Há mais de um mês o Grêmio não sabe o que é perder. Diante do Cuiabá, o Tricolor chegou a 11 jogos de invencibilidade, com oito vitórias consecutivas. Mas nem todas essas atuações foram de encher os olhos. Contra o Juventude, em Caxias do Sul, por exemplo, a equipe terminou a partida com apenas 38% de posse de bola, apostando nos contra-ataques. Nos últimos quatro compromissos, entretanto, os jogadores voltaram a apresentar um futebol que lembra aquele que levou o clube aos títulos recentes sob o comando de Renato Portaluppi, com troca de passes e domínio sobre o adversário.
A volta de Jean Pyerre ao time, após uma série de lesões, foi a principal novidade individual no Grêmio. A presença do meia que agora veste a camisa 10 na equipe, porém, veio acompanhada de alterações na mecânica de jogo do time que potencializaram a criação ofensiva e a face goleadora de Diego Souza.
— Muita gente fala que o Grêmio não muda, que tem sempre o mesmo esquema. O Grêmio tem feito muitas coisas diferentes. Se eu falar o que fizemos de diferente, vou alertar os adversários. O importante é que o que o time está fazendo dentro do campo e está bem treinado — declarou Renato após a vitória sobre o Ceará, considerada por ele a melhor atuação gremista na temporada.
A nova movimentação passa pelo comportamento dos laterais. Utilizados para carregar a bola anteriormente, os dois passaram a subir ao mesmo tempo, alargando o campo como alas. Na defesa, o volante Matheus Henrique recua para iniciar a construção das jogadas com os zagueiros, na chamada "saída de três". Logo à frente, Darlan e Jean Pyerre se aproximam para fazer a bola girar pela faixa central.
Essa subida simultânea dos laterais para a amplitude tem reflexo direto na movimentação dos atacantes. Os homens de lado, como Pepê, Luiz Fernando, Ferreira e Everton, não permanecem mais cravados nas pontas e descem para ajudar na triangulação trabalhando na entrelinha adversária.
— As coisas estão conectadas. O Jean Pyerre é um meia clássico, que consegue ficar com a bola mais tempo e vê espaços que os outros não enxergam. O Renato puxou os atacantes para dentro, o que permite ao Diego Souza sair e tabelar, algo que ele sempre fez bem —destaca o analista tático do ge.com Leonardo Miranda.
— Os rendimentos de jogadores como Diego Souza, Pepê e outros do setor sobem no momento que você tem mais gente nesse entorno da área. Os atacantes de lado agora estão sempre flutuando nas entrelinhas e mais próximos do Diego Souza. Com os pontas abertos, os laterais até aparecem por dentro, mas como construtores e não na entrelinha. O Grêmio está preenchendo melhor a entrada da área adversária — analisa Raphael Rezende, comentarista dos canais SporTV, que observa que a movimentação ofensiva passa pela iniciação das jogadas desde a defesa.
— A grande questão é gerar superioridade numérica na saída. O Rogério Ceni usava o goleiro nessa saída no Fortaleza, mas é mais comum com o recuo do volante. A ideia é gerar superioridade. Você aumenta as linhas de passe e tem mais opções para sair. Só que isso precisa ser treinado. Não é apenas os três atrás, mas tem a mecânica. É fundamental você ter os meias interiores aparecendo para gerar as linhas de passe — completa.
A nova mecânica de jogo do Grêmio tem se refletido em sucesso ofensivo. Mais participativo aparecendo pela faixa central, Pepê aumentou seu potencial criativo. Contra o Cuiabá, por exemplo, ele foi autor das assistências para os gols de Diego Souza, mas não perdeu o caráter artilheiro. Nas últimas quatro partidas, anotou dois gols, ambos finalizando de dentro da pequena área.
Já Diego Souza voltou a ser o goleador dos melhores momentos da temporada. Poupado contra o Fluminense, o centroavante marcou quatro gols nos últimos três jogos, mais do que havia feito em suas 12 partidas anteriores - quando balançou as redes três vezes.
Com uma nova forma de jogar, o Grêmio irá a São Paulo encarar o Corinthians, no domingo (22), em busca de uma vaga no G-4 no Brasileirão. Quatro dias depois será a vez de encarar o Guaraní, no Paraguai, pelas oitavas de final da Libertadores.
Como jogava antes
Mesmo sem Jean Pyerre, o Grêmio jogou no 4-2-3-1 diante do Juventude, em Caxias do Sul, mas com uma forma de atacar diferente. Os pontas ficavam abertos e os laterais muitas vezes apareciam por dentro. Os atacantes de lado buscavam a profundidade ou faziam o facão para dentro com a bola.
Como joga agora
As jogadas do Grêmio se iniciam com o recuo de Matheus Henrique entre os zagueiros e o avanço dos laterais, que passaram a subir ao mesmo tempo, alargando o campo. Com eles aberto, os atacantes de lado trabalham mais pela faixa central, próximos de Diego Souza gerando superioridade na frente da área rival.