Foi no CT Luiz Carvalho, que virou praticamente a segunda casa de Renato Portaluppi em Porto Alegre, que o técnico anunciou nesta quinta-feira (29) para a direção do Grêmio que seguirá no clube em 2019. Após recusar as investidas dos candidatos à presidência do Flamengo, ele deu seu sim ao presidente Romildo Bolzan em uma reunião no início da tarde, que modificou a rotina do centro de treinamentos do clube.
O encontro se iniciou por volta das 14h, contando também com a presença do vice de futebol Duda Kroeff, do CEO Carlos Amodeo, do diretor Deco Nascimento e do executivo André Zanotta. Além do próprio Renato, seu empresário, Gerson Oldenburg, também participava da mesa de negociações. O acordo tinha sido definido no final da manhã, após reunião de Oldenburg e Amodeo. A notícia do acerto, divulgada em primeira mão pelo repórter Eduardo Gabardo, no programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha, no início da tarde, fez com que uma leva de jornalistas rumasse ao CT.
O entra e sai de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos, que buscavam um registro da reunião, logo transformou a recepção em sala de imprensa. O diretor de futebol Alberto Guerra, que chegou ao local em meio ao encontro, teve de passar por um emaranhado de câmeras para conseguir chegar à sala em que o futuro de Renato era selado. Às 16h, o assessor de imprensa João Paulo Fontoura logo anunciou entrevista coletiva de Bolzan e Kroeff. Minutos depois, o presidente fez seu pronunciamento.
— Chegamos a um acordo para renovação com o Renato por mais um ano. Vamos dar continuidade ao trabalho, o que era um desejo tanto dele como nosso. Vamos terminar o mandato no final do ano que vem com a mesma direção de futebol, a mesma presidência e a mesma comissão técnica. Vamos em busca de mais títulos em 2019 — discursou Bolzan.
O presidente promete um grupo ainda mais forte para a próxima temporada. Fala em contratar de quatro a cinco reforços em nível de titularidade. Nesta sexta (30), uma nova reunião, somente com a comissão técnica e a direção de futebol, começará a traçar o planejamento para o ano que vem. Ao fim da tarde, após o treino, é aguardada uma entrevista coletiva de Renato no CT Luiz Carvalho, que continuará sendo sua segunda casa na Capital em 2019.
Os sete capítulos da novela:
1) Primeiro não ao Fla
A novela que se encerrou quinta-feira entre Grêmio, Flamengo e Renato Portaluppi teve seu primeiro capítulo ainda em abril. Em meio às finais do Gauchão, o técnico recebeu uma proposta que, segundo ele próprio, seria de "dois caminhões de dinheiro" para assumir o clube carioca, que recém havia demitido Paulo César Carpegiani.
Mesmo balançado com os altos valores ofertados e a possibilidade de voltar a trabalhar no Rio, cidade na qual mantém apartamento na praia de Ipanema e sempre se sentiu em casa, decidiu permanecer em Porto Alegre para tentar o bicampeonato da Libertadores. Após a conquista do título estadual sobre o Brasil-Pel, o treinador teve seu primeiro "dia do fico" neste ano. Anunciou, rodeado de jornalistas, no gramado do Estádio Bento Freitas, que não deixaria o Grêmio, no mínimo, até o final de 2018.
2) Novo assédio carioca
Após ter sua tentativa frustrada, o Flamengo voltou à carga na busca por Renato no início de novembro. Após a eliminação do Grêmio na semifinal da Libertadores, para o River Plate, o candidato à presidência que concorre pela chapa da situação, Ricardo Lomba, o atual vice de futebol da gestão em exercício que havia feito a proposta em abril, voltou a procurá-lo.
Depois, o concorrente da oposição, Rodolfo Landim, também entrou em contato para apresentar sua proposta. Paralelamente, a direção gremista também já tinha iniciado tratativas para renovar com Renato. Segundo o presidente Romildo Bolzan, era o reconhecimento ao trabalho bem feito nos últimos dois anos.
— Queríamos reafirmar que o que tinha sido feito até aqui estava correto. Já estávamos trabalhando no ambiente de continuidade — explica Bolzan.
3) Proposta do Grêmio
Em 10 de novembro, o Grêmio colocou no papel sua primeira proposta oficial para renovar com Renato. Em reunião no hotel Deville, onde o treinador reside, Bolzan fez questão de entregar pessoalmente o documento a Renato. O assunto ficou em espera nos dias seguintes por conta do intenso calendário de jogos da equipe no Brasileirão.
