O Grêmio vai encerrar a turbulenta e estendida temporada de 2020 decidindo o título da Copa do Brasil, competição que marcou o primeiro passo deste ciclo vitorioso sob o comando do ídolo Renato Portaluppi. Em busca do hexa, o Tricolor irá reencontrar neste domingo (28), às 21h, na Arena, rivais daquela campanha do penta. Adversário na final deste ano, o Palmeiras foi batido pelo time gaúcho nas quartas de final do torneio em 2016. Antes disso, o Grêmio havia passado pelo Athletico-PR em uma emocionante disputa por pênaltis na qual Marcelo Grohe saiu de vilão a herói justamente ao defender a cobrança de Weverton, agora goleiro do Palmeiras, que teve a chance de eliminar o Tricolor parada nas mãos do ex-camisa 1 gremista.
Se em 2016 o desafio era colocar fim a um incômodo jejum de 15 anos sem um grande título, agora levantar a taça significa terminar em alta uma temporada marcada por oscilações. Assim entrará o Grêmio em campo neste domingo, com o passado como inspiração para uma nova glória.
Os remanescentes
Além de Renato Portaluppi, o Grêmio ainda conta no elenco com jogadores que fizeram parte do time pentacampeão da Copa do Brasil. Titulares da equipe ao longo desses quatro anos e meio, os zagueiros Geromel e Kannemann e o volante Maicon se consolidaram como pilares desse ciclo vitorioso gremista. Mais que isso, são quase a representação do treinador dentro de campo sendo atualmente os três principais capitães gremistas.
O longo ciclo, porém, também cobra seu preço. Geromel e Maicon já atingiram os 35 anos e tiveram a temporada marcada por problemas físicos. Por uma lesão no tornozelo esquerdo sofrida no último Gre-Nal, no final de janeiro, o zagueiro está fora da final contra o Palmeiras. Já Maicon recebeu um tratamento especial da comissão técnica nas últimas semanas. O camisa 8 convive com um problema crônico no joelho esquerdo e precisa dosar suas atividades. Depois de sofrer uma lesão muscular antes do jogo contra o Santos pelas quartas de final da Libertadores, no início de dezembro, ele voltou a iniciar uma partida na goleada de 5 a 2 sobre o Botafogo, no último dia 8, quando ficou em campo por 57 minutos.
A ideia de Renato era aumentar progressivamente a minutagem do jogador visando à final da Copa do Brasil. Maicon, no entanto, sentiu dores na partida seguinte, a derrota para o São Paulo há duas semanas, quando foi substituído ainda no intervalo. Desde então, o volante não participou de nenhum jogo e dificilmente terá condições de atuar os 90 minutos diante do Palmeiras.
Dos remanescentes de 2016, Kannemann é o único que chega em 100% das condições para a decisão. Sem Geromel, o argentino terá a missão de liderar a defesa gremista e também passar confiança para seu parceiro de zaga. Embora ainda não tenha sido confirmado por Renato, a tendência é de que Paulo Miranda seja o titular.
Multicampeão pelo Grêmio nos anos 1990, o ex-volante Luís Carlos Goiano afirma que jogadores com histórico vencedor no clube são fundamentais para uma decisão.
— Eles são referências, do clube, do vestiário, do treinador. O Grêmio tem muitos jogadores da base, que convivem no elenco há muito tempo com eles. Esse tipo de atleta acaba sendo referência para o jovem e para quem chega. Mesmo você não esteja em suas condições ideais, ainda é mentalmente muito forte. O físico pode deixar um pouco a desejar, mas a força mental compensa. Aí que entra a importância de mesclar com jovens. O mais importante é ter a qualidade, independente da idade. O Maicon é um jogador muito forte mentalmente e que pode levantar essa força mental dos companheiros — avalia.
Além de Maicon, Kannemann e Geromel, um outro titular da Copa do Brasil de 2016 ainda está no vestiário gremista. O ex-lateral-esquerdo Marcelo Oliveira agora ocupa o cargo de coordenador e tem a função fazer a ligação entre comissão técnica e jogadores Também resolve problemas, apara arestas e tem o cuidado de ser um conselheiro dos atletas, até mesmo dos mais experientes. Em entrevista recente a Zero Hora, ele contou o diálogo que teve com Maicon sobre os problemas físicos do volante.
