Ídolo e capitão do Grêmio, o zagueiro Pedro Geromel, 34 anos, estará em campo no Gre-Nal histórico da próxima quinta-feira (12), o primeiro válido pela Libertadores. Plenamente recuperado da lesão no joelho após cirurgia em janeiro, o atleta esteve em campo nas vitórias sobre Juventude e América de Cali e se diz pronto para encarar o maior rival na principal competição entre clubes do continente na semana que vem.
— Será uma experiência surreal — disse o camisa 3, em entrevista exclusiva ao Grupo RBS na manhã desta sexta-feira (6).
O jogador não participou do treino da tarde e sequer deverá viajar ao sul do Estado para o duelo com o Pelotas, na Boca do Lobo, no domingo (8). Ainda que tenha sido substituído por Paulo Miranda aos 35 minutos do segundo tempo na partida na Colômbia, ele garante que está em condições ideais de jogo:
— Estou 100% já. Joguei os últimos dois jogos e está tudo normal.
Com a garantia do capitão em campo, o retrospecto do Grêmio é favorável diante do Inter. Foram 14 jogos, com cinco vitórias, sete empates e duas derrotas — aproveitamento de 52,38%. Ele esteve, inclusive, no Gre-Nal do 5 a 0. Para ele, no entanto, quinta-feira que vem, na Arena, qualquer vitória será bem-vinda.
— Meio a zero está valendo — disse Geromel.

Confira a entrevista
Na próxima quinta-feira, ocorrerá um Gre-Nal histórico pela Libertadores. Qual a expectativa para esse jogo?
Estamos focados em conseguir a vitória contra o Pelotas. Jogamos contra eles no primeiro jogo da temporada, com time alternativo ainda, pelo fato de ser a primeira partida, que até valia troféu (Recopa Gaúcha). A gente quer essa vitória, que será importante para a continuidade no Gaúcho. Depois, sim, vamos iniciar a preparação completamente focados no jogo de quinta-feira, pela Libertadores, contra o Inter.
Você já disputou 14 Gre-Nais. É um dos atletas do grupo gremista que mais enfrentou o Inter. Que peso tem o clássico para quem está dentro de campo?
A gente sabe que Gre-Nal é sempre um campeonato à parte. Tem a questão dos torcedores, que, aqui no Sul, ou você é gremista ou colorado. Sabemos da importância que tem para o nosso torcedor. Entrará para a história por ser o primeiro Gre-Nal pela Libertadores.
Acho que é o maior clássico do Brasil, se não for um dos maiores do mundo"
GEROMEL
sobre o Gre-Nal
Você teve experiência em Portugal, na Alemanha e na Espanha. O Gre-Nal é o maior clássico que você já disputou?
Com certeza. De longe. Acho que é o maior clássico do Brasil, se não for um dos maiores do mundo.
O que faz esse clássico ser tão grande?
O tamanho dos dois clubes. O Grêmio, nos últimos anos, está sempre entre os melhores da Libertadores. Chegamos em três semifinais, temos três títulos. Assim como o Inter, que nas últimas décadas tem conquistado bastantes títulos. O Gre-Nal da Libertadores, com certeza, será uma experiência surreal.
No Gre-Nal pelo returno do Brasileirão de 2019 você marcou um gol. Pensa em marcar mais gols em Gre-Nais?
Não me preocupo com isso. O importante é a gente não tomar. Como zagueiro, essa é a minha preocupação número um.

A defesa do Grêmio teve sucesso para parar o centroavante Paolo Guerrero, do Inter. O que é preciso fazer para conter um jogador como ele?
O Guerrero é um jogador fenomenal, já demonstrou a sua capacidade em muitos clubes. Tive a oportunidade de jogar contra ele na Alemanha e sempre deu muito trabalho. É um jogador muito bom, que sabe usar muito bem o corpo. A gente se prepara igual nos preparamos para qualquer jogo. No último, por exemplo, lá na Colômbia, assistimos aos vídeos, estudamos o adversário. E, mais do que isso, a gente se empenha dentro do campo e temos de estar concentrados o jogo todo. Não é uma coisa fácil. Precisa estar ligado, concentrado, dando sempre o seu melhor. Não pode vacilar nenhum segundo, senão atacantes como o Guerrero fazem a diferença.
O que deu para perceber de mudança no Inter desde a chegada do Eduardo Coudet?
Principalmente no último jogo, eles tiveram uma intensidade muito elevada, correram muito, competiram. Essa é uma marca desde que enfrentamos o Coudet ainda pelo Rosario Central, a gente sentiu essa característica.
Você é um zagueiro que costuma sair jogando com a bola no chão. Esse tipo de adversário acaba sendo mais perigoso?
Temos o exemplo da Universidad Católica, que tentou sair jogando umas duas, três vezes e o Inter acabou se aproveitando e fez os gols. A gente sempre tenta sair jogando, mas sem correr riscos desnecessários.
