Apesar das fotos divulgadas depois do show da cantora Shakira assustarem, o Grêmio tem a garantia de que o gramado da Arena estará em perfeito estado para receber a semifinal da Libertadores na próxima terça-feira (30). Neste caso, o fator tranquilizador foi o tratamento dado. Quadrados de grama (de 50cm por 50cm) foram recortados para que as bases do palco pudessem ficar presas ao solo. No dia seguinte, a grama foi replantada.
— Foi uma solução que criamos. Desenvolvemos, inclusive, as ferramentas. Vimos técnicas parecidas em outros estádios e as evoluímos aqui - assegurou o diretor de operações da Arena Porto-Alegrense, Paulo Rossi.
Acontece que situação da casa gremista é mais complexa do que em outros locais. Há estádios onde existe um espaço com grama artificial ao redor do campo de jogo. São os casos de Mineirão, Maracanã e Beira-Rio - que receberam ou vão receber a turnê do músico britânico Roger Waters.
— Para o show desta terça-feira (30), o palco será montado em cima da grama sintética. Estamos conversando com a Brio (empresa que administra o Beira-Rio) e com a produtora para o dano ser o menor possível - relata Léo Centeno Júnior, vice-presidente de patrimônio do Inter.
Entretanto, é inevitável que a aparência assuste. Foi o caso do Mineirão que, menos de 48 horas depois do espetáculo do ex-integrante do Pink Floyd, abrigou Cruzeiro e Ceará, pelo Campeonato Brasileiro.
— Quando acabou o show, já tinha gente desmontando o palco. Algumas peças saíram antes das pessoas do estádio. Nós afofamos o terreno com máquinas próprias, penteamos a grama, para permitir a jogabilidade - descreve Otávio Góes, gerente técnico do estádio.
Caso semelhante é relatado no Maracanã. Para amenizar sustos na hora do jogo, inúmeras reuniões são feitas antes da assinatura do contrato para exigir que o estádio seja entregue em condições de jogo.
— Pedimos para que não se prejudique o sistema de irrigação e as camadas do gramado. Tem sempre o impacto visual, uma diferença de coloração da grama, mas o importante é que o gramado ofereça jogabilidade. Ou seja, a bola tem que rolar de forma adequada, o gramado não ficar desnivelado - afirma o presidente do consórcio Maracanã S.A., Mauro Darzé.
Calendário e cobertura pós-reforma
Gauchão, Copa do Brasil, Brasileirão, Libertadores e Recopa Sul-Americana. Se o Grêmio reclama da quantidade de jogos durante a temporada, imagine no Rio de Janeiro, onde quatro clubes (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo) se revezam na utilização do Maracanã.
— Além dos cuidados necessários, temos como plano a substituição da grama de maneira que não prejudique o calendário. Nós temos uma fazenda a 200 quilômetros do estádio, com uma grama plantada nas mesmas condições do Maracanã, para substituirmos o gramado que não consegue se recuperar de um jogo para outro. Nenhum estádio da Europa recebe tanto jogo como a gente. Somente em 2017, foram 43 partidas - ilustra Darzé.
Outra diferença cultural do futebol brasileiro para o europeu, que se reflete nas condições do gramado, está nos trabalhos com portões fechados no local da partida. Na Espanha ou Alemanha, por exemplo, as atividades de preparação só acontecem nos Centros de Treinamentos.
— Não teria problema nenhum se fosse como antigamente, com sol. A cada treino, jogo do sub-23 ou do futebol feminino, o gramado é castigado. Com a reforma, o Beira-Rio ficou mais quente, bate menos vento - relata Léo Centeno Júnior.
Se as estruturas de aço fizeram a altura do Beira-Rio aumentar para 34 metros, o que dizer então da Arena gremista, que possui 12 metros a mais? Há dias em que simplesmente o sol não bate, o que impede que a grama renasça de maneira natural. Mas essa não é uma particularidade apenas do Rio Grande do Sul. Em Belo Horizonte, o também gigante Mineirão vive situação parecida.
— Aqui também temos problema de sombreamento. No período do inverno, temos que colocar iluminação artificial na parte norte do estádio, que pega menos sol. É uma área menor que aí no Sul, mas é um trecho considerável do gramado - descreve o responsável pelo Mineirão.