O placar de 1 a 0 construído com o gol de Léo Pereira, que deixou o Grêmio em vantagem no confronto de oitavas de final da Copa Sul-Americana com a LDU, representou a quebra de um incômodo jejum de 37 dias sem vitória na temporada – nove jogos no total. O resultado conquistado no Equador agora serve como inspiração para o Tricolor buscar o seu primeiro triunfo no Campeonato Brasileiro diante do Fluminense, no sábado (17), no Maracanã.
Com apenas três pontos somados, o Grêmio não tem chance de sair da zona de rebaixamento do Brasileirão neste final de semana. No entanto, como Cuiabá e Chapecoense, antepenúltimo e penúltimo colocados, respectivamente, se enfrentam nesta rodada, uma vitória sobre o Fluminense tirará o time gaúcho da lanterna.
Essa possibilidade de deixar o último lugar é uma primeira meta a ser atingida. Pela situação delicada, o técnico Luiz Felipe Scolari até evitou estipular publicamente um prazo para o Grêmio sair zona de rebaixamento logo em sua chegada ao clube. O discurso é de jogo a jogo. Além das questões táticas e técnicas, o treinador tem mostrado a cada manifestação a sua preocupação com a parte anímica do elenco.
— Foi importante vencer, mas o mais importante é ter um grupo com uma mentalidade que supera algumas dificuldades que estamos passando e que são grandes no momento. É o que estamos tentando. Foi muito bom o resultado, mas temos um longo caminho para conseguirmos alguma coisa — declarou Felipão logo a após a partida em Quito.
Mesmo que a quebra do jejum não tenha sido no Brasileirão, quem tem a vivência do vestiário ressalta que a vitória no Equador pode ser determinante para a mudança de chave no plantel. O ex-volante do Grêmio Carlos Gavião afirma que observa alteração no ânimo do elenco pela troca no comando técnico.
— Tem dois lados nessa situação. Teve a troca do treinador e com o Felipão são dois jogos sem vencer. Deixa de ser o time que não vencia para o que não perde há dois jogos. Eu vejo isso como muito positivo. O pessoal ainda está naquela fase de mostrar alguma coisa para o novo treinador. A troca de treinador, com empate no clássico e essa vitória, traz novo ânimo para o vestiário — observa.
Gavião cita o exemplo de Jean Pyerre, de boa atuação no Equador, como um indicativo de reação a partir da chegada de Felipão.
— Quando não tem a troca, mexe no ambiente. Aquele jogador que não vinha tendo tanta oportunidade passa a se sentir valorizado e ganha um ânimo novo. Um exemplo disso é o Jean Pyerre. É um jogador que a parte anímica é a maior dificuldade, mas já teve uma atuação melhor contra a LDU. Foi uma vitória fora de casa contra um adversário que não é fácil. Isso tem um peso — completa.
Comandado por Felipão no clube em 1996, o ex-atacante Zé Alcino afirma que Grêmio entrará mais leve no Maracanã para enfrentar o Fluminense.
— Ficar sem vencer por dois jogos já é difícil, imagina por um longo tempo como o Grêmio ficou. Uma vitória assim dá confiança para o grupo, que já é bom. O pessoal agora terá uma motivação maior ainda para seguir em busca de novos resultados. Essa vitória pode ser o que faltava para alavancar o time — avalia.
Exemplo vivido juntos
Gavião e Zé Alcino estiveram juntos no Grêmio em 1998, quando o clube não venceu nenhum dos primeiros oito jogos do Brasileirão. Apesar do início ruim, o Tricolor conseguiu se recuperar para obter uma vaga nas quartas de final – os oito primeiros avançavam após a disputa de um turno com 23 rodadas.
Aquela campanha serve de exemplo para Zé Alcino acreditar que o Grêmio pode ainda almejar uma vaga na Sul-Americana ou até mesmo na Libertadores de 2021 neste Brasileirão. O ex-atacante, no entanto, afirma que é necessário o Tricolor conseguir deixar a zona de rebaixamento ainda no primeiro turno.
— Se permanecer no segundo turno, aí ficará muito difícil. Acredito que o Grêmio precisa sair ainda no primeiro turno. É possível sair daqui umas cinco rodadas da zona de rebaixamento. Mesmo que seja um ponto fora, já ajuda. Precisa somar. É vencer em casa e, se não puder ganhar fora, garantir um ponto. Um clube que quer almejar algo mais no Brasileirão precisa sair rápido dessa situação — projeta.
Já Gavião lembra que em 1998 (então com 18 anos) passou a ser utilizado no Brasileirão após a chegada do técnico Celso Roth. Por conta disso, pensa que o aproveitamento de garotos pode ser uma saída para Felipão resolver problemas da equipe atualmente.
– O time engrenou depois da chegada do Roth. Como aconteceu agora, houve a troca e também aposta em alguns jogadores. Isso não quer dizer que quem vinha jogando não possa servir ali na frente. Às vezes é importante sair da equipe, treinar mais um pouco fora dos jogos e depois voltar. O elenco do Grêmio não é para estar nessa situação. O Felipão sabe bem fazer isso.
O jogo contra o Fluminense será o décimo do Grêmio no Campeonato Brasileiro. Sem nenhuma vitória nos primeiros nove jogos, o clube já tem o seu pior início na história do Brasileirão. Ou seja, a recuperação precisa vir no Rio de Janeiro.