Na semana passada, antes da partida com o Flamengo no Maracanã, Bolzan teve nova reunião na concentração tricolor no Rio para discutir os termos da negociação. Por conta de questões logísticas, já que a delegação rumaria a Salvador para enfrentar o Vitória no domingo seguinte, o grupo permaneceu quase toda a semana na capital carioca.
Os treinos, no entanto, ocorreram no CT do Fluminense. Mesmo assim, a simples presença de Renato na cidade alimentou os rumores de que ele poderia acertar-se com o Flamengo. Em meio ao jogo no Maracanã, o técnico teve seu nome aplaudido pela torcida rival.
A aceitação das arquibancadas foi decisiva para que as duas principais chapas que concorrem à presidência do Fla intensificassem as conversas para contratá-lo para 2019.
4) Vazamento
O ambiente de especulação no Rio sobre um acerto de Renato com as principais chapas que concorrem à presidência do Flamengo teve seu clímax na última terça-feira, dia 27. O colunista do jornal Extra, Gilmar Ferreira, garantiu que o treinador tinha aceitado as duas propostas dos candidatos e que comandaria a equipe carioca na próxima temporada. A direção do Grêmio, no entanto, dizia não ter sido informada do acordo. Mesmo que soubesse das ofertas do Flamengo, o clube gaúcho mantinha a confiança na palavra do treinador e otimismo em sua renovação.
— O Renato nunca nos escondeu que tinha proposta do Flamengo e foi correto todo o tempo conosco. Nunca deixou de ser claro. Mesmo assim, dizia que a preferência dele era o Grêmio e que desejava ficar — observou Romildo Bolzan.
5) Contraproposta
Também na terça-feira, o empresário de Renato apresentou uma contraproposta para renovar em reunião com o CEO do Grêmio, Carlos Amodeo. Em meio às crescentes especulações no Rio de que o técnico já teria dado o sim ao Flamengo, a direção gremista interpretava a disposição do treinador em manter a negociação como um sinal claro de que a novela poderia ter um final feliz em azul, preto e branco.
— Esse ambiente criado no Rio foi especulativo e tomou uma proporção muito maior do que o que realmente correspondia aos fatos. O Renato nos falou sobre a proposta. Mas também dizia que queria seguir no Grêmio. Foi superestimado o noticiário do Rio. Mantivemos conversas recíprocas, normais. Deu o resultado que deu. Eles também fizeram investida em abril, mas fizemos, nas duas vezes, a manutenção do Renato aqui — salientou Bolzan.
6) Irritação
Renato, que, no máximo, admitia estudar uma proposta do Flamengo, incomodou-se em saber que, no Rio, o acerto já era dado como certo pelas duas chapas que disputarão a presidência em dia 8 de dezembro. Um vazamento, em especial, tirou o treinador do sério.
Ele soube, ainda na manhã de ontem, de uma investida do Flamengo para contratar o zagueiro Kannemann. Seria uma movimentação normal de mercado se pessoas ligadas ao clube do Rio não tivessem dito que o próprio treinador havia indicado o argentino. Renato irritou-se. Disse a amigos próximos que jamais recomendaria um jogador sem ter assinado contrato com outro clube. Entendeu que lhe faltaria no Rio a lealdade que desfruta no Grêmio. E decidiu ficar.
7) Renovação
As reuniões entre o empresário de Renato e o CEO Carlos Amodeo se intensificaram desde terça-feira. Na quarta-feira e também quinta de manhã ocorreram novos encontros que alinhavaram as expectativas financeiras das partes. No início da tarde, um novo encontro, desta vez no CT Luiz Carvalho e também com a presença de Romildo Bolzan, do vice de futebol Duda Kroeff, do diretor Deco Nascimento e o executivo André Zanotta, além do próprio Renato, definiu o sim do técnico ao Grêmio para 2019.
— Quando concluímos a negociação, nos abraçamos. Beijei a mão dele, ele beijou a minha e também a do Duda. Estamos juntos, vamos para mais um ano — disse Bolzan, que ainda brincou sobre o beijo na testa que recebeu do técnico nas últimas conquistas de títulos.
— A careca é restrita aos campeonatos — sorriu.