O preparo físico pode ser uma vantagem importante do Grêmio na semifinal da Libertadores, contra o Flamengo, nesta quarta-feira (2). Ao contrário de Renato Portaluppi, que sempre preserva todos os titulares gremistas antes dos jogos decisivos, o técnico Jorge Jesus tem o hábito de utilizar força máxima em todas as partidas, mesmo correndo o risco de alguns atletas sentirem desgaste. Isso ocorre por conta de uma convicção particular do treinador português.
Em primeiro lugar, existe a influência de uma cultura europeia de valorizar os campeonatos nacionais. Para Jorge Jesus, tricampeão português pelo Benfica, é importante encerrar seu primeiro semestre no Brasil conquistando o Brasileirão, onde o Flamengo é líder. Além disso, o português prefere contar sempre com os melhores jogadores. Para o treinador, é preferível ter o jogador de melhor nível técnico, ainda que com algum desgaste, do que substituí-lo por um atleta de nível inferior, mesmo que este último esteja melhor fisicamente.
— Jorge Jesus acha que a questão técnica prevalece muitas vezes sobre a questão física. No início, até existia uma relação um pouco difícil entre o treinador e o departamento médico por conta disso. Mas, hoje, há uma sintonia maior. Tanto que os resultados estão aparecendo — relata o repórter Renan Moura, setorista do Flamengo da Rádio Globo, do Rio de Janeiro.
No empate por 0 a 0 com o São Paulo, no último sábado, Jesus surpreendeu e decidiu preservar três titulares, os laterais Rafinha e Filipe Luís e o meia Gerson. Ainda assim, os três entraram na equipe no segundo tempo. Ao final da partida, o Flamengo estava com a sua equipe ideal. Enquanto isso, Renato escalou uma equipe totalmente reserva na derrota do Grêmio por 2 a 1 para o Fluminense, no domingo (29).
Usar um time totalmente reserva ou alternativo é algo que Jesus nunca fez. Antes da 22ª rodada, o técnico português reforçou sua convicção de colocar sempre o que tem de melhor.
— O Grêmio vai poupar jogadores, mas nós não faremos isso. Acreditamos muito no que a equipe é capaz de fazer. Os nossos atletas não estão dando sinais de fadiga, e estamos com a possibilidade de conquistar as duas competições. Não podemos abdicar do título do Brasileirão e dar prioridade só para um campeonato —disse Jesus.
Na única derrota do Flamengo no Brasileirão sob o comando do português, o desgaste físico foi apontado pela imprensa carioca como um problema da equipe. No jogo contra o Bahia, no dia 4 de agosto, o treinador ignorou o cansaço dos laterais Rafinha e Filipe Luís e do atacante Bruno Henrique. Com os três em campo, acabou sendo goleado por 3 a 0.
Os jogadores do Flamengo defendem a estratégia do comandante. Com 15 anos de experiência na Europa e campeão holandês, inglês e espanhol, por Ajax, Chelsea e Atlético de Madrid, o lateral Filipe Luís também é adepto da visão europeia de valorizar o campeonato nacional.
— Não temos por que poupar. Estamos lutando por duas competições —resumiu o experiente lateral de 34 anos.
O Grêmio defende a estratégia de poupar os titulares antes dos jogos decisivos, ainda que o time acabe, por vezes, perdendo pontos importantes. O diretor de futebol Alberto Guerra lembra que este planejamento deu certo nas últimas temporadas.
— São riscos que a gente assume. No ano passado, nós poupamos e fomos muito bem. Em 2017, também fizemos isso e fomos campeões da Libertadores. O Flamengo, no ano passado, não poupou e acabou se desgastando em todas as competições. Mas essa estratégia deles tem dado certo agora. Cada clube sabe o que melhor lhe convém. Para nós, parece importante essa forma de agir — disse Guerra.
Os jogadores do Flamengo, no entanto, descartam o risco de entrarem em campo desgastados na Arena, mesmo que os titulares do Grêmio tenham descansado no fim de semana.
— Cada clube adota a sua estrategia. Nós temos um departamento médico e de fisiologia que consegue ver quem está mais cansado. Acredito que vai estar todo mundo inteiro — declarou o meia-atacante Everton Ribeiro.
Já o zagueiro Rodrigo Caio acredita que o fato de o jogo de quarta ser uma decisão importante tira o impacto da questão física.
— Neste momento, não existe cansaço. É um jogo decisivo. Vamos fazer o nosso melhor. Tenho certeza de que estaremos bastante preparados —completou.