Vocês devem ter visto a imagem. Foi ali pelos 41, 42 minutos do primeiro tempo. O Grêmio já vencia por 2 a 0 o Barcelona-EQU, em pleno Estádio Romero Carbo, quando a câmera da TV focou um rapaz na arquibancada, abarrotada e amarelada. Estava meio que perplexo, aflito, revirava os olhos, franzia as sobrancelhas e levava as mãos compulsivamente ao rosto.
Eu já fui aquele torcedor do Barcelona.
Eu já sofri decepções monumentais, já amarguei derrotas fragorosas, já desejei, muito, que eu não somatizasse os fracassos do Grêmio. Puxa vida, mesmo quando assistia aos jogos do conforto de um sofá, saía com o corpo moído. Dormir era difícil, a mente repassando a bola que não entrou, pensando no jogo da volta — isso quando ainda havia sobrevida —, criando anticorpos para suportar a corneta colorada, maquinando algum milagre que desse fim àquele longo período sem títulos.
Na quarta-feira, não. Dormi rapidinho, com a cabeça nas nuvens.
Porque é isso o que Pedro Rocha nos garantiu naquela noite no Mineirão, quando abriu caminho para a conquista da Copa do Brasil: tranquilidade. Segurança. Confiança.
Livres da maldição dos 15 anos sem grandes troféus, nos permitimos sonhar, cada vez mais alto. Eu tinha orgulho da Batalha dos Aflitos, mas, em vez de Imortal Tricolor, prefiro ver o Grêmio como Tricolor Mortal. É bonita e épica a imagem do Grêmio como o boxeador desacreditado que, depois de ser surrado impiedosamente, renasce das cordas. Mas é mais gostoso e mais animador quando o Grêmio é visto como um pugilista temido e praticamente imbatível.
E é isso o que Renato Portaluppi fez: moldou o Grêmio a sua imagem. Seu time é incisivo e autoconfiante (quando falo seu time, estou me referindo ao time que joga a Libertadores, que é e sempre foi o grande objetivo do ano). Domina o ringue, tem repertório de golpes e é vibrante a todo tempo — vocês viram que lindo no primeiro tempo contra o Barcelona, quando o Grohe se esticou todo para cortar um cruzamento, e o Geromel fixou os olhos nele e o aplaudiu? Vocês lembram que lindo foi ver o Léo Moura, sacado ainda na primeira etapa no duelo de volta contra o Botafogo, ser o primeiro jogador a saltar do banco de reservas para comemorar o gol do Barrios?
O Grêmio está pronto para ser campeão — de novo. Estará pronto para enfrentar o Real Madrid em uma eventual final do Mundial de Clubes? Tem muita água até lá, mas, se esse dia chegar, o lutador no corner azul, preto e branco não se contentará em resistir ao nocaute. Ele buscará a vitória.