Não, não foram os títulos que fizeram de José Tarciso de Sousa um dos maiores ídolos do Grêmio e do esporte gaúcho. Nem a marca talvez insuperável de jogador que mais vezes vestiu a camisa tricolor. Menos ainda a vice-artilharia, atrás apenas de Alcindo Bugre. O legado que o Flecha Negra, ponteiro nato, nos deixa ao partir ainda jovem, aos 67 anos, resume-se a uma palavra: persistência.
Tarciso foi o campeão da persistência em seus 13 anos de Grêmio. A forma como ele jamais abdicou do sonho de colocar faixa no clube que se tornou o seu de coração o aproxima de todo o brasileiro. Não era desistir fácil.
Ele chegou ao Grêmio em 1973, após o América-RJ vencer o Inter com um gol seu, após uma arrancada incrível. A velocidade era sua marcar registrada, daí o apelido conferido pelo narrador Haroldo de Souza. Era um período de dureza para o Grêmio, que não ganhava bem torneio de canastra. A década de 1970 foi de ampla hegemonia do Inter. Tarciso só foi erguer a primeira taça, a do Gauchão de 1977, evitando o nono seguido do rival, em sua quinta temporada no Olímpico.
Comeu o pão que o diabo amassou, portanto, antes de provar o glorioso banquete.
Ele foi persistente, e só por ter persistido, enfrentando críticas e não saindo do clube, apesar das chances de respirar novos ares em meio a tantas derrotas, é que Tarciso atravessa a tempestade até experimentar a bonança de ser campeão brasileiro (1981) e da Libertadores e do Mundo (1983).
Tarciso caiu várias vezes, e em todas elas se ergueu mais forte. Tornou-se multicampeão por isso. Levou esta virtude para os três mandatos de vereador, jamais abrindo mão de trabalhar com projetos sociais, especialmente na educação.
Eis o legado que José Tarciso de Sousa nos deixa, para além de ganhar ou perder jogos, de levantar ou não troféus: o de jamais desistir.