Meio a zero está valendo, porque sabemos que será um jogo muito difícil"
GEROMEL
sobre o Gre-Nal
O clássico do 5 a 0 ficou marcado na história. São outros tempos ou dá para pensar em um placar elástico novamente?
Hoje em dia Grêmio e Inter estão muito acirrados. Fizemos um jogo lá no Beira-Rio no começo do ano pelo Estadual e foi 1 a 0, sendo que poderia ter sido empate e até mesmo uma vitória do Inter. Então a gente sabe que, se quisermos sair com a vitória, meio a zero está valendo. Sabemos que será um jogo muito difícil, complicado e vamos fazer o nosso melhor, sem pensar nesses resultados.
A dupla Geromel e Kannemann se consolidou nos últimos anos como uma das melhores do continente. O que dá para dizer dos zagueiros do Inter, Victor Cuesta e Bruno Fuchs?
O Bruno Fuchs está começando agora, é um jogador de muita qualidade. Tem um passe muito bom, inicia muitas jogadas de ataque. Já Victor Cuesta não é o primeiro ano, nem o segundo, que ele vem fazendo campeonatos muito sólidos, jogando muita bola. Ele e Moledo formavam uma zaga muito forte há pelos menos dois anos. Então tem tudo para ser um grande confronto.
Aos 34 anos, você tem muito tempo de futebol europeu, Copa do Mundo pela Seleção Brasileira, uma Libertadores, uma Copa do Brasil, dois Estaduais pelo Grêmio. O que você ainda almeja para a carreira? Sonha com mais uma Libertadores?
É como se fosse a primeira. Jogar a Libertadores é um sonho e a gente não pode perder nunca essa vontade de estar conquistando, ganhando, porque senão acabamos ficando sem propósito. Aí não serve mais para jogar no Grêmio. Em um grande clube, você é sempre cobrado e tem de estar se cobrando para estar bem fisicamente, fazendo o seu melhor, ganhando jogos e disputando títulos. E é isso que eu espero fazer sempre no Grêmio.
Jogar na Arena é sempre uma coisa fenomenal, não tem preço você entrar no campo e ver a Geral gritando, a torcida te apoiando"
GEROMEL
sobre jogar no Grêmio
Muito do que tu construiu na carreira foi aqui no Grêmio. O que esse clube representa para ti?
O Grêmio, primeiramente, abriu as portas do Brasil para mim. Aos 17 anos fui para a Europa, fiquei 10 anos lá e nunca tive essa visibilidade por parte dos meus amigos, da minha família, e o Grêmio me deu essa oportunidade. Por isso, vou ser eternamente grato. Além, claro, de ter consolidado a minha carreira, ter me dado a chance de jogar na Seleção, conquistado títulos. Tenho um carinho muito grande pelo Grêmio, pela torcida. Jogar na Arena é sempre uma coisa fenomenal, não tem preço você entrar no campo e ver a Geral gritando, a torcida te apoiando, estar ali no túnel naquela ansiedade, isso é maravilhoso. Espero continuar fazendo isso por muitos anos.
No ano passado, você herdou a braçadeira de capitão do Maicon. Pesa muito?
Em 2017, já tive essa experiência. Quando o Felipão era treinador, e o Rhodolfo foi embora, também virei capitão. A gente sempre fez mais ou menos um rodízio eu e o Maicon. A gente divide essa liderança. Usar essa braçadeira para mim é um privilégio, uma honra ser o jogador que usa a faixa de capitão de um clube tão grande quanto o Grêmio.

Em uma entrevista que fizemos com o Kannemann, ele falou que você é o cara mais brincalhão do grupo. O que você pode falar sobre essa parceria? Como você faz para ser descontraído fora de campo e sério dentro das quatro linhas?
O fato de termos conquistado muitos títulos nos últimos anos é claramente pelo nosso ambiente de trabalho. O grupo que a gente formou aqui no Grêmio é muito competitivo, que gosta de ganhar e se cobra muito. Mas todo mundo se dá bem, são pessoas muito boas, que ajudam umas às outras, de solidariedade, parceria e isso a gente consegue transportar para dentro do campo. Claro, dentro das quatro linas, é diferente. Aprendi lá fora, na Europa, porque essa é uma diferença que os europeus têm, a frieza, a concentração no jogo todo, de levar isso a sério como uma profissão e ser um profissional integral o tempo todo. Acho que isso tudo que aprendi lá fora consegui trazer aqui para o Brasil e fez com que eu tivesse o sucesso que estou tendo.
O Grêmio fez sete contratações para o grupo profissional na temporada. Um deles, o Lucas Silva, está formando um tripé de volantes ao lado do Maicon e do Matheus Henrique. Muda muito para ti ter três volantes na sua frente?
Mudar. Mas, sobre as questões táticas, é melhor perguntar para o Renato, porque o meu negócio é jogar bola. Também gostaria de ressaltar que treinamos todas essas questões táticas. Por isso temos treinos com portões fechados, para o Renato treinar com a gente, mostrar o que quer de nós. Tudo isso é treinado previamente. Não é sorte estarmos ganhando.
