A cerimônia de inauguração da estátua de Renato Portaluppi não terminou no instante em que o monumento foi apresentado ao público e que o treinador foi abraçar a multidão. Após o evento, que contou com a presença de mais de 8 mil torcedores, o homenageado da noite ainda foi conceder entrevista coletiva e, mais uma vez, se emocionou. Apesar disso, o bom-humor característico de suas entrevistas apareceu logo no início, já que a primeira pergunta foi: "Se ganhar mais, vai pedir o quê?".
— Um aumento — brincou o treinador. Que completou:
— Não pediria mais um aumento, não pediria nada. Eu só tenho a agradecer. É o que eu falo diariamente para os meus jogadores. Agradeçam o clube que vocês estão trabalhando. O clube em que o presidente proporciona tudo do bom e do melhor e, merecidamente, vocês têm tudo isso. Por quê? Porque dentro de campo, vocês estão correspondendo. Vocês podem ter certeza que a gente trabalha diariamente, do presidente ao roupeiro, para conquistar títulos.
Logo em seguida, Renato afirmou que ser eternizado com uma estátua na história do Grêmio, clube do seu coração, é o maior título da sua carreira.
— Eu faço parte da história do clube, como muitos jogadores já fizeram e outros vão fazer. Meu grupo, atualmente, faz. Eu me sinto honrado por essa homenagem. Como eu falei ali em cima, volto a repetir, não tem palavras. Toda a semana, eu falo para os meus jogadores que é importante fazer história no clube. E faz história no clube quem é campeão. Então, tive o privilégio de lá atrás, desde 1980, conquistar muitos títulos. E agora, na minha volta, em 2010, ajudei o clube a conquistar títulos. Mas podem ter certeza de que o meu maior título foi o que ganhei hoje. É uma homenagem que não tem palavras. Ser eternizado por um clube como o Grêmio, um dos maiores do mundo, é difícil. Quando eu falo que é difícil, quando coloco aquelas lágrimas que vêm do coração sem querer forçar nada, é difícil explicar. Eu acho que todas as pessoas do planeta gostariam de estar no meu lugar. Isso que me honra. Procuro honrar sempre meus pais, minha família e o clube. Hoje, quando eu saí do hotel, eu abracei minha filha e falei que estava nervoso. A ficha não cai. Eu me sinto muito honrado e agradeço muito ao clube e ao nosso torcedor — afirmou emocionado.
Confira os trechos da coletiva de Renato:
A escolha do gesto da comemoração de braços abertos em Tóquio
"Foi um gesto do maior título que o Grêmio conquistou. Aquele gesto, com os braços abertos, é como se eu tivesse abraçando todo o nosso grupo, toda nossa torcida. Então, essa foi a imagem que eu pedi para que eles fizessem na estátua para homenagear todo mundo. Um abraço é infinito. Você abraça quantas pessoas você quiser. Foi por isso que pedi a estátua assim. Nós estávamos lá em Tóquio, mas o torcedor, acima de tudo, podia se sentir abraçado por mim."
Relação com a torcida:
"Não tem palavras. Eu praticamente me criei como jogador aqui dentro do Grêmio. Joguei em vários outros grandes clubes, fui ídolo por onde passei, mas nunca neguei que sempre fui gremista. E isso é de coração, por tudo o que o clube fez por mim e me ajudou. Dentro de campo, eu sempre procurei recompensar esse carinho procurando ganhar títulos. É aquela coisa de amor de pai pra filho, de mãe pra filho. Não tem como explicar. Eu posso trabalhar em outros grandes clubes, mas o Grêmio sempre vai estar comigo. É de coração quando falo que, se o Grêmio não existisse na minha vida, não sei o que seria. Tudo o que eu tenho na vida, dou valor. Se eu tenho, agradeço ao Grêmio. O Grêmio está sempre, e vai estar sempre, no meu coração."
O que falaria para o Renato criança?
