De volta aos Aflitos, e com a Série B em disputa, Náutico e Grêmio fizeram o possível para evitar que o jogo de domingo (23) tivesse qualquer referência a Batalha de 2005. Mas o sentimento não respeita a razão. Quem testemunhou das arquibancadas a defesa de Galatto e o gol de Anderson, que não só garantiram a classificação, mas também deram o título ao Tricolor, fez questão de retornar ao local 17 anos depois. Mesmo que o jogo tenha ficado com qualquer importância apenas para o lado azul da partida. O Náutico entrou em campo já sabendo que seu destino em 2023 será a Série C.
Desde a chegada do Grêmio a Recife, o destino se alinhou para que o jogo voltasse a ter peso decisivo no retorno à Série A. A tentativa de troca do mando de campo não deu certo – o medo da violência fez com que os órgãos de segurança local e a Federação Pernambucana de Futebol tentassem levar o partida para três dos quatro estádios disponíveis da cidade. Estádio do Arruda, Arena Pernambuco eram as opções prioritárias, mas o jogo acabou de volta ao Aflitos.
O Náutico acabou rebaixado na noite de sexta, e os resultados paralelos de sábado se alinharam aos interesses gremistas. Sport, Criciúma e Sampaio Corrêa foram derrotados e tornaram o acesso antecipado do Grêmio possível.
Mesmo sem saber de todas estas combinações improváveis, Manoel Fialho correu pra garantir seu ingresso para o jogo na tarde de sexta-feira. Ele veio com a família morar em Recife em 2005. Gremista, estava no estádio na Batalhas de 17 anos atrás. Além de levar os filhos Felipe, Fábio e Fernanda no domingo, também viveu a emoção de estar com o neto Ivan nas arquibancadas do Aflitos. O pequeno, de apenas cinco anos, foi pela primeira vez ao estádio e viu de perto a camisa que gosta de usar na brincadeira de jogar futebol com os avós.
– Ele ficava empolgado. É uma emoção diferente. Vivi o Olímpico com meus filhos e agora pude estar com meu neto acompanhando o Grêmio. Só espero que agora volte a melhorar a situação do clube para o futuro – comentou Manoel.
Uma história interessante também viveu outro gremista que viu de perto do acesso, no domingo. Depois de acompanhar o jogo nos braços do pai em 2005, André Luiz de Carvalho fez questão de estar novamente nos Aflitos. Aos 19 anos, fez questão de não sair antes do estádio. Dezessete anos atrás, Luiz André de Carvalho, seu pai, deixou os Aflitos com o menino de dois anos quando o pênalti defendido por Galatto foi marcado. Nem viu as quatro expulsões. Ouviu da rua os gritos e achou que seria a comemoração dos torcedores do Náutico. Descobriu que o time que subiu, no fim das contas, foi o Grêmio.
– É uma emoção diferente. O destino colocou esse jogo com o mesmo impacto de 2005. Espero que comece a Série A e que 2023 seja melhor – diz André Luiz, que nasceu em Recife após o pai vir de Passo Fundo em 2002.
Mas nem só para os vencedores a repetição do jogo de 2005 tem impacto. Em Recife, a torcida do Náutico também aguarda que o jogo tenha impactos para 2023. Rebaixado desde a última sexta-feira, o clube deu início a uma série de observações.
Jorge Duarte, 60 anos, viveu a decepção com os outros 20 mil torcedores do Timbu no início do século. Mesmo chateado com a fase ruim do time, se organizou para voltar aos Aflitos novamente. Quis ver como a história se repetiria 17 anos depois.
– Esse clima me motivou a ir ao jogo – confessa.