– Nós somos campeões da América! – gritou, empolgado, um desconhecido que me atacou no meio da rua.
– Três vezes! Três vezes! – respondi, como se nossa relação tivesse mais do que cinco segundos.
Ele me abraçou e chorou.
Segui minha caminhada de comemoração, troquei felicitações com uma dezena de outros desconhecidos, mas em nenhum momento na histórica madrugada da última quinta-feira (30) esqueci a emoção daquele gremista. Por alguns momentos, senti inveja. Queria conseguir abordar um qualquer e desabar em lágrimas pelo prazer de ver meu time levantar a Libertadores, mas meu corpo só me permitia rir. E eu gargalhava.
Não lembro da aparência daquele gremista, recordo apenas que não aparentava ter mais de 25 anos, assim como eu. Mesmo sem conseguir reproduzi-lo, eu entendia aquele choro. As lágrimas dele eram minhas também e, de alguma forma, meu amigo desconhecido sabia disso. Em nossa amizade de meio minuto, em meio à multidão que tomou a Goethe, apresentamos um ao outro reações opostas para um mesmo sentimento. Eu com meu riso descontrolado e ele com o seu choro quase desproporcional.
Hoje, quase 48 horas após o apito que decretou o novo proprietário da América, começo lentamente a entender tudo o que vivemos. Enfim, éramos personagens da história que crescemos sonhando em participar. Vivemos, meu amigo e eu, vendo nosso ego de bicampeão do continente ser exterminado pelas vitórias de clubes de menor tradição no âmbito internacional. Por anos, tentaram nos convencer que não éramos mais tão importantes.
Mais do que a reconquista de um campeonato importante, a taça erguida por Geromel simbolizava, como o nome do torneio indica, uma libertação. De um povo que sofreu calado por quase duas décadas, de uma gente que por muito tempo acostumou-se a ter a bravura como maior motivo de orgulho e precisou ter fé para não se deixar convencer que sua grandeza tinha ficado no passado.
Hoje, meu amigo, eu e todos os gremistas lembramos quem nós somos — e nunca deixaremos de ser.
Nós somos campeões da América.