Depois de bater a LDU no jogo de ida das oitavas de final da Copa Sul-Americana, o Grêmio encara o Fluminense neste sábado (17), às 21h, em busca da primeira vitória no Campeonato Brasileiro. Precisando dos três pontos para sair da lanterna sem depender de uma derrota da Chapecoense para o Cuaibá, o Tricolor conta com a boa fase de Gabriel Chapecó para segurar o ataque carioca. O goleiro de 21 anos foi destaque nas duas primeiras partidas de Luiz Felipe Scolari no comando da equipe gremista.
Esse bom rendimento logo em sua primeira sequência de jogos como profissional só confirma uma trajetória marcada pela precocidade desse garoto que carrega sua cidade no nome. Quando tinha apenas 14 anos, o goleiro já chamou atenção de Felipão na sua passagem anterior pelo clube.
— Logo que chegamos no campo para o primeiro treino, ele veio falar comigo e perguntou se eu lembrava. Eu cheguei em agosto de 2014 e em dezembro fiz um coletivo com o profissional. Ele brincava que os meus braços eram muito grandes. Fico feliz com isso. O Felipão é um cara que dispensa comentários. É campeão do mundo e ganhou tudo —recordou o jovem goleiro nesta semana.
Mas a relação de Gabriel Chapecó com o Grêmio vem de muito antes desse treino que impressionou Felipão. É uma ligação familiar, de um gremismo herdado do pai Marcelo Grando, natural Erechim, falecido em 2007.
— O Gabriel desde criança sempre gostou de bola. A gente morava em um apartamento e ele fazia barulho para os vizinhos jogando bola — recorda a mãe de Gabriel, Marga Grando.
O pai Marcelo deixou como herança o amor pelo esporte. A genética levou Gabriel para a posição que virou profissão.
— O Gabriel sempre falou que queria ser jogador, não exatamente goleiro, mas jogador. Ele entrou no futsal com sete anos e já foi para o gol pela altura. Isso ele herdou do pai, que era alto. A partir daí sempre jogou no gol e muitas vezes em categorias acima da idade dele exatamente pela altura — conta Marga.
No futsal, ainda era chamado de Gabriel Grando. O garoto seguiu nas quadras até os 12 anos, quando ingressou em uma escolinha filiada ao Grêmio em Chapecó. Gestor do projeto naquela época, Claudio Bissolotti recorda que o garoto chamou atenção logo nos primeiros treinos.
— Ele se destacava pelo tamanho, a envergadora e a vontade de treinar. Ele era muito dedicado. Lembro que ele não foi aprovado logo no primeiro teste e ficamos muito chateados porque era um garoto com toda a qualidade necessária. Ele sempre foi um guri muito focado. Depois, ele teve um desempeno muito bom e veio o convite para ir a Porto Alegre — conta Bissolotti, que atualmente mora em Portugal.
A vinda ao Grêmio aconteceu no ano seguinte, quando Gabriel Grando virou Gabriel Chapecó. Ele chegou em agosto de 2014 e quatro meses depois chamou atenção de Felipão. Pois neste sábado, os dois estarão juntos no Maracanã na missão de levar o Grêmio a uma vitória que valerá deixar a última posição no Brasileirão.
AS DIFICULDADES ATÉ SE TORNAR PROFISSIONAL
De Chapecó até brilhar em seu primeiro Gre-Nal como profissional, na reestreia de Felipão, Gabriel precisou superar muitas barreiras nesses quase sete anos de Grêmio. Elas começaram com distanciamento tão jovem da mãe aos 14 anos e passaram por uma grave lesão que o deixou oito meses afastado dos gramados entre 2019 e 2020. Até por isso, o goleiro nem iniciou a atual temporada como favorito a receber uma oportunidade no time principal.
Gabriel Chapecó fez seus primeiros treinos na base gremista ainda no CT do Cristal. Morou em um local próximo ao centro de treinamentos na Capital antes de ir para o CT Hélio Dourado, em Eldorado do Sul. Sua mãe conta que em dois momentos o garoto chegou a falar em voltar para sua cidade, mas a determinação venceu e ele seguiu em Porto Alegre em busca do seu sonho.
— Teve dois momentos que ele teve receio. A primeira vez foi logo no primeiro ano. Ele falou "mãe, acho que quero voltar", mas no fim decidiu ficar — relembra Marga.
O goleiro passou a ganhar maior destaque na base a partir de 2018. Naquele ano, ele foi protagonista na conquista da Copa Mitad del Mundo Sub-18, disputada no CT do Independiente Del Valle, no Equador, que reuniu diversos clubes sul-americanos. O goleiro foi herói ao pegar dois pênaltis na semifinal diante do Bragantino e um na decisão contra os donos da casa. O time sub-18 do Del Valle era comandado na ocasião pelo ex-técnico do Inter Miguel Ángel Ramírez.
— Nós fomos campeões e ele foi eleito o melhor goleiro do campeonato (ganhou também o prêmio de melhor jogador da final). Pegou pênaltis na semifinal e na final. O Gabriel é um goleiro muito arrojado, que passa muita confiança para a equipe com boas orientações. Tem uma liderança interna silenciosa, mas é bem impositivo, o que o fortalece como atleta. Essas defesas que está fazendo no profissional não surpreendem quem conhece ele — declara Guilherme Bossle, técnico da equipe sub-18 do Tricolor naquele torneio disputado no Equador.
Gabriel Chapecó ainda disputou a Copa São Paulo de Futebol Júnior no ano seguinte, quando o Grêmio chegou até as quartas de final. Já integrava o grupo de transição quando rompeu o ligamento cruzado do joelho direito e precisou passar por cirurgia no final de 2019.
Por ter ficado oito meses fora dos gramados, seu aproveitamento no elenco principal chegou a ser tratado com cautela. Chapecó, no entanto, conquistou a confiança do preparador de goleiros Mauri Lima. Assim, venceu a disputa de garotos com Adriel e virou o primeiro reserva de Brenno após o afastamento de Paulo Victor. Reserva, talvez, por enquanto. Se conseguir manter o nível de atuações dos últimos jogos, Gabriel Chapecó poderá até mesmo almejar a titularidade quando Brenno retornar da Olimpíada.