
Cinco anos e cinco meses ou exatos 1.984 dias depois, Roger Machado voltará a comandar o Grêmio na partida contra o São Luiz neste sábado (18), às 16h30min, na Arena, pela 8ª rodada do Gauchão. A goleada sofrida para a Ponte Preta naquele distante setembro de 2016 foi um capítulo final desagradável, mas que não reflete a boa imagem deixada de sua primeira passagem pela casamata da Arena. Pelo contrário, ao longo dos últimos anos não foram poucos os gremistas que deram ao treinador os devidos créditos por ter implementado um modelo de jogo que, com ajustes, Renato Portaluppi transformou em vencedor a partir do pentacampeonato da Copa do Brasil, na qual Roger deu o primeiro passo da caminhada com a vitória sobre o Athletico-PR, em Curitiba, pelas oitavas de final.
Aquele Grêmio de Roger, que viveu seu ápice com goleada de 5 a 0 no Gre-Nal válido pelo primeiro turno do Brasileirão de 2015, ficou marcado como um time ofensivo, de altos índices de posse de bola e que tinha troca de passes e no jogo apoiado seus alicerces. Isso, no entanto, não significa que o técnico tentará impor a partir deste sábado a mesma proposta. Em sua apresentação, na última terça-feira, Roger Machado ressaltou que vai procurar montar um modelo de jogo dentro das características do atual elenco.
— Como treinador de futebol, eu tenho um desejo específico por determinado modelo de jogo, mas, acima de tudo, tenho de trabalhar em cima das características, da qualidade do material humano que tenho à disposição. A opção por aquele modelo é porque tive jogadores que se adaptaram rapidamente. Pretendo fazer uma equipe competitiva. Existem formas diferentes (de fazer isso), vamos encontrar a melhor — prometeu.
Esse modelo de jogo que o caracterizou no Grêmio foi base dos seguintes trabalhos do técnico, em Atlético-MG e Palmeiras. Em ambos, o Roger teve bons começos, mas acabou não conseguindo concluí-los. Foi no Galo que ele conquistou seu primeiro título, o Campeonato Mineiro de 2017 e também fez a melhor campanha da fase de grupos da Libertadores. A queda, porém, veio na 15º rodada do Brasileirão por uma campanha decepcionante na qual o clube era apenas o 11º colocado.
No Palmeiras, Roger não repetiu o título estadual — foi derrotado pelo Corinthians nos pênaltis na decisão —, mas novamente fez a melhor campanha da fase de grupos da Libertadores. A saída também veio depois do 15º jogo no Brasileirão. Naquele momento, o Palmeiras era sexto colocado e estava a oito pontos do líder Flamengo. Roger foi substituído por Luiz Felipe Scolari, que acabou levando o Verdão ao título do Brasileirão.
— Desde que o Roger se tornou técnico de elite no Brasil ficou uma ideia do começo do trabalho no Grêmio, que era um time moldado para atacar com movimentos bem definidos dos jogadores, dos pontas flutuando para dentro abrindo espaço para os laterais, a busca por triangulações, rápidas reações a perder a bola. Nem sempre era bem executada, mas a proposta estava bem clara. Isso ocorreu em Atlético-MG e Palmeiras — relembra o analista tático do UOL Rodrigo Coutinho.
Ainda que tenha tido bons momentos em Belo Horizonte e São Paulo, as saídas precoces deixaram a impressão de insucesso nos trabalhos. Em 2019, Roger Machado aceitou o convite para assumir o Bahia, onde encontrou um elenco modesto em relação aos anteriores e mostrou essa adaptação citada por ele na apresentação no Grêmio. Em Salvador, o treinador montou um time moldado para o contra-ataque e que defendia com linhas mais baixas. Assim conseguiu manter a equipe na Série A. Em 2020, ainda veio o título baiano antes da saída.
