A queda para a Série B traz para o Grêmio nova realidade para o planejamento da logística em 2022. Na Segunda Divisão, o Tricolor encontrará um cenário de viagens com percursos de ônibus, além dos voos, e de maior distância no deslocamento total. Somando destinos de ida e volta, o clube viajará 8,7 mil quilômetros a mais. Em 2022, a quilometragem de viagens será de 74.182 contra os 65.487 que fez na elite nesta temporada.
Mesmo que a Série B de 2022 apresente mais participantes da Região Sul do que teve a Série A em 2021 — serão seis ante cinco —, o Grêmio vai encarar maior número de adversários do Nordeste, que levam a deslocamentos mais longos. Serão seis equipes da região na Segunda Divisão, enquanto a elite contou com quatro em 2021.
Além de aguardar conexões em saguões de aeroporto, a delegação gremista terá de encarar alguns trajetos de ônibus —‚ seja para localidades próximas de Porto Alegre, como Criciúma, ou para alcançar cidades pelo interior do país, onde duelará com Operário (Ponta Grossa-PR), Ituano (Itu-SP), Novorizontino (Novo Horizonte-SP) e Tombense (Tombos-MG).
— O que diferencia a Série A é que a logística é mais em capitais e acaba favorecendo, pois se tem mais opções de horários de voos. Como nós, do Juventude, não estamos fretando voos em todos os jogos, acaba que viajamos em voos comerciais. Na Série B, dependendo dos jogos, você desce em capital e tem mais algumas horas de terrestre em ônibus até a cidade do jogo. Outro fator é a qualidade dos hotéis que a Série A oferece — aponta o supervisor de futebol de Juventude, Bruno Costa, que viveu a experiência das duas divisões em 2020 e 2021.
Quando o Grêmio disputou a Série B pela última vez, em 2005, a Segunda Divisão teve uma fórmula com um turno de confrontos de todos contra todos, com as fases finais disputadas em grupos. Desde 2006, a competição é disputada em pontos corridos por 20 clubes.
Executivo de futebol do Avaí, que conquistou o acesso para a Série A de 2022, Felipe Ximenes ressalta que a definição da ordem dos confrontos irá mostrar o tamanho da dificuldade para, por exemplo, quando houver dois jogos seguidos como visitante. Pela contenção de despesas, o Grêmio no momento tem a ideia de não fretar voos na Série B. Ximenes, porém, vê esse gasto como um investimento que pode gerar frutos ao clube.
— A tabela influencia muito. Quando vai se desmembrando, você tem a real noção da dificuldade. Em 2022, haverá muitos clubes do Nordeste, o que impacta na logística para o Grêmio. A logística tem impacto muito grande no resultado técnico de uma equipe. Então, penso que um gigante como o Grêmio deve colocar no seu orçamento estrutura que dê um maior conforto e menor impacto nos traslados. Fretamento de aviões é algo que pode e deve ser pensando quanto a isso. Quando for inevitável ônibus e datas dos jogos permitirem, ficar um dia a mais no local onde jogou ou chegar um dia antes pode ser alternativa — avalia.
Ximenes sustenta que o equilíbrio tem sido cada vez maior na Série B e, por isso, é importante tirar vantagens onde for possível:
— O mais importante de uma disputa na Série B é a consciência da competição que você vai encarar. O Grêmio não vai subir para a Série A de 2023 na primeira rodada. O futebol brasileiro deve se conscientizar que a nossa temporada será um grande campeonato de 40 clubes divididos em duas séries de 20. Ano que vem teremos na Série B seis campeões nacionais, isso mostra que é um campeonato realmente difícil.
Dificuldades vindas da Série C
Enquanto Botafogo, Goiás, Coritiba e Avaí subiram para ocupar os lugares de Grêmio, Bahia, Sport e Chapecoense na Série A, da Terceira Divisão vieram Ituano, Criciúma, Tombense e Novorizontino para a Série B. Esses dois últimos trarão uma logística de maior desafio ao Grêmio. Ex-diretor executivo do Ypiranga e atualmente no Caxias, Renan Mobarack relata como foi a experiência de ir a Novo Horizonte encarar o Novorizontino.
— É um time complicado de enfrentar porque tem de descer em Guarulhos e viajar em torno de seis horas para chegar lá. O hotel também não fica em Novo Horizonte, mas em uma cidade localizada um pouco antes, em Catanduvas, a cerca de 40 quilômetros. Na Série A, geralmente os clubes são de capitais. Na Série B começam a aparecer times do interior. Tudo que é comum de um clube grande fazer, como pegar voo fretado, ficar em bons hotéis. Em Tombos, por exemplo, não é possível fazer. Tombense e Novorizontino usam isso como força local — ressalta Mobarack.
Nesta semana, o Tombense fez um acordo com o Nacional de Muriaé para mandar jogos no Estadio Soares Azevedo, em Muriaé, cidade localizada a 60 quilômetros de Tombos. A medida foi um cuidado do clube em razão de um provável veto da CBF ao Estádio Almeidão, de Tombos, que não atinge a capacidade mínima exigida pela entidade para a Série B, de 10 mil pessoas.
Apesar do acordo e da questão regulamentar, o time do interior mineiro continuará lutando para que possa mandar os seus respectivos jogos em seu estádio, localizado na Zona da Mata mineira. A direção do clube, fundado em 1914, mas que se profissionalizou em 1999, ainda busca outra alternativa junto à CBF: realizar só jogos contra os times de maior expressão, como Grêmio, Cruzeiro, Vasco e Bahia, em Muriaé, e os demais em sua casa em Tombos.
— Jogar em Tombos é horrível. Como a CBF nos dava a passagem, tínhamos de ir até o Rio de Janeiro e depois viajar mais seis horas de ônibus por uma estrada muito estreita, perigosa até. Uma coisa que nunca vi na minha vida. Entrávamos por dentro de duas cidades para chegar lá. E só tem um hotel na cidade, que é do presidente do clube. Gente finíssima, recepção nota mil, mas o hotel não era muito bom — conta o presidente do São José, de Porto Alegre, Flávio Abreu, que enfrentou o Tombense em sua cidade na Série C de 2020.
— Para nós, Tombos era a pior logística da Série C. Todos queriam fugir de lá e nós fomos quatro anos seguidos com o Ypiranga. O aeroporto mais próximo fica em Juiz de Fora, a quatro horas de distância. Mas, como voamos em voos regulares, tínhamos de nos adaptar à malha aérea. Então, tínhamos de voar a Chapecó, depois a Guarulhos, descíamos no Santos Dumont e pegávamos um ônibus e rodávamos sete ou oito horas para lá — disse Renan Mobarack, que viveu a experiência com o Ypiranga.
Jogar a Série B não estava nos planos de nenhum gremista. Agora, o clube precisará de uma boa preparação em todos os quesitos para fazer uma boa campanha e garantir seu lugar de volta na Série A para 2023.