O "novo" Grêmio ainda busca algum resquício do "velho" Grêmio. O time que Renato Portaluppi tanto gosta, e faz questão de enfatizar, que envolvia os adversários trocando passes e movimentando suas peças, que procurava o gol mesmo depois de abrir uma vantagem e que apresentava repertório variado, deu lugar a uma equipe mais pragmática, que não se envergonha de baixar as linhas e esperar o momento para contra-atacar.
O problema é que a versão 2020 da equipe ainda não achou o equilíbrio entre as ações ofensivas e a proteção defensiva.
Um recorte grosso modo: o Grêmio com dois volantes e um meia, o do 4-2-3-1, ataca bem, mas fica vulnerável atrás. O Grêmio do tripé de volantes, o do 4-1-4-1, reduz o poderio ofensivo, mas corre menos riscos. E nenhuma das duas versões conseguiu fixar-se como a preferida, ou a mais confiável.
Neste domingo (11), contra o Santos na Vila Belmiro, Renato ganha uma possibilidade nova. A presença de Maicon dá ao treinador a chance de encontrar o equilíbrio que busca entre seus dois sistemas de jogo, o 4-1-4-1 e o 4-2-3-1. O camisa 8 pode atuar tanto na função de segundo volante quanto na de armador mais adiantado.
Há bons e maus exemplos do time nas duas formações, o que é reflexo também da quantidade de jogos. Ultimamente, o segundo modelo tem sido o mais repetido, normalmente partindo de Lucas Silva centralizado e dois apoiadores mais móveis, como Matheus Henrique e Darlan.
A melhor exibição foi contra a Universidad Católica. O time sofreu pouco atrás, permitiu apenas duas conclusões na direção do gol e das seis finalizações certas, marcou duas vezes. Para isso, deixou que os chilenos tivessem a bola. O Grêmio teve posse por menos de um terço do tempo e deu metade dos passes do adversário.
Mas esse mesmo estilo de jogo não funcionou contra o Atlético-MG. O Grêmio até deu mais passes e ficou com a bola mais tempo, mas o atual líder do Brasileirão triplicou o número de finalizações para chegar aos 3 a 1. Não houve, portanto, acréscimo defensivo considerável.
O 4-2-3-1, modelo que o Grêmio adotou nos anos vitoriosos recentes, ainda está na retina como o ideal. O time controlava os jogos e envolvia os adversários.
— O Grêmio deu esse prazer para a gente em 2017, ver um time que gostava da bola e jogava verticalmente, que era rápido e letal quando atacava. Mas para isso, Maicon precisa estar bem, é ele quem dita o ritmo do time. Maicon e Matheus Henrique são peças essenciais — alertou o ex-atacante Paulo Nunes.
Usado até pouco mais de um mês atrás, o esquema fazia do Grêmio um time que controlava mais o jogo com a bola. Mas isso nem sempre significava bons resultados. Há uma partida que ilustra esse problema. Em 3 de setembro, contra o Sport, a equipe trocou 680 passes nos mais de 72% o tempo que manteve a posse. Só marcou um gol, viu os pernambucanos fazerem dois e se encherem de contra-ataques.
Em compensação, neste modelo, o time teve superioridade contra o Caxias, na primeira partida da final do Gauchão. Tabelou mais do que o adversário, chutou o triplo de vezes e só viu três bolas irem na direção de seu gol (sendo uma delas anulada pelo VAR).
— Estamos nos adaptando ao novo jeito, tentamos absorver o que o Renato pede. Deveríamos ter mais tempo para treinar, mas são muitos jogos então tentamos melhorar no dia a dia — comentou o zagueiro David Braz.
Com o retorno de Maicon, o treinador poderá até variar o esquema dentro do próprio jogo. Mesmo que o camisa 8 funcione melhor como volante, ele tem a experiência e o conhecimento para atuar mais adiantado se for necessário. O próprio Renato afirmou que, com o retorno gradual de seus jogadores, terá material humano para aumentar o repertório e fazer o Grêmio decolar. A promessa é de que até o final do primeiro turno, a equipe estará nas posições de cima da tabela.
Quando funcionou
4-2-3-1
Caxias 0x2 Grêmio (Gauchão)
6 conclusões a gol
2 finalizações do adversário
581 passes certos
63% de posse de bola
4-1-4-1
Grêmio 2x0 Universidad Católica (Libertadores)
6 chutes a gol
2 finalizações do adversário
280 passes certos
32% de posse de bola
Quando não funcionou
4-2-3-1
Grêmio 1x1 Fortaleza (Brasileirão)
3 conclusões a gol
2 finalizações do adversário
532 passes certos
57% de posse de bola
4-1-4-1
Atlético-MG 3x1 Grêmio (Brasileirão)
4 chutes a gol
6 finalizações certas do adversário (20 no total)
408 passes certos
46% de posse de bola