Repórter da Rádio Itapoan FM de Salvador, Nilson Luiz aponta a gestão de grupo como um fator que levou ao desgaste de Roger em sua segunda temporada até sua demissão, após a 7ª rodada do Brasileirão.
— O Roger começou bem no Bahia, teve uma largada muito boa no Brasileirão com a equipe jogando bom futebol. Com o tempo, porém, o Roger se perdeu um pouco em relação à gestão do grupo. O Roger tem um jeito mais calmo, boa praça, mas faltava cobrar mais o elenco. Alguns jogadores chegaram a me relatar que sentiam que o Roger precisava dar uma chegada mais no elenco, que ele era mais de conversas individuais e não eram explosivos. Há um entendimento até de que o Bahia esperou demais para encerrar o trabalho dele — afirma.
Em seu mais recente trabalho, no Fluminense, Roger voltou a adotar um jogo mais reativo que propositivo. O time carioca contava com veteranos como o meia Nenê e o centroavante Fred, mas também com os jovens atacantes de lado de campo Luiz Henrique, Gabriel Teixeira, Caio Paulista e Kayke, que lhe davam a possibilidade de atacar em velocidade. Na Libertadores, por exemplo, o Tricolor Carioca avançou para as oitavas de final como o time de menor média de posse de bola entre os 16 classificados. O Flu ficou com a bola em apenas 41,6% do tempo de seus jogos na fase de grupos.
Setorista do Fluminense para o ge.com, Felipe Siqueira cita que essa forma de jogar de Roger Machado chegou a gerar críticas por parte da torcida que queria um futebol mais propositivo.
—No Fluminense, Roger acabou escolhendo uma filosofia de jogo bastante diferente do que ele ficou conhecido pelos trabalhos anteriores, principalmente no Grêmio. Era um elenco médio em relação a outros da Série A e ele montou um time mais reativo que propositivo. Essa falta de proposição de jogo do Fluminense diante de adversários do mesmo nível e até inferior foi algo que gerou críticas da torcida. Foi um trabalho que começou bem no Carioca e que o clube seguia avançando nas copas. Quando foi eliminado da Libertadores para o Barcelona-EQU, a passagem acabou encerrada — disse.
O analista Rodrigo Coutinho elogia Roger Machado por essa adaptação demonstrada nos últimos trabalhos, mas ressalta para a dificuldade que o treinador tem tido para confirmar aquela expectativa gerada por seu bom início no Grêmio. A volta à Arena é vista com uma possibilidade para retomar o brilho inicial.
— Ele tem uma grande oportunidade agora por ser o time que o projetou como jogador e treinador. É também uma oportunidade para mudar o patamar da realidade dele. O Roger trabalhou em grandes clubes, mas não foi unanimidade em nenhum. Apresentou boas ideias, os times tinham padrões, mas não conseguiam executar isso tão bem em muitos momentos. Nessa volta, ele pode retomar aquele caminho que mostrou no começo, que parecia um cara com projeção até para trabalhar fora do Brasil ou Seleção Brasileira —afirma.
Neste sábado, Roger retorna à casamata da Arena, a sua casa. A expectativa da torcida é de que essa rodagem por diferentes estados e culturas do Brasil nos últimos cinco anos e meio possam ajudar para o treinador entregar ainda mais que aquela primeira passagem pelo Grêmio que tão boa imagem deixou para muitos gremistas.
Números de Roger
Grêmio (2015/2016)
- 93 jogos
- 48 vitórias
- 22 empates
- 23 derrotas
Atlético-MG (2017)
- 43 jogos
- 23 vitórias
- 9 empates
- 11 derrotas
Palmeiras (2018)
- 40 jogos
- 24 vitórias
- 8 empates
- 8 derrotas
Bahia (2019 e 2020)
- 73 jogos
- 29 vitórias
- 22 empates
- 22 derrotas
Fluminense (2021)
- 42 jogos
- 19 derrotas
- 12 empates
- 11 derrotas