Por Adriano de Carvalho e Luís Henrique Benfica
Aos sete minutos do primeiro tempo, momento em que Luan aproveitou-se do erro do zagueiro Luis Caicedo, do Barcelona-EQU e marcou o primeiro gol do Grêmio, em Guayaquil, quinta-feira, médicos, fisiologistas, preparadores físicos e fisioterapeutas do clube abriram um sorriso de dever cumprido. Terminava, com final feliz, um estafante trabalho de recuperação do principal jogador do time, iniciado no final da manhã de 7 de setembro, minutos depois de ele sofrer lesão muscular na coxa direita, no segundo treinamento após sua volta da Seleção Brasileira.
Sob forte pressão da torcida e críticos, que não entendiam a demora para a cura de um edema, a chamada equipe de apoio trabalhou em silêncio para devolver a Renato Portaluppi a peça mais preciosa da equipe, sem a qual o Grêmio converteu-se em um time comum, que em nada lembrava o de três meses antes.
Luan pisaria o gramado da Arena por cinco minutos no jogo de volta contra o Botafogo, pelas quartas de final da Libertadores. Uma decisão arriscada, porque seu tratamento ainda não havia sido concluído. Mas justificada pelo presidente Romildo Bolzan Júnior:
– Aquela foi uma situação muito mais de entusiasmar o time e a torcida, incendiar o estádio.
Com a demora em absorver o edema na coxa direita, Luan foi submetido a um procedimento incomum para um jogador de futebol. Com líquido acumulado no músculo adutor, o meia passou por uma punção teleguiada no Hospital Moinhos de Vento, na Capital. Na semana antes do jogo com o Coritiba, que ocorreu em 15 de outubro, o jogador, acompanhado do médico Márcio Bolzoni, fez o procedimento ambulatorial, que não exigiu internação. Basicamente, foi como realizar um exame de imagem. Guiado por um ultrassom, que aponta o local exato do edema em um monitor, o médico utilizou uma agulha fina para extrair o resíduo do edema.
– Quando ele voltou a fazer trabalhos com bola, ainda tinha um pouco de líquido. Mas, depois que fez a punção, ele deslanchou – conta o médico Paulo Rabaldo.
"O edema atingiu o quadríceps, utilizado para aceleração e chute. É o músculo da potência. Por isso da nossa atenção maior com o atleta, pelo risco de reincidência e de aumentar a lesão."
Rogerinho, preparador físico do Grêmio
Após o procedimento, o atacante foi relacionado para a viagem ao Paraná, para o jogo com o Coritiba, e que se estendeu a São Paulo, onde o Grêmio enfrentaria o Corinthians. No primeiro dia em Curitiba, em treino no CT do Atlético-PR, Luan trabalhou com bola sem restrições. Ainda assim, o técnico Renato, após reunião com médicos e fisioterapeutas, preferiu poupá-lo do jogo no Couto Pereira. Disse que o meia não atuaria contra o Coritiba e, poucos minutos antes de a bola rolar, surