Antes de a bola rolar no domingo, 19h, para Grêmio x Atlético-PR, um abraço de amigos de longa data ocorrerá no gramado da Arena. Lado a lado nas casamatas estarão Renato Portaluppi e Fernando Diniz, que se conheceram no Fluminense, em setembro de 2002.
Naquela época, Renato, aos 39 anos, chegava para assumir o comando do Flu após a saída do técnico Robertinho. Por sua vez, Diniz era um meia habilidoso, que, aos 28 anos, era uma das referências do time. Não mais, é claro, do que o goleador Romário, a grande estrela daquela equipe que, aos 36 anos, atraía todos os olhares em campo.
Mas o início da trajetória do técnico no Fluminense em 2002 foi duro. Logo na estreia, levou uma goleada por 5 a 2 em um Fla-Flu pelo Brasileirão no Maracanã. Ainda assimilando a pancada do clássico, Renato tratou de chamar para sua comissão técnica Paulo Paixão, preparador físico que havia sido pentacampeão mundial meses antes com Felipão pela Seleção. Em paralelo com a alegria do título, Paixão enfrentava a tristeza de ter perdido o filho Alessandro, vítima de uma parada cardíaca. Ainda assim, não deixou de ajudar o amigo Renato a reerguer o Flu.
— Ele estava começando como treinador, já era um cara com comando de vestiário e com predomínio na forma de lidar com os jogadores. Ele sempre soube fazer isso muito bem, o que facilita o trato com o grupo. A irreverência dele torna o ambiente leve e ele é muito respeitado por ter sido o jogador que foi. Está colhendo hoje tudo aquilo que plantou lá atrás — conta Paulo Paixão.
Em paralelo, o preparador físico também notava como Diniz se destacava nos treinos. Não só pela técnica, mas também pela intensidade e inteligência em ocupar espaços no campo.
— O Fernando sempre teve muita personalidade, muito seguro daquilo que fazia. Uma pessoa maravilhosa no trato, sempre sabedor das coisas que queria. Trabalhava muito forte e era um ótimo jogador no ponto de vista tático. Talvez essa disciplina tática tenha pesado na decisão dele de se tornar treinador — lembra o preparador.
O trabalho de Renato e Diniz rendeu frutos naquele Brasileirão, o último disputado no formato mata-mata. Após terminar como sétimo na primeira fase, o Fluminense chegou até a semifinal do campeonato, sendo eliminado pelo vice-campeão Corinthians. No ano seguinte, a parceria se desfez ainda em meio ao Carioca, com a saída do técnico. Mas a amizade seguiu firme.
Naquela época, lembra Renato, Diniz já gostava de fazer perguntas táticas. O meia encerrou sua carreira como jogador em 2008, no Gama, e, no ano seguinte, começou a trabalhar como técnico no Votoraty-SP. Após rodar por alguns clubes do interior paulista e pelo Paraná, Diniz ganhou destaque no cenário nacional após levar o Audax à final do Paulistão em 2016 com futebol envolvente, baseado na troca de passes em alta velocidade. Neste ano, ao assumir o comando do Atlético-PR, tenta reproduzir sistema semelhante neste Brasileirão.
— Além de tudo, o Fernando é um grande amigo. Foi meu jogador no Fluminense e vem fazendo um belo trabalho no Atlético-PR — elogia Renato, que vai além: — Será um grande jogo, pelo modo como jogam as duas equipes. Em apenas uma rodada, querendo ou não, o Atlético é o líder do campeonato.
O técnico gremista também cita a estratégia de Diniz ao utilizar um time de garotos, que terminou como campeão no Paranaense, e alongar a pré-temporada do grupo principal. Neste domingo, o Atlético-PR fará o nono jogo este ano com seus titulares, enquanto que o Grêmio irá para sua 20ª partida com o que tem de melhor.
— É aí que está a diferença. Mas, sem dúvida alguma, Diniz vem fazendo um grande trabalho. Torço muito por ele, independentemente de quantos jogos fez. Torço muito por ele, menos no domingo — sorri Renato.
Os elogios, claro, são recíprocos. Após o empate em 2 a 2 com o São Paulo, que rendeu a classificação do Atlético-PR às oitavas de final da Copa do Brasil, Fernando Diniz destacou a maturidade que Portaluppi atingiu em sua carreira.
— Nos últimos dois anos, Renato é o melhor treinador em atividade no Brasil pelo o que o Grêmio conquistou e como conquistou. Desde a entrada dele, herdou um trabalho bem feito pelo Roger, mas imprimiu coisas dele. Tem um time competitivo, que joga um futebol de alta qualidade, tem resultados e, mesmo com a troca de jogadores, mantém um padrão. Teremos um super adversário — destacou Diniz.
Além de marcar o reencontro de amigos na casamata, Grêmio x Atlético-PR também promete ser um dos melhores jogos deste Brasileirão.