Por Luís Henrique Benfica e Marco Souza
Um tanto sem jeito, o executivo de futebol Rui Costa comunicou ao presidente Fábio Koff que havia encontrado o zagueiro que considerava ideal para o Grêmio, mas temia alguma forma de ironia quando seu nome viesse à tona. Alguém poderia debochar dizendo que o reforço tinha muito mais nome de remédio do que de jogador.
— Pode trazer — bancou o velho dirigente.
Na tarde quente de quinta-feira do dia 26 de dezembro de 2013, em um espichado feriadão de Natal, Pedro Geromel vestia pela primeira vez a camisa do Grêmio. Voltava ao Brasil após uma trajetória de 10 anos na Europa, em clubes como Desportivo Chaves e Vitória de Guimarães, de Portugal, Colônia, da Alemanha, e Mallorca, da Espanha.
Não é exagero dizer que a contratação do zagueiro representa o marco inicial da montagem do time que hoje se candidata a ganhar a Libertadores. O goleiro Marcelo Grohe já estava no clube, mas convivia, desde seu ingresso no grupo profissional, em 2005, com a concorrência de nomes como Galatto, Saja, Victor e Dida.
Hoje na Chapecoense, Rui Costa confere ao atual presidente, Romildo Bolzan Júnior, a mesma importância de Koff quando o tema é Geromel. Para isso, cita outro momento decisivo envolvendo o zagueiro.
— Quando terminou o empréstimo, o Palmeiras chegou nele com uma oferta de R$ 10 milhões na mão. O presidente Romildo nos autorizou a renovar. Estamos falando, quem sabe, do futuro Capitão América — diz o executivo.
Hoje um produto bem acabado, o time do Grêmio enfrentou períodos de forte contestação ao longo dos anos de 2014 e 2015. Antes de Renato Portaluppi, teve Enderson Moreira, Luiz Felipe Scolari e Roger Machado, que não saciaram o desejo da torcida por títulos. Roger teve o mérito de deixar encaminhado o modelo tático que Renato aperfeiçoou com apuro tático e "malandragem", como o próprio treinador gosta de dizer.
Fernandinho chegou em julho de 2014, trazido do Al Jazira, dos Emirados Árabes, também pelas mãos de Rui Costa. A volta de Jailson, no final de 2015, após período de empréstimo na Chapecoense, também entra na conta do ex-executivo. Mas é da renovação de contrato com Marcelo Grohe que Rui Costa fala com mais orgulho.
— Ele estava por sair do clube e acertamos a grande renovação de sua vida, um contrato por cinco anos, com um plano de carreira – lembra.
Respaldado pela gestão de Koff, o Grêmio resolveu apostar em perfis diferentes de jogadores. Sem dinheiro para investir, a estratégia foi dar preferência na qualidade técnica como principal característica. Na lista de alternativas, Luan destacou-se como alvo prioritário.
Por R$ 150 mil, o Grêmio comprou 90% dos direitos econômicos. Foi traçado um plano que visava prepará-lo para a vida de jogador profissional. Ele incluía seis meses de treinos físicos em Eldorado do Sul, no CT Hélio Dourado.
— Apesar de ainda ser franzino, melhorou uns 200% com esse período de treinos — relembra Júnior Chávare, responsável pela base na época da contratação de Luan.
Incomodado pela falta da rotina de jogos, Luan pediu para ser liberado. A insistência do clube deu certo. Quando foi liberado para o time sub-20, as boas atuações chamaram a atenção do grupo profissional. Dos treinos em Eldorado em agosto de 2013, Luan rapidamente virou protagonista no time de Enderson Moreira na disputa da Libertadores de 2014. A carreira só evoluiu desde então, ainda mais com o protagonismo dos títulos com a seleção brasileira na Olimpíada e a conquista do Penta da Copa do Brasil no ano passado.
Arthur tinha 12 anos quando veio do Goiás, sem custos, para ser observado. Para que seu bom passe e visão de jogo fossem melhor aproveitados, foi recuado da meia para atuar como volante. A exemplo de Luan, também contou com tratamento diferenciado para aprimorar fatores como resistência e intensidade. No ano passado, por três meses, o volante ficou em um regime especial de treinos para "aumentar o fôlego".
No caso de Ramiro, o movimento foi contrário. A aposta era que o jogador vindo do Juventude seria um volante, talvez um lateral-direito, que se destacaria pelo poder de marcação e a boa capacidade de sair jogando. Os R$ 200 mil pagos para comprá-lo representam hoje um investimento para trazer um jogador que virou a solução encontrada por Renato Portaluppi para suprir a lacuna aberta com a saída de Giuliano, negociado no ano passado com o Zenit -RUS.
Se Geromel resolvia as dificuldades técnicas da zaga, ainda faltava um jogador de temperamento mais forte para o setor. Auxiliar técnico de Roger Machado, James Freitas citava com frequência o argentino Kannemann. Iniciou-se, então, uma negociação que se revelaria complicada, por conta de um intermediário que, a cada dia, impunha uma nova exigência. O negócio só foi fechado depois de uma viagem do vice de futebol Alberto Guerra a Buenos Aires onde o zagueiro descansava depois de desligar-se do Atlas, do México.
— Kannemann sempre teve determinação e raça. O apelido viking resumia isso. No México, estava infeliz porque o clube não privilegiava essas características — conta Guerra.
As mesmas virtudes o levaram a contratar o lateral direito Edilson, a quem conhecia da passagem de ambos pelo clube em 2010.
— Ele havia mudado. Estava três quilos mais magro e com uma motivação contagiante — recorda o ex-vice de futebol.
Fevereiro deste ano já se aproximava de seu final, Palmeiras, Flamengo, Atlético-MG e outros clubes brasileiros da Libertadores se reforçavam e ainda faltava ao Grêmio o fazedor de gols, expressão criada pelo vice-presidente Adalberto Preis. O clube, contudo, buscava não se afastar da premissa de gastar pouco e acertar seu fluxo de caixa.
— O presidente Bolzan deu, então, uma entrevista de que só teríamos alguma chance de sucesso fazendo alguma extravagância. E essa extravagância foi Lucas Barrios — conta o vice de futebol Odorico Roman.
Pouco dias depois de o uruguaio Gabriel Fernández ser reprovado nos exames médicos, representantes de Barrios ofereceram o jogador ao Grêmio. A partir daí, foi preciso somente esperar seu desligamento do Palmeiras para fechar negócio com o goleador do time na temporada.
Com o lateral-esquerdo Bruno Cortez a tratativa foi bem mais rápida. Durou, na verdade, apenas um dia, o tempo de seu procurador definir as bases em uma reunião no CT Luiz Carvalho.
— Ele estava apalavrado com o Náutico. Quando soube do interesse do Grêmio, nos deu preferência — diz Roman.
A soma de todas essas características será vista outra vez em ação hoje à noite por 55 mil gremistas na Arena. Esculpido a muitas mãos ao longo dos últimos quatro anos, o time sonhado pela torcida está a dois passos de entrar para sempre na história.