As primeiras rodadas do Gauchão estabeleceram uma briga acirrada no meio-campo do Grêmio. Principal surpresa do time com boas atuações no início do ano, Marinho tornou-se forte concorrente do argentino Walter Montoya, trazido por empréstimo do Cruz Azul, do México, pela vaga deixada por Ramiro, que transferiu-se ao Corinthians.
A amostra inicial dos dois neste ano tem sido acima do esperado. Até o momento, Marinho atuou em quatro partidas, contra Novo Hamburgo e Aimoré, junto aos reservas, e frente a Juventude e São Luiz, escalado entre os titulares. Marcou dois gols — o primeiro logo na estreia, no Estádio do Vale, com somente 15 segundos em campo, e outro frente ao time de Ijuí, na Arena, em chute forte de fora da área que entrou no ângulo do goleiro.
Mostrou-se muito mais participativo do que no ano passado, quando foi comprado por R$ 9 milhões junto ao Changchun Yatai, da China, e não correspondeu à expectativa da comissão técnica. Além disso, Marinho busca reconquistar o torcedor após o vídeo polêmico vazado em dezembro, no qual ele se oferecia ao Flamengo.
Por outro lado, Montoya trata de correr atrás do tempo perdido. O argentino estava sem entrar em campo havia mais de três meses, desde 20 de outubro, quando fez sua última partida pelo Cruz Azul no Apertura Mexicano. Por conta disso, trabalhou junto ao preparador físico Rogério Dias para retomar sua condição física. Desde seu primeiro treino, em 6 de janeiro, até a estreia, no dia 31, foram 25 dias de atividade intensa na pré-temporada realizada no CT Luiz Carvalho. O esforço deu resultado quando ele entrou em campo contra o São Luiz. Teve boa movimentação nos 30 minutos em que ficou em campo e foi recompensado com um gol em chute cruzado da entrada da área, mostrando suas credenciais. O que agradou a Renato.
— Montoya chegou bem abaixo na parte física, porque ficou algum tempo parado. Por isso, temos de ter cuidado ao colocá-lo em campo. Vamos soltá-lo aos poucos, o início do ano é um período difícil para o técnico, temos de ter cautela para não perder ninguém (por lesão). O Marinho também está se comportando bem em campo. Tem muita qualidade, digo a ele para usar as ferramentas que tem a seu favor — avaliou o técnico gremista.
A disputa entre Marinho e Montoya ganhará corpo em fevereiro. Afinal, o Grêmio terá três jogos pelo Gauchão, contra Avenida, Brasil-Pel e Veranópolis, antes da estreia na Libertadores, em 6 de março, contra o Rosario Central, na Argentina. Até lá, os dois tendem a estar com o desempenho físico já nivelado. Assim, Renato poderá optar pela cadência de Montoya, que foi revelado pelo rival argentino, ou pela explosão de Marinho para compor sua estratégia de jogo no Estádio Gigante de Arroyito.
— Tanto Marinho quanto Montoya são jogadores de qualidade nas jogadas individuais e bom poder de finalização. O primeiro tem mais vantagem na velocidade, na força explosiva, na transição rápida e na penetração na área. Já o segundo é um jogador de último passe, de articulação e de armação de jogadas. Por isso, a opção do Renato deverá levar em conta as características do adversário — comenta Marcelo Rospide, ex-auxiliar do Grêmio que hoje faz parte da comissão técnica de Lisca no Ceará.
Multicampeão com Grêmio nos anos 1990, Carlos Miguel vê Montoya como opção mais equilibrada para Renato utilizar no início da Libertadores. Além de conhecer o Rosario como poucos, o argentino, na avaliação do ex-meia, é o que mais se aproxima das características de Ramiro.
— Montoya joga pela direita e tem mais criatividade. Em termos de marcação, também recompõe melhor. Dentro do que o Ramiro fazia, ele se adapta um pouco melhor. São duas propostas diferentes. Marinho é um atacante de velocidade, força. A entrada dele deixa o time mais ofensivo e agressivo. Já com o Montoya, Renato manteria o meio-campo mais equilibrado — avalia Carlos Miguel, que também lembra de Alisson, meia que sofreu lesão no joelho direito contra o Novo Hamburgo e voltará aos treinos no final do mês:
— Ele foi muito importante na Libertadores do ano passado. O Renato conta muito com o Alisson, que pode surpreender e pegar esta vaga lá na frente.
Ex-meia com passagem pelo Grêmio e hoje técnico de futebol, Marcelo Mabília também vê diferenças entre os estilos de Montoya e Marinho.
— O Marinho nós já conhecemos bem. É um meia atacante agudo, de drible em velocidade, um jogador vertical que pode jogar por dentro e pelos lados com força e velocidade. Tem facilidade na jogada individual e sabe fazer gols de dentro e de fora da área — diz Mabília, que também avalia as qualidades do argentino:
— O Montoya me parece mais tático, um preenchedor de espaços que troca passes curtos. Esse estilo casa com as características do Grêmio. Me parece que, se usar ele pelo lado,
o Renato terá um substituto para o Ramiro que tem mais presença na área.