Aos 70 anos, Luiz Felipe Scolari se reciclou. Multicampeão no futebol brasileiro e na Seleção, o treinador teve o seu trabalho colocado em xeque após a derrota por 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo de 2014. Cinco anos depois, Felipão mudou e mostra que ainda é um vencedor. Mais tranquilo e delegando mais tarefas, o profissional conta com um novo fiel escudeiro, o auxiliar gaúcho Paulo Turra, campeão gaúcho pelo Caxias em 2000. Após a conquista do Brasileirão 2018, a experiência do técnico é um dos principais trunfos do Palmeiras na busca por uma vitória sobre o Grêmio, nesta terça (27), e pelo título da Libertadores.
— Trabalhei com o Luiz Felipe nos anos 1990 e o visitei recentemente no CT do Palmeiras. A principal mudança que notei é a comissão técnica. O Paulo Turra veio com uma mentalidade diferente, mais jovem e com um trabalho diferenciado, juntamente com o Carlos Pracidelli, com uma cabeça diferente da do nosso amigo Murtosa (ex-auxiliar). O Felipão tem hoje uma estrutura adaptada ao conhecimento dele. E mudou também a sua parte emocional. Hoje, o Luiz Felipe é um treinador mais tranquilo e mais sereno. Não tem mais aquela ansiedade de bater de frente e de ser aquele cara turrão — avalia o ex-goleiro do Palmeiras Sérgio, campeão da Libertadores em 1999 sob o comando do técnico.
Conhecido historicamente por se envolver em polêmicas com a imprensa e com os adversários, Felipão ainda está longe de ser um amigo dos jornalistas ou de abusar de sorrisos nas entrevistas. Porém, está mais calmo do que nos anos 1990.
— O Felipão hoje está mais tranquilo do que na nossa época. Até por ser um cara vencedor e que conquistou praticamente todos os seus objetivos na carreira. Hoje, pelo que eu vejo, eu diria que ele está um pouco mais tranquilo. Mas continua com o seu espírito de luta. Tira o máximo dos atletas e motiva muito os seus jogadores — opina o ex-volante Galeano, também campeão da Libertadores de 1999 pelo Palmeiras.
Os profissionais de imprensa que acompanham o dia a dia do clube paulista destacam a participação do auxiliar técnico Paulo Turra, ex-zagueiro do Caxias e do Palmeiras, nos trabalhos táticos. Além disso, observam que o treinador está menos centralizador e delega mais tarefa para os auxiliares.
— Eu cobri o Palmeiras de 2011 com o Felipão e observo uma mudança importante na sua rotina. Mais experiente, ele passa a delegar muitos poderes e muitas funções para outros integrantes da comissão, especialmente o Paulo Turra. É ele quem comanda a maior parte dos treinos táticos, cabendo ao Felipão apenas detalhes de posicionamento ou conversas com os jogadores. Ele se espelha em Alex Ferguson, que delegava muitas funções ao Carlos Queiroz no Manchester United. Vejo um Felipão mais calmo, menos agressivo e dividindo funções — relata o repórter Gustavo Zupak, setorista do Palmeiras da Rádio Globo, de São Paulo.
Na sua última passagem pelo Grêmio, entre 2014 e 2015, Felipão tinha como auxiliares Murtosa e Ivo Wortmann. Desde a sua passagem pelo Guangzhoiu Evergrande, na China, o treinador passou a trabalhar com Paulo Turra e com Carlos Pracidelli, que já havia atuado com o treinador como preparador de goleiros.
— O Felipão precisava do Palmeiras para mostrar o grande treinador que ele é. E o clube precisava dele. Este casamento perfeito fez o Felipão voltar a ter o respeito que ele nunca deveria ter perdido. Os resultados ocorreram muito graças ao trabalho do Felipão. Ele, o Paulo Turra e o Carlos Pracidelli formam um trio que se entende muito bem. O Felipão ouve muito o Paulo Turra e dá o toque dele com a experiência e o respeito que os jogadores têm com ele — complementa o jornalista André Hernan, repórter da TV Globo e do SporTV.