Você iniciou o ano com uma lesão, fez uma cirurgia e agora quem está se recuperando de um procedimento cirúrgico é o Kannemann. Qual a expectativa para o retorno dessa dupla?
O Grêmio está muito bem servido de zagueiros. Tanto eu quanto o Kannemann, o Paulo Miranda, o David Braz, temos qualidade para suprir as necessidades. Assim como os jogadores novos, que vêm da base, como o Rodrigues e até mesmo o Ruan, que vem subindo e está treinando com a gente desde o início do ano. São jogadores de muito futuro no Grêmio. Eu estou 100% já. Joguei as últimas duas partidas e está tudo normal.
Como um dos jogadores mais experientes da equipe, o que você conversa com os atletas mais jovens para tentar ajudá-los?
Converso muito com eles, passo tudo o que vivi. Muitas coisa do que eles estão fazendo eu falo que não é bem esse caminho que deveriam tomar, explico que daqui a pouco eles podem bater a cabeça. Digo sempre para eles pensarem o que vão fazer antes de tomar uma decisão. Eles ouvem a gente, pelo respeito, pela história e a carreira que temos no clube e na vida. Esses meninos estão começando e espero ajudá-los. Dentro de campo, falo muito com o Ruan e o Rodrigues, em termos de marcação, de posicionamento, do corpo, de como se movimentar, de ser sempre intenso. A maior dificuldade deles é o fato de não estarem concentrados o tempo todo. Chega no treino e eles estão descontraídos. Como o Kannemann referiu, dentro do vestiário eu sou descontraído, fico brincando sempre, mas, quando entro no campo levo, as coisas a sério. Automação, treinamento, isso tudo é importante para chegar no jogo e você fazer igual. Às vezes os meninos têm essa dificuldade.
Essa concentração e foco no jogo foi algo que você adquiriu no futebol europeu?
Isso parte da cultura. Os jogadores lá fora são muito mais regrados, mais conscientes. A gente, como tem o talento, a qualidade, acha que só com isso vai chegar e negligencia um pouquinho a parte física, a parte tática e o futebol moderno não permite mais isso. Estamos em uma fase de transição dos jogadores que não se cuidam fora do campo, que não têm uma vida regrada, que não são 100% atletas, não estão mais conseguindo fazer a diferença dentro do campo. O futebol brasileiro está evoluindo. A gente tem exemplos como o Flamengo, que está na excelência, conseguindo juntar as duas partes, muita técnica e muita qualidade com vontade, tática e físico. Acho que o nosso futebol está evoluindo e espero que o Brasil volte a conquistar títulos importantes.
Falando em Flamengo, no ano passado o Grêmio teve uma derrota marcante contra essa equipe. O que dá para fazer de diferente neste ano para tentar superá-los?
Não tenho capacidade para pensar a longo prazo assim. Só consigo pensar no curto prazo, senão me atrapalho. Agora estou focado no Gauchão, na Libertadores, passar pela fase de grupos, começar bem o Campeonato Brasileiro, passo a passo, e depois pensamos nisso.
Cheguei aqui, passei maus bocados, sei como é difícil, mas nesse momento não abaixei a cabeça e agora também não vou ficar com o nariz empinado. Sei que tenho de manter os pés no chão e trabalhar para continuar nessa vibe positiva"
GEROMEL
sobre idolatria no Grêmio
Você se transformou em um dos grandes ídolos da história do Grêmio, tanto que a torcida te deu apelidos como Geromito, Geromonstro e Gerodeus. Como você avalia isso? Fica emocionado?
É gratificante ter o seu trabalho reconhecido. Acho que todo profissional, vocês, inclusive, gostam de ter o trabalho reconhecido. Eu não sou diferente. Continuo com os pés no chão, trabalhando muito. Sei que consegui tudo isso com muito trabalho. Cheguei aqui, passei maus bocados, sei como é difícil, mas não abaixei a cabeça e agora também não vou ficar com o nariz empinado. Sei que tenho de manter os pés no chão e trabalhar para continuar nessa vibe positiva.
Geromel em Gre-Nais
- 14 jogos
- 5 vitórias
- 7 empates
- 2 derrotas
- 1 gol
- 18 gols marcados pelo Grêmio
- 6 gols sofridos pelo Tricolor
Títulos pelo Grêmio
- Copa do Brasil (2016)
- Libertadores (2017)
- Recopa Sul-Americana (2018)
- Campeonato Gaúcho (2018 e 2019)
- Recopa Gaúcha (2019)
Prêmios individuais
- Melhor zagueiro do Campeonato Português: 2007/2008
- Bola de Prata: 2015, 2016, 2017 e 2018
- Seleção do Campeonato Gaúcho: 2016, 2017, 2018 e 2019
- Seleção do Brasileirão: 2016, 2017 e 2018
- Rei da América, do jornal El País, como melhor zagueiro da América: 2017 e 2018