Contratado de última hora, quando o Grêmio já estava nas semifinais da Libertadores, em 2017, o meio-campista Cícero era o chamado reforço de ocasião. Havia rescindido com o São Paulo e, livre no mercado, chegaria apenas pelo salário a Porto Alegre para os três meses mais intensos de sua carreira.
Por que intensos? Como o próprio atleta relata, tinha pouco tempo para se preparar para dois jogos — que poderiam virar quatro caso o Grêmio passasse pelo Barcelona de Guayaquil e avançasse às finais da Libertadores. Já que o período de inscrições do Campeonato Brasileiro estava encerrado, e ele já havia disputado 10 jogos pelo São Paulo, chegou ao clube gaúcho com uma única missão: ajudar a equipe a buscar o tri da América.
— Enfrentei essa situação como um grande desafio na minha vida e, lógico, uma oportunidade que o Grêmio estava me dando — conta Cícero à GaúchaZH.
Quem teve papel importante nessa chegada ao Tricolor foi o técnico Renato Portaluppi, que havia treinado o meio-campista no Fluminense 10 anos antes. Juntos, foram campeões da Copa do Brasil de 2007 e deixaram escapar o título da Libertadores do ano seguinte na final, nos pênaltis, em duelo com a LDU. Até mesmo por isso, a conquista pelo Grêmio, em 2017, novamente sob o comando de Renato, teve um sabor especial.
— Esse título ganhou o dobro de importância para mim, porque em 2008 a gente fez tudo o que podia. A equipe toda estava muito bem, tiramos São Paulo, Boca Juniors, duas equipes fortíssimas, candidatas a serem campeões, aí a gente pega uma LDU com uma altitude lá no primeiro jogo. A gente até conseguiu ainda fazer dois gols (na derrota por 4 a 2, no Equador). Depois, no Maracanã, jogamos muito bem, corremos atrás e conseguimos fazer o possível e impossível naquele jogo, mas não deu — recorda Cícero, que valoriza a conquista com a camisa do Grêmio:
— Faltou levantar o troféu em 2008, mas pelo menos consegui em 2017. E levantei podendo ficar marcado na história do clube fazendo um gol na final. Por isso, com certeza, é o título mais importante da minha carreira.
Aliás, sobre o gol marcado na final, diz não ter palavras para explicar o sentimento no momento em que balançou a rede na Arena. A vibração da torcida, o abraço dos companheiros, o alívio pela vantagem que o time levaria para a Argentina, tudo isso passou pela cabeça do jogador em segundos.
— Foi uma sensação indescritível. Parei no campo e fiquei pensando: "caramba, olha o que a gente conseguiu proporcionar, ainda mais eu que fiz o gol". Foi uma coisa muito boa, que nem consigo explicar. Foi de arrepiar — diz o camisa 27 do Grêmio na final da Libertadores de 2017.
Ter chegado naquela reta final me deixou muito motivado, porque faltavam três meses para acabar a temporada. Eu estava bem preparado, focado.
CÍCERO
campeão pelo Grêmio em 2017
Nos dois jogos anteriores, contra o Barcelona-EQU, recorda que perdeu gols que poderiam ter dado maior tranquilidade à equipe naqueles duelos da semifinal. Quando o time avançou a decisão, sabia que algo maior estava reservado.
— Perdi uns gols que poderia ter feito. Ainda bem que não influenciou em nada, porque a equipe acabou classificando. Eu tinha quatro jogos, dois de semifinal e dois de final, e pude fazer um dos gols mais importantes da história recente do clube. Poderia ter perdido cinco gols, 10, mas fazendo aquele gol, pela importância e no momento que foi, isso me deixa muito realizado. Na hora que precisou, o meu pezinho estava lá para a gente conseguir conquistar esse feito — destaca Cícero.
Hoje, aos 35 anos, Cícero segue a carreira no Botafogo. Garante, no entanto, que a passagem pelo Grêmio, apesar de curta — durou um ano e três meses, entre o fim de 2017 e todo 2018 — foi intensa. Além da Libertadores, conquistou com a camisa gremista uma Recopa Sul-Americana, em que marcou na decisão por pênaltis contra o Independiente, da Argentina, e um Campeonato Gaúcho, em que fez o primeiro gol da vitória por 3 a 0 contra o Brasil-Pel, no Bento Feitas, na partida decisiva.
Assim, cumpriu a missão com a qual havia se comprometido na chegada a Porto Alegre. Fez história no Grêmio, venceu a Libertadores ao lado de Renato Portaluppi e teve seu nome eternizado na história do Tricolor. Até mesmo por isso, diz que nutre um carinho especial pelo clube.
— Certas coisas na vida não têm preço. O Grêmio está guardado na minha história, até por ter conquistado tantos títulos. Graças a Deus pude deixar minha marca no clube, porque como o Renato sempre nos falava: "estamos no futebol para ganhar títulos. Não podemos passar pelos clubes só por passar. Temos de lutar para ganhar títulos". Com certeza ver a minha foto junto com a dos outros campeões de 2017 lá no clube é algo que me orgulha muita — finaliza Cícero.