—Eu converso muito com o Maicon, que é um grande amigo. Ele se cobra muito, quer sempre ajudar, pela liderança, pela história, pelo futebol. Quando está em campo, é uma qualidade enorme. O Maicon está com a cabeça boa e está se preparando — disse projetando a final da Copa do Brasil.
Mais uma final para Renato
Da última vez que o Grêmio chegou à final da Copa do Brasil, em 2016, Renato Portaluppi estava há dois meses no cargo. Foi o sopro de novidade que renovou o espírito do vestiário na busca pelo título que tiraria o clube da fila de 15 anos sem conquistas. Agora, em 2021, o ídolo gremista ostenta a marca de ser o treinador mais longevo do futebol nacional. Porém, antes de abrir os confrontos decisivos com o Palmeiras, tem sua permanência debatida nos corredores da Arena.
Ao abrir conversas para renovar o contrato de seu comandante por mais uma temporada, a diretoria tricolor tinha a esperança de resolver o assunto antes de entrar em campo, neste domingo. Entretanto, ao que tudo indica, o mistério se estenderá por mais alguns dias.
— Não conversei ainda com o Renato sobre isso, mas nosso desejo é de ficar. Estamos aqui há quatro anos e meio, todo ano nós carimbamos um título. Somos felizes aqui, somos bem tratados. A intenção é de ficar. A definição pode ser um pouco mais para frente. Acredito eu que o detalhe do acerto vai ocorrer — afirmou o auxiliar técnico Alexandre Mendes, responsável por conduzir a equipe contra o Bragantino, na última rodada do Brasileirão.
Neste momento, o que pesa na balança é a proposta de um salário maior e a promessa de montar um time mais competitivo em Minas Gerais. Vítima daquela final de quatro anos atrás, o Atlético-MG viu o argentino Jorge Sampaoli rumar para a França - anunciado nesta sexta como reforço do Olympique de Marselha. No mesmo dia, os mineiros informaram que deixarão o gaúcho Lucas Gonçalves, auxiliar permanente do clube, à frente da equipe que estreará no campeonato estadual, já neste domingo, contra o URT.
— Nós vamos ter a calma, sem ser lentos, dentro de uma rapidez, sem ser de forma apressada — desconversou o diretor-executivo Rodrigo Caetano em uma entrevista coletiva nesta semana.
— Por conta da classificação de forma direta para a fase de grupos da Libertadores, nosso entendimento é que teremos tempo necessário para a escolha. O projeto do Galo é de médio a longo prazo. Então, a ideia é termos um técnico para dar continuidade a tudo que foi feito de bom até aqui e, tomara Deus, dar continuidade à sua metodologia — concluiu.
A situação se assemelha ao que o Tricolor viveu em 2019. Naquela ocasião, o ídolo gremista tinha uma proposta do Flamengo em mãos, mas aguardou o desfecho do Gauchão, que terminou com título sobre o Brasil-Pel, para anunciar sua permanência. Desta vez, porém, o Rubro-Negro não está no páreo, como chegou a se aventar.
— É quase impossível ver um cenário favorável a uma chegada do Renato neste momento. Depois da conquista do Brasileirão, o Rogério Ceni tem um ambiente bem mais favorável para dar continuidade ao contrato que ele tem com o clube, até dezembro de 2021. Inclusive, ele já deu 18 dias de folga ao elenco e, então, fará o planejamento da temporada com os dirigentes. Se tivesse ocorrido uma tragédia, com o vice-campeonato, o Flamengo até pensaria na mudança. Mas, como foi campeão, Rogério continua e o Renato perdeu a hora do trem — sentencia Renan Moura, repórter da Rádio Globo, do Rio de Janeiro.
Portanto, Portaluppi terá de escolher onde irá morar a partir da segunda semana de março: se no mesmo hotel em que vive há quase cinco anos, na zona norte de Porto Alegre, ou em Minas Gerais.