Faltando alguns detalhes, é dada como certa a ida do goleiro Marcelo Grohe ao Al-Ittihad, da Arábia Saudita. Depois de 19 anos defendendo o arco do Grêmio, Grohe é um ídolo que já figura no Panteão dos Grandes Goleiros Tricolores, ao lado de Eurico Lara, Mazarópi e Danrlei. Mas, por razões provincianas e apaixonadas, querem transformá-lo em vilão.
Parte da torcida gremista sempre teve um pé atrás com o goleiro, e não há como descolar essa "rejeição" da fatídica coluna de Paulo Sant'Ana na Zero Hora, em 2012, que iniciou uma onda de dúvidas sobre a carreira do goleiro até 2014, quando o próprio Sant'Ana se redimiu e se rendeu ao goleiro gremista.
Seja como reserva de Galatto na Série B, do argentino Saja, de Victor e de Dida, Marcelo foi criando cicatrizes que o prepararam para ser o jogador mais regular e decisivo do Grêmio nos últimos três anos. Sim, ao meu ver, Grohe foi mais decisivo que Luan, Arthur ou Everton nos recentes títulos gremistas.
Pense comigo: o começo do domínio anímico de um jogo passa por não levar gols. Quando a partida ainda está 0 a 0 e o adversário pressiona, a figura do goleiro é fundamental. Uma defesa importante em um momento difícil dá ao time a força para buscar a vitória. É um ativo que não tem preço, pois é imaterial.
Quantas defesas difíceis e/ou importantes Marcelo Grohe fez quando o jogo ainda estava empatado em zero e o Grêmio sofria pressão adversária? Além disso, Marcelo manteve a regularidade de fazer pelo menos UMA defesa difícil — o chamado "milagre" — por jogo. Não por acaso ganhou a alcunha de "MilaGrohe".
Liberdade de escolha
Agora, com tantos anos de serviços prestados, Marcelo tem a possibilidade de conhecer uma nova cultura, um novo lugar, novos desafios. E, principalmente, ganhar um salário que jamais ganharia no Grêmio. Em nenhuma profissão no mundo pode-se proibir o profissional de buscar novos desafios e melhorar seus ingressos. No futebol, as pessoas pensam que isso é diferente. Mas não é.
Motivados por esse ranço antigo e por um sentimento apaixonado — afinal, ele, torcedor, jamais abandonaria seu time do coração — há, agora, uma onda para tentar transformar Grohe em um vilão que ele jamais será. Como se ele tivesse "forçado" a saída do clube que foi sua casa durante todo esse tempo.
Despedir-se de um ídolo nunca é fácil. Mas Marcelo Grohe merece as conquistas profissionais que alcança. Pelo futebol jogado em campo, pelo relacionamento com o grupo e pelo comportamento fora de campo. Um goleiro que veste melhor as roupas de herói. E as de vilão, apenas para os adversários que enfrentou.