Prestes a rever o adversário da Batalha dos Aflitos e com apenas alguns pontos separando-o do acesso, o Grêmio pode buscar inspiração nos protagonistas da vitória épica de 2005. Principalmente, em dois feitos em casa. Galatto e Anderson, os heróis de 17 anos atrás, estarão acompanhando de longe a partida de domingo (23), mas com as histórias do confronto ainda vivas na memória.
O jogo deste domingo contra o Náutico não carrega nem de longe os mesmos matizes. Uma vitória simples pode confirmar o acesso do Grêmio. Desde, é claro, que Sport, Sampaio Corrêa e Criciúma não vençam neste sábado (22). A situação do Náutico pode ser decidida nesta sexta (21). Um ponto da Chapecoense contra o Tombense rebaixa os pernambucanos.
Nunca mais um Náutico x Grêmio será comum. Por isso, neste domingo (23), Galatto e Anderson estarão com os olhos fixos na TV e com a memória resgatada daquele calorento 26/11.
Galatto ainda se lembra da sensação ao entrar no vestiário reservado aos visitantes nos Aflitos. Do cheiro da tinta e da sensação de calor com o aperto de mais de 30 pessoas em um espaço pequeno. Do lado de fora, milhares de torcedores ansiosos para se juntar ao rival Santa Cruz na Série A do ano seguinte.
— Igual aquilo, nunca vi outro. Lembro de viver algo do tipo ainda na época da base, mas nunca no profissional. Cheiro muito forte, uma sirene daquelas de colégio tocando sem parar — lembra Galatto.
Mas antes do turbilhão encontrado nos Aflitos, o ex-goleiro também lembra do silêncio do deslocamento do hotel até o estádio. Sem música ou outro passatempo, Galatto queria deixar as emoções em xeque antes de a bola rolar.
— Curti aquele friozinho na barriga antes do jogo — recorda.
Hoje, o ex-goleiro tenta formar a próxima geração de jogadores em um projeto construído em Gravataí. Em parceria com Marcelo Grohe, seu ex-companheiro de concentração dos tempos de Grêmio, montou a escolinha RGM Academy e passa adiante os conhecimentos acumulados na profissão.
Após colocar seu nome na história do Grêmio como o goleiro que defendeu o pênalti que abriu o caminho para a vitória com apenas sete jogadores, Galatto ainda voltou mais algumas vezes ao estádio. Em 2008, com o Athletico-PR, fez um jogo decisivo para salvar sua equipe do rebaixamento. Um funcionário do clube paranaense ouviu um relato vindo das arquibancadas.
— Ah, não. Ele de novo, não — reclamavam os torcedores do Náutico.
Autor do gol da vitória, Anderson relembra que a noite da véspera do jogo foi de apreensão no hotel. A manobra feita em segredo pela direção de trocar a concentração do clube garantiu a noite de descanso necessária antes da batalha. Quando foguetes instalados em canoas estouraram na praia em frente ao hotel, os gremistas dormiam bem longe dali.
— A gente estava muito preocupado que não iria conseguir dormir. Pensávamos que teria confusão — relembra Anderson.
Na época com apenas 17 anos, o ex-jogador lembra que nem queria estar com a delegação em Recife. Contra o Santa Cruz, na rodada anterior ao jogo contra o Náutico, foi orientado por Mano Menezes a ficar assistindo ao jogo na sala de conferências. Uma medida para evitar que a torcida pedisse sua entrada. Incomodado pela manobra feita por Mano, disse que foi pela parceria construída entre os companheiros que voltou atrás de intenção de ficar de fora da decisão nos Aflitos.
— Não era para ter jogado. No jogo anterior, fiquei escondido no vestiário e entrei no final. Fiquei muito brabo — relata.
Negociado com o Porto-POR durante a Série B, Anderson acabou dando sua contribuição além da parte técnica. Os milhões de euros depositados pelo clube português ajudaram a amenizar a situação dos salários atrasados.
Aos 34 anos, Anderson vive uma transição na carreira tão precoce quanto sua estreia, aos 16 anos. No começo da temporada, ofereceu seus serviços ao Grêmio para ajudar no departamento de futebol. Uma tentativa de retribuir o que conseguiu com o clube.
— O Grêmio foi meu pai na minha vida. Morei três anos no Olímpico. Foi o início do sonho de um menino realizado. Ajudei o Grêmio, mas o Grêmio também me ajudou.
Antes de retornar à Europa, fez planos para assistir ao jogo entre o seu clube de formação e o Náutico. Espera que Renato Portaluppi e seus comandados entrem em campo com a concentração necessária para vencer, mesmo que o adversário esteja na lanterna e virtualmente rebaixado. Uma lição que a torcida do Náutico aprendeu da pior forma.
— Nunca está resolvido até acabar o jogo.