"Quando era garotinho, criança, eu sonhava em ser um jogador de futebol. Onde iria chegar, é difícil, ninguém imagina. Mas esse era o meu pensamento, ganhar dinheiro para poder ajudar minha família. É um orgulho que eu tenho. E esse conselho eu dou pra todo mundo, para que não façam besteira, joguem futebol, para que levem a profissão a sério, ajudem suas famílias. Seus pais vão estar muito orgulhosos de vocês. Por isso, hoje citei mais uma vez meus pais. Apesar de meu pai ser colorado e minha família toda ser gremista, eu sempre o respeitei. Pai é um só. Assim como mãe. Eu sempre procurei dar o máximo de mim para ajudar os meus pais. Como todos vocês têm seus pais, ninguém esquece. Quando eu corria atrás das coisas que eu queria na vida, era sempre para, acima de tudo, ajudar minha família. E eu consegui. Mas com trabalho. Nada caiu do céu pra mim. Filhos, querem seus sonhos? Corram atrás. Esse é o conselho que eu dou para vocês. Muita gente entra para um caminho que não tem volta. Se vocês querem vencer na vida de jogador, têm que levar a sério. E eu levei. Porque, no início, eu queria ajudar minha família. Hoje, meu maior orgulho é ter ajudado. Ajudei meus pais, meus irmãos. E hoje, mais do que nunca, queria meus pais aqui. Mas sei que eles estão me aplaudindo e se sentindo orgulhosos do filho que tiveram. Essas lágrimas, eu não tenho vergonha de chorar. Eu sou muito orgulhoso e agradecido por eles terem me colocado no mundo, por terem me colocado com uma camisa como esta. Muitos não sabem o que representa um clube de futebol, com milhões de torcedores que sofrem, vibram e torcem pela gente. Isso é sempre um conselho que dou para os meus jogadores. Aproveito para falar para os filhos: escutem seus pais, obedeçam seus pais. Os pais sempre querem o melhor para seus filhos, e isso eu aprendi com os meus."
Sobre a aparência da estátua
"Eu preciso dar os parabéns para eles (artistas), o trabalho foi longo, duradouro, mas foi muito bonito. Um trabalho que a gente conversou. Trocávamos ideias, sempre procuramos fazer o melhor possível. Sempre brinquei com eles: tentem me deixar feio. E aquela frase: você jogava para c... A estátua saiu do jeito que a gente conversou. Deixando as brincadeiras de lado, o bonito foi o gesto. Aquele gesto que pedi pra eles, como se eu tivesse abraçando todo mundo."
Sobre estar na história do Grêmio
"Não tem palavras. Sou muito grato ao clube. Sei que, dentro de campo, sempre procurei buscar o melhor para o clube buscando título. Agora, como treinador, ajudei buscando mais títulos. Mas é uma homenagem que é eterna. Estou eternizado em um dos maiores clubes do mundo. Hoje, quando eu estava no hotel com minha filha, ela disse: quando, papai, que vou ser eternizada? Eu respondi que ela estava eternizada no meu coração. Eu sei que estou eternizado nos corações dos tricolores. Não tem palavras."
Sobre o abraço nos torcedores
"Eu quero que o torcedor saiba que aquelas pessoas que eu estava abraçando ali simbolizavam toda a torcida do Grêmio. Infelizmente, eu não posso abraçar todo mundo. Fiz questão de ir pra torcida porque devo muito a ela. Mas podem ter certeza que aquele abraço foi uma forma de abraçar a todos. Dentro do clube, do presidente ao roupeiro, e lá fora, os torcedores que estão espalhados no Brasil todo e no mundo todo. Um abraço nessa torcida toda que sempre me abraçou."
É o dia mais importante da sua vida no futebol?
"Sim. É meu coração que está falando. Não tem, em termos de minha profissão, um momento maior do que esse. Eu conquistei muitos títulos como jogador e treinador neste clube, mas sem dúvida nenhuma, o maior título que tive foi hoje. Sendo homenageado desta forma, com uma estátua maravilhosa, sendo eternizado. Este título, realmente, é inesquecível. Eternizado... fala por si próprio. Sim, na minha profissão, foi o dia mais importante da minha vida."
Vai colocar as imagens da inauguração da estátua no DVD?
"Se eu colocar essa história no meu DVD, tem jogador que vai pirar. Às vezes, eu brinco com meus jogadores. Passo confiança pra eles. Eu sei o que eu fui dentro das quatro linhas. Às vezes até exagero na cobrança em alguns jogadores porque eu quero ganhar sempre. Mas pode ter certeza de que, no meu DVD, vão aparecer as imagens de hoje e as de gols."