O Grêmio conta nesta sexta-feira (5) com a reestreia de uma dupla formada na base como trunfo para enfrentar o Guarani, em Campinas, pela 22ª rodada da Série B. Utilizados no decorrer das partidas contra a Ponte Preta e a Chapecoense, Lucas Leiva e Guilherme começarão como titular pela primeira vez desde que voltaram do Exterior.
A dupla retornou a Porto Alegre com a missão de entregar mais do que apenas bom futebol. Ambos são apostas de Roger Machado para aumentar o nível técnico e liderar junto de Geromel, Kannemann e Diego Souza a nova geração de jovens jogadores que compõe o restante do grupo tricolor.
A entrada da dupla terá impacto maior na estrutura do lado esquerdo do time. Desde a última segunda-feira, os ajustes começaram a ser vistos nos treinamentos. Mesmo que tenha a marcação como característica mais forte em seu jogo, é Lucas quem terá mais liberdade para chegar ao campo de ataque na dupla com Villasanti.
A compensação pensada pela comissão técnica é que o volante entre mais na área do que Bitello, que muitas vezes acabava posicionado quase como um armador. Com mais um jogador que tem na marcação o ponto forte, a ideia é também soltar um pouco mais o quarteto ofensivo. O treino da última quarta-feira serviu para ajustar as peças. Guilherme, Campaz e Biel eram acionados para o contra-ataque em velocidade, com Diego Souza e Lucas Leiva chegando na área para tentar o cabeceio.
A entrada de Guilherme, 27 anos, também exigirá alguns ajustes. Mesmo que tenha características mais próximas às de Ferreira, que gosta de centralizar o jogo para buscar tabelas, o camisa 11 tem como aptidão se aproximar mais da área do que da linha de fundo. Desta forma, Nicolas terá espaço para ocupar o lado do campo e ser o jogador mais aberto pela esquerda.
— O Lucas Leiva tem uma leitura de jogo que poucos volantes no futebol brasileiro possuem. Ainda pode demorar, mas o Grêmio deve melhorar no controle das ações a partir da sua primeira linha de meio-campistas. O Guilherme é um jogador que chega para compor o lado do campo. Elias foi tentado por ali com a ausência do Ferreira, mas não deu resposta — opinou o comentarista Marcelo Raed, do SporTV.
O impacto da dupla teve repercussões muito além das questões de campo. Maior contratação para 2022, Lucas, 35 anos, agrega em situações na rotina do clube. O exemplo, principalmente para os mais jovens, trouxe benefícios para a preparação dos jogadores.
Como é comum na Europa, Lucas vive muito mais o ambiente do CT do que era habitual para os companheiros. Chega todos os dias duas horas antes do início do treinos e costuma almoçar no refeitório. O volante é só elogios para os trabalhos da comissão técnica, principalmente o do preparador físico Reverson Pimentel.
Acostumado ao ritmo europeu, Lucas também teve de se readaptar ao nível do futebol brasileiro. Principalmente na velocidade das ações. Passes com a velocidade de Premier League algumas vezes dificultaram o domínio dos companheiros. Um lance na estreia, contra a Ponte Preta, também serve de exemplo. Grando estava com a bola, com os dois zagueiros abertos. Lucas recuou para buscá-la, mas não recebeu o passe. O goleiro teve receio de deixar o volante de costas para a pressão dos marcadores, algo que é rotineiro na Europa.
— Pode dar em mim. Não vou perder essa bola — prometeu Lucas.
Com quase 30 familiares na Arena na estreia contra a Ponte Preta, o jogador não conseguia esconder a felicidade pela opção de retornar ao clube. Comentou com amigos próximos que a sensação de reestrear ficará marcada na memória.
— Senti aquele frio na barriga novamente — brincou.
Luiz Paulo Peixoto de Lima, o Bugre, viu Lucas Leiva dar os primeiros passos no Grêmio em 2002. Foi com o técnico que o sobrinho de Leivinha iniciou no infantil do clube. Depois, a parceria avançou para mais dois anos no juvenil e se estendeu até a categoria sub-20 em 2005.
— É um jogador aguerrido desde a época de base. Tecnicamente, muito bom. Marcava muito. Sempre foi forte fisicamente. Isso era uma vantagem. Chegou com muita qualidade. Só lapidamos no nosso trabalho. Assimilava rapidamente por ser um guri inteligente. Conversei com o Lucas antes do acerto e disse que ele ajudaria muito se voltasse para o Grêmio. Roger é um técnico muito inteligente, vai saber tirar o melhor dele — projetou Bugre.
Treinador de Guilherme na sub-20 do Grêmio em 2015, Luiz Gabardo vê como principal contribuição neste momento do atacante a característica que já despontava na época: a busca pelo gol.
— Acredito que o Guilherme seja um jogador mais técnico do que as outras opções do grupo do Roger. Mostrou que consegue fazer esse jogo de combinação, o jogo apoiado, e tem velocidade. Usei ele nos dois lados do campo, ele tinha a qualidade para jogar em direção ao gol. É um jogador que desde a base finalizava muito acima da média. Sabia fazer gol.
A passagem pelo Exterior também ajudou o atacante a ganhar repertório ofensivo. Além de jogar pelo lado esquerdo, como era o preferencial, passou a atuar também centralizado e pela direita. Além do repertório tático e técnico, a personalidade é um dos pontos que levou o então técnico do time principal em 2016, Renato Portaluppi, a utilizar o jovem.
— Atacante que começou a se destacar pela ousadia nos treinos contra o profissional. Tem muita personalidade. Gosto do atacante que agride. Sabe fazer gols. Não tem medo do um contra um com o adversário.
Com a dupla de contratações e Thaciano como opção no banco de reservas, o Grêmio aposta que a injeção de qualidade no grupo de jogadores seja o diferencial para garantir o retorno para a Primeira Divisão em 2023 sem sustos para o torcedor.