de perto a história de Kannemann. O uruguaio, com 428 jogos pelo clube, brinca que vai torcer para que o argentino não quebre seu recorde. Questionado sobre a situação, não escondeu o orgulho com o posto.
— Gostaria de ficar na frente para ser lembrado (risos). Me dediquei pelo Grêmio. Então espero que ele possa seguir jogando no clube, mas não chegue na minha marca. Mas a possibilidade existe — brincou.
Da Argentina, Leandro Romagnoli acompanha a carreira de seu companheiro de título da Libertadores com o San Lorenzo em 2012. Atualmente técnico da equipe reserva, o ex-meia fala com orgulho das conquistas do ex-colega.
— Kannemann é muito querido por todos no San Lorenzo. Ganhou a Libertadores e foi importante por sua dedicação com o clube e seus companheiros. É uma pessoa que cresceu demais, muito forte mentalmente. Sempre acreditou que triunfaria. E assim o fez. Ainda tem muito pela frente e me deixa feliz ver a carreira dele — disse.
É certo que Kannemann terminará 2023 como segundo estrangeiro que mais vestiu a camisa do Grêmio na história. Se terá a chance de perseguir a marca de Ancheta, dependerá de seu rendimento até o final da temporada. Afinal, são 187 jogos de diferença e precisaria renovar por mais alguns anos para alcançar a marca.