A torcida gremista despediu-se nesta quarta-feira (5) de um dos seus maiores ídolos. José Tarciso de Sousa, mais conhecido como Tarciso Flecha Negra, morreu aos 67 anos, em Porto Alegre. Vereador da Capital desde 2008, ele estava internado no Hospital São Lucas da PUCRS com quadro de tumor ósseo.
— Foi inesperado. Ele voltou ontem (terça-feira, 4) para o hospital com um tumor ósseo. Ainda não temos mais detalhes — disse a filha do ex-jogador Gabriela Sousa.
Em comunicado via rede social, o perfil oficial do Grêmio informou que o velório do ex-jogador será na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, a partir das 8h desta quarta-feira. O sepultamento será no Cemitério Jardim da Paz, a partir das 18h.
Histórico ponta-direita do Grêmio, o ex-atleta nasceu em São Geraldo, no interior de Minas Gerais, mas deu início a sua carreira no futebol no Rio de Janeiro, com a camisa do América, em 1970, ainda como centroavante. Três anos depois, transferiu-se para Porto Alegre, onde passou a atuar pelo lado do campo.
No Rio Grande do Sul, fez história. Tanto que ostenta um recorde invejável: foi o jogador que mais vestiu a camisa tricolor, com incríveis 721 jogos pelo clube, ao longo de 13 anos — de 1973 a 1985. Além disso, Tarciso marcou 226 gols e conquistou títulos marcantes, como o Campeonato Brasileiro de 1981, a Libertadores de 1983 e o Mundial daquele mesmo ano. Foram também cinco títulos gaúchos como jogador gremista.
Como o próprio apelido sugere, Flecha Negra era um atleta habilidoso e extremamente veloz. Mas ele sofreu quando chegou ao clube. Como lembrou em entrevista ao jornalista Leonardo Oliveira, de GaúchaZH, no ano passado, passou quatro temporadas na capital gaúcha apanhando de Elias Figueroa, zagueiro e ídolo colorado à época. Recordou, inclusive, de um clássico Gre-Nal em que o cotovelo do chileno acertou o seu nariz e, depois, levou outra pancada do ex-atleta colorado. Quando foi até o árbitro suplicar por um cartão ao adversário, ouviu apenas um: "Vai jogar!"
— Figueroa tinha muito moral com a imprensa. Com os árbitros, se impunha no grito. Nosso time, ao contrário, evitava polêmicas. Se nos deixassem quietos, já estava bom. Aquilo já fazia com que entrássemos inferiorizados nos clássicos — contou Tarciso na ocasião.
Diante de tantos títulos expressivos que conquistou com a camisa gremista, se pudesse destacar apenas um deles, seria o Gauchão de 1977. O Inter vinha de oito títulos estaduais consecutivos e, na final, era favorito a erguer a taça dentro do Estádio Olímpico. Quando a partida estava 0 a 0, o atacante teve a chance de colocar a equipe em vantagem em uma cobrança de pênalti, mas perdeu. Imaginou que a tragédia estava anunciada, mas ouviu do velho amigo André Catimba, centroavante do Grêmio naquela decisão:
— Vamos ser campeões, e eu vou fazer o gol.
Vinte minutos depois a profecia do seu companheiro de ataque se confirmou: Grêmio 1 a 0 e, enfim, campeão. Um título que ficou marcado na lembrança de Tarciso:
— Essa conquista mudou a vida do Grêmio. E também modificou a minha vida.
Vida essa que se mistura com o Tricolor até mesmo na data de nascimento. Se o Grêmio foi fundado em 15 de setembro de 1903, Tarciso nasceu 48 anos depois, no mesmo dia, para tornar-se um dos jogadores mais vitoriosos da história do Imortal Tricolor — que, agora, lembrará da flecha que por mais tempo honrou o manto azul, branco e preto.
Em 2017, Tarciso participou do programa Cardápio do Zé, com o jornalista José Alberto Andrade. Confira abaixo como foi o encontro: