Por trás da final com o Lanús, haverá um congraçamento de gremistas vindos de todos os cantos. Se unirão àqueles assíduos no estádio, torcedores que cumprirão uma maratona para ver a decisão ao vivo, acomodados em um dos 55 mil lugares da Arena.
Para muitos, mais do colocar seu grito e sua energia a serviço do time, a noite representará a estreia na casa nova gremista. Caso do manauara Harley Brissac, 29 anos, que cruzará o país para, enfim, encontrar o time do coração. Ou do gaúcho radicado em Goiás Diego Segatt, cuja final será, enfim, a oportunidade de cruzar pela primeira vez o portão da Arena.
A disposição para se aboletar em um avião e fazer quase bate-volta em Porto Alegre serve como amostra de uma paixão em azul, preto e branco. Afinal, para quem sonha em acabar com o planeta, o primeiro passo é não ficar diante da TV em casa.
Conexão Campo Grande-Grêmio
O empresário Roberto Rech não vai a pé, mas vai aonde o Grêmio estiver. O caxiense está radicado em Campo Grande desde 1980, mas nunca deixou de ver o time do coração de perto. Foi a Tóquio, em 1995, assistir ao time de Felipão, Jardel, Paulo Nunes e companhia encarar o Ajax na final do Mundial Interclubes. Esteve também em Santiago do Chile, vendo o Grêmio numa Libertadores contra a Universidad Católica, nas oitavas de final de 2011.
Só neste ano, Roberto foi numa excursão do consulado de Campo Grande, do qual é o presidente, para ver o jogo com o Guaraní, em Assunção, e veio à Arena contra Godoy Cruz, Botafogo e Barcelona-EQU. Trouxe o filho, Roberto Rech como ele, à tiracolo. Mas o guri, agora, tem as provas de fim de ano na escola, e elas são compromissos inadiáveis na vida de um adolescente de 14 anos.
Em Porto Alegre, Roberto contará com a presença de Mariana, a filha de 26 anos, gremista até a medula como toda a família – ele tem ainda outras duas meninas. Mariana mora em São Paulo, onde trabalha no marketing de uma multinacional. Quando iniciaram-se as vendas, ela avisou o pai: se conseguisse garantir lugar na Arena, nada a impediria de estar na final. Roberto conseguiu os dois ingressos de cadeira gold.
Pai e filha se encontrarão no Salgado Filho, às 8h desta quarta-feira. Menos de 24 horas depois, estarão no aeroporto, voltando para casa. No caso de Roberto, a estada em Campo Grande durará menos de 48 horas. No sábado, ele embarca para Buenos Aires com a mulher. Aproveitará a viagem para fazer turismo e, é claro, estar em La Fortaleza no dia 29.
Cansaço? Nada disso: quando se trata de Grêmio, não há lugar para reclamações.
– É o meu prazer. Quando se faz algo do que se gosta muito, não existe cansaço – diz.
O coração de Harley une o Brasil
A família do advogado amazonense Harley Brissac, 29 anos, é quase um mapa do Brasil. O pai é paulistano. A mãe, acreana. A mulher, Nina Rosa, é cearense. O mais insólito dessa mistura de sotaques é que Harley, hoje radicado em São Luiz, no Maranhão, é um gremista de quatro costados. Nunca esteve em Porto Alegre. A Arena, só conhece por fotos.
A paixão pelo clube surgiu em 1996, na final do Brasileirão. Ele estava na família de amigos gaúchos em Recife – sim, porque nada é lógico na geografia de Harley. Viu a empolgação dos amigos com o bi do Brasileirão e decidiu também torcer pelo clube. Desde os nove anos, ele segue o Grêmio à distância. Nada que afete a paixão. Tanto que o escudo do clube está tatuado nas costas.
Tanto ardor contagiou a mulher. Ela deixou de lado os jogos do Ceará e assumiu também o azul, preto e branco. Nesta quarta-feira, o amor à distância de Harley pelo Grêmio acabará. Ele, enfim, virá a Porto Alegre e à Arena para ver o time de perto. Quis o destino que fosse na final da Libertadores, uma competição que parece fazer parte do DNA tricolor.
Harley conseguiu comprar não apenas um, mas dois ingressos de cadeira gold oeste para decisão. Pagou R$ 540, ainda haverá as passagens e a hospedagem em um hotel perto do Aeroporto Salgado Filho. Pouco importa neste momento. Ele e Nina Rosa deixam São Luiz nesta terça e têm desembarque previsto em Porto Alegre no fim da tarde. Assistem ao jogo e, no dia seguinte, logo cedo, cruzam o Brasil de novo, de volta para casa.
– Será a segunda vez que vejo o Grêmio ao vivo. A outra foi em 2010, em Fortaleza, numa derrota para o Ceará. Mas, agora, vou ver o tri, pode ter certeza – diz o gremista manauara radicado em São Luiz do Maranhão.
Os Segatt também querem acabar com o Planeta
Serão 12 horas entre Rio Verde, no interior de Goiás, até pisar em Porto Alegre. Diego Segatt, 38 anos, comandará a trupe familiar que transferirá, amanhã, seu QG tricolor da fazenda da família para a Arena. Os Segatt deixaram o Rio Grande do Sul no final dos anos 1990 em busca de prosperidade no sudoeste goiano. Foram arrastados pela instalação na cidade de uma planta da Perdigão.
O plano deu certo. Só que a distância do Grêmio machuca o coração azul da família. Por sorte, amigos associados não poderão estar na Arena na decisão. Abriu-se, assim, a chance de comprar quatro ingressos. Tiveram sucesso na corrida virtual por um lugar no estádio e, hoje, eles empreendem uma viagem que começa de carro em Rio Verde, cumpre 300 quilômetros até Goiânia, tem escala em São Paulo e só chega a Porto Alegre no fim da tarde.
Diego virá com os irmãos Felipe, 33 anos, e Vitor, 13, e com o filho, Pedro Henrique, 16. Os dois guris já assistiram a jogos na Arena, nas últimas férias de julho. Felipe fez o tour no estádio. Para Diego, será a estreia. Justo na final. Ele conta que, na última visita aos parentes no Estado, até foi ao Humaitá. Mas não passou da loja GrêmioMania. Agora, será diferente. As cadeiras gold dos Segatt estão garantidas. O restante da família ficará em Rio Verde, mantendo a tradição de se fazer da sala de casa uma sucursal da Arena.
– Toda a família tem de ser gremista. Aqui todo mundo se aflige por causa do Grêmio – diz Diego.
Conexão Ibicuí
Quem vê o perfil @DaniGrêmio no Twitter imagina ser uma torcedora qualquer aqui do Rio Grande do Sul. Nem imagina que se trata de uma gremista fanática que vive no sertão da Bahia.
A advogada Danielle Antunes, 30 anos, é uma tricolor desgarrada. Sua paixão pelo clube gaúcho começou em 1995, no ano do bi da América. O pai vascaíno sempre a estimulou a ver futebol lá em Ibicuí, cidade a 500 quilômetros de Salvador. Só não imaginava que a primogênita fosse se encantar pelo estilo aguerrido do time de Felipão.
Com nove anos, Dani assistia ajoelhada, diante da TV, aos pênaltis da decisão com o Ajax, em Tóquio. A primeira vez com o clube do coração em Porto Alegre foi em 2009, no Gre-Nal do Centenário: vitória por 2 a 1, gol de Maxi López.
No ano passado, ela trouxe o irmão caçula, em quem cultivou o gremismo, para ver o jogo contra o San Lorenzo, pela Libertadores. No final do ano, foi a Belo Horizonte ver o jogo de ida da final da Copa do Brasil e veio sozinha à Arena carimbar o penta.
Na terça-feira passada, ela se sentou diante do computador para tentar garantir seu ingresso para a decisão contra o Lanús. Acho que seria rápido e adiou o almoço. Às 18h, sem almoço e aos prantos, viu sua missão fracassar. Apelou para a rede de contatos gremistas nas redes sociais. Uma conselheira se compadeceu e, usando de sua prerrogativa de poder adquirir duas entradas, conseguiu o esperado passe para a final.
Dani iniciará de carro a viagem. São 120 quilômetros até Vitória da Conquista. Lá, às 17h, pega voo com escala em Belo Horizonte e tem chegada prevista a Porto Alegre no início da madrugada. A volta para casa será na quinta-feira, às 14h. A ida para Buenos Aires está suspensa. A baiana teme a violência da torcida argentina e também pensa um pouco mais longe:
– Preciso economizar, quem sabe consiga ir para Abu Dhabi – sorri.