Uma posição que o técnico Tiago Nunes não deve ter problemas para escalar no Grêmio ao longo de 2021 é a lateral direita. Além do surgimento de Vanderson, autor de um dos gols na vitória sobre o Ypiranga, ele tem à disposição o veterano Rafinha. Com menos de um mês em Porto Alegre, o jogador com passagens vitoriosas pelo futebol alemão e no Flamengo já demonstra ser uma das lideranças do grupo gremista.
— Tem muitos jovens aqui no Grêmio que precisam de um cuidado especial. É muito boa essa mescla com jogadores mais experientes lapidando os meninos, dando aquele puxão de orelha quando é preciso — disse Rafinha em entrevista ao Zona Mista, da Rádio Gaúcha, na noite de domingo (25).
Além da experiência, Rafinha oferece versatilidade ao elenco. Desde sua chegada ao clube, projeta-se um possível aproveitamento jogando como meia pela direita, em função ocupada por Alisson nas últimas temporadas, preservando o jovem de 19 anos como titular.
Esta, porém, não é uma das posições em que o jogador mais foi utilizado ao longo da carreira. Chegou a ser escalado desta forma por Jorge Jesus no Flamengo, mas a derrota por 2 a 0 para o Emelec que quase custou a eliminação na Libertadores fez com que a experiência durasse apenas um jogo.
No Bayern de Munique, o brasileiro tinha na lateral a concorrência de Phillip Lahm, capitão da equipe e também da seleção alemã. E na frente havia jogadores como Arjen Robben e Thomas Müller. As chances de titularidade, portanto, eram pequenas. Isso fez com que boa parte das improvisações do atleta do Grêmio na Baviera tenham ocorrido como defensor.
— Ele atuou algumas vezes como volante pela direita com o Guardiola. O Guardiola usou o Rafinha, inclusive, mais como zagueiro do que como volante. Ele nunca fez um jogo como um meio-campista avançado, foi sempre como jogador de contenção. E ele foi bem, deu conta do recado — explica o jornalista Mario André Monteiro, do blog Alemanha FC, especializado em futebol alemão.
Ainda que o rendimento na zaga também tenha sido positivo, recebendo elogios no país europeu, a ideia não é levada em conta no Grêmio. O contexto na Alemanha era favorável ao aproveitamento de um jogador mais baixo na posição, já que o time era o que tinha a posse da bola durante boa parte do jogo e quase não era explorado defensivamente.
Na temporada de 2015-2016, por exemplo, o Bayern conquistou a Bundesliga com apenas 17 gols sofridos em 34 partidas — a segunda melhor defesa do campeonato foi do Borussia Dortumund, que levou 34. Para efeitos de comparação, a equipe gaúcha já foi vazada 16 vezes em 16 jogos na temporada de 2021.
Embora o histórico na Europa indique uma maior probabilidade de o jogador ser aproveitado como volante do que como meia-direita, o comentarista Sérgio Xavier Filho, do SporTV, enxerga a escalação de Rafinha mais avançado com bons olhos.
— Em um 4-2-3-1 seria mais simples. Vanderson vai para o ataque, Rafinha recompõe como meia voltando pelo lado direito, tudo certo. Quando o jogo para, voltam para os seus lugares. Se Rafinha for o volante e tentar cobrir o Vanderson, fica um buraco no meio, difícil sincronizar. Para resumir, não usaria ele como volante, a não ser que o Tiago Nunes vá com um 4-3-3, com Thiago Santos mais cão de guarda, Rafinha e Jean Pyerre mais recuado. E o Matheus Henrique? Pois é, não fica tão simples acomodar — opina.
Outra alternativa é inverter o lateral para o lado esquerdo, o que já ocorreu na Alemanha, mas sempre em questões emergenciais. Em 2018, já sob o comando de Jupp Heynckes, precisou substituir Alaba e foi um dos grandes destaques no empate em 0 a 0 com o Sevilla que garantiu os bávaros nas semifinais da Liga dos Campeões. Saiu de campo aos 41 minutos do segundo tempo ovacionado pelos torcedores na Allianz Arena.
— Quebra-galho bom (como lateral-esquerdo), com um canhoto na esquerda para ter alguma profundidade. Se tiver um destro lá, complica bem, fica todo mundo batendo cabeça e cortando para dentro — defende Sérgio Xavier Filho.
A tendência é que Rafinha seja mesmo titular da lateral direita gremista. Mas sua carreira mostra que, mesmo circunstancialmente, o jogador pode ser uma espécie de curinga no time de Tiago Nunes. Vai depender do técnico.