Quem desligou a televisão no intervalo de Grêmio e Flamengo, quarta-feira (25), pela Copa do Brasil, pode ter se assustado ao acordar nesta quinta e ver que os cariocas venceram por 4 a 0. O primeiro tempo apresentou dois times bastante diferentes do que se viu na etapa final, quando os visitantes chegaram aos gols.
Mesmo que nos primeiros 45 minutos de jogo o Flamengo tenha tido maior posse de bola, 52% contra 48%, o Grêmio foi superior. Controlou o meio-campo e criou as melhores oportunidades — a principal delas com Alisson, que chutou rente à trave esquerda de Diego Alves. Nos minutos que antecederam o intervalo, o Rubro-negro ainda teve o lateral-direito Isla expulso.
Foi a partir daí que a partida se transformou. GZH agora apresenta lições que o Grêmio pode tirar da goleada sofrida para o time de Renato Portaluppi dentro da Arena.
1) Esquema com três volantes funcionou
O tripé de meio-campistas escalado por Felipão com Thiago Santos, Lucas Silva e Villasanti deu certo. Passou por ali o sucesso da equipe nos primeiros 45 minutos, com poder de marcação e toques rápidos na transição para o ataque. Um dos principais nomes do adversário no jogo, Éverton Ribeiro esteve bem vigiado na primeira metade do duelo.
Assim, o Grêmio atraiu o Flamengo para o seu campo, mas sem nunca dar liberdade de criação. A partir daí sugiram as melhores jogadas de contra-ataque, como na finalização já citada de Alisson, e os dois lances em que Isla teve de parar o avanço tricolor com faltas para cartão amarelo.
2) Posse de bola não é sinônimo de atacar
O clima na descida para o vestiário no intervalo era outro. De um lado, o azarão Grêmio comemorava o sucesso da sua estratégia e a vantagem numérica pela expulsão rubro-negra. Já os visitantes tinham a preocupação de segurar o resultado fora de casa com um homem a menos. E Renato parece ter aproveitado melhor os 15 minutos de pausa, mandando a campo Matheuzinho e Thiago Maia nos lugares de Diego e Arrascaeta.
Além de preencher o buraco deixado pela exclusão de Isla, reforçou a marcação no meio. O plano era dar a bola para os donos da casa, que voltaram em busca da vitória. Foi então que o Grêmio naufragou. Preso na marcação adversária, o time de Felipão não conseguiu criar e ainda cedeu muito espaço nos contra-ataques.
Se no primeiro tempo o Flamengo teve quatro chutes, apenas um deles em direção ao gol, sem Isla foram sete finalizações – seis com endereço certo, o que mostra a liberdade dos atacantes na hora de concluir. A posse de bola de 65% do Tricolor na etapa final não significou nada no resultado.
3) Estratégia "suicida" custou caro
Aos 25 minutos da metade final, o Flamengo vencia por 1 a 0 e o Grêmio começava a esboçar sinais de uma pressão. Foi então que o técnico gremista resolveu fazer logo duas substituições: Diego Souza e Luiz Fernando entraram nas vagas de Thiago Santos e Alisson.
A ideia era aumentar o poder ofensivo com a entrada de um centroavante e um jogador de características mais terminais, mas o que se viu foi um meio-campo esvaziado. O time gaúcho perdeu a combatividade de Thiago Santos e a recomposição de Alisson, que também era um dos principais nomes da equipe no jogo, com as duas melhores chances da noite. No fim, as trocas foram um convite ao Flamengo.
Mais recuado, Diego Souza não conseguiu contribuir na marcação nem na criação das jogadas. Limitou-se à disputa corpo a corpo com os adversários, quase sempre longe de área. Luiz Fernando ajudou pouco no ataque e atrapalhou na defesa, cometendo um pênalti já nos minutos finais.
4) Ataque com dois centroavantes não deu certo
Após a vitória sobre o Bahia, quando Borja e Diego Souza marcaram gols, Felipão comentou a possibilidade de os dois centroavantes jogarem juntos. Contra o Flamengo, a ideia não deu certo. Como dito, Diego Souza atuou mais atrás, ficando muito longe da área. Mais do que não conseguir criar, o goleador gremista na temporada dificultou a vida de Borja, que passou a ser menos acionado e virou uma ilha entre os defensores flamenguistas.
Com dois jogadores fortes na bola aérea, esperava-se o Grêmio cruzando mais para a área, o que não ocorreu. Se quiser escalar Diego Souza e Borja juntos novamente, Scolari terá de repensar a forma de fazê-lo. Nesta quarta-feira, o plano não deu certo.
5) Faltou controle emocional
A empolgação pelo bom primeiro tempo, premiado com a expulsão de Isla, contrastou com a frustração de tomar um gol logo na volta do intervalo. É verdade que o empate quase saiu no lance seguinte, quando Alisson acertou o travessão, mas o time parou por aí. Quanto mais o tempo passava, maior era o descontrole dentro de campo.
O mau momento na temporada parece ter pesado. Vanderson aparentava ser um dos mais nervosos. Primeiro, envolveu-se em confusão com Thiago Maia. Depois, já no final, foi expulso por entrada violenta em Vitinho.
O segundo gol do Flamengo, de Michael, também escancarou o problema. Sem chances de conseguir o empate, o Grêmio afrouxou nos minutos finais, e o Flamengo passou a chegar na área com facilidade assustadora. O resultado foram dois gols nos minutos finais e uma goleada histórica.