A primeira frase do doutor Fábio Koff para mim:
– Boa tarde!
A segunda frase, na verdade uma pergunta:
– Tu és gremista ou colorado?
Isso em 2016, quando fui apresentado ao maior presidente da história do Grêmio. Até aquele momento, eu era apenas uma possibilidade de ser coautor de um livro: "Fábio André Koff: memórias e confidências". O que faltou esclarecer: eu sabia que não podia vacilar e nem mostrar insegurança. De bate-pronto, respondi:
– Doutor Koff, eu jamais mentiria para o senhor. Sou colorado. E meu pai também, já vou avisando. Mas sou apaixonado por grandes histórias.
Ele pensou um pouco e sorriu:
– É até melhor: dá mais credibilidade ao livro.
O livro não chega a ser uma biografia. É uma obra de memórias de um homem que tinha, na época, 84 anos.
Eu ia ao apartamento do doutor Koff, no bairro Rio Branco, duas vezes por semana, e ficava batendo papo por cerca de duas horas. Ou até ele cansar. Ou ainda quando acabava a carga das duas baterias da minha câmera. A saúde física dele estava debilitada, mas a memória era impressionante. E comprovei isso quando ele contou uma história pessoal, dos anos 1960, incluída no livro.
"... A gente estava vindo de Erechim para Porto Alegre com quase um metro de neve, de repente o nosso carro saiu da estrada..." Pensei: como assim, um metro de neve? Em Erechim? A memória dele não deve estar tão boa como parecia. Cheguei em casa e fui pesquisar sobre essa situação atípica, na Erechim dos anos de 1960. Pois encontrei até fotos com a cidade coberta de neve.
A memória do doutor Koff era uma enciclopédia. Por cerca de seis meses, fiquei ouvindo histórias incríveis sobre o futebol, o cotidiano, a saúde, a política, as negociações em torno da Arena. Sobre sua vida, enfim. Uma vida que ele teve o privilégio de aproveitar por quase 87 anos. Falou também sobre a família:
– Muitas vezes, deixei a minha família em segundo plano para me dedicar integralmente ao Grêmio.
E completou:
– Mas não lamento. Não há como explicar. O Grêmio era a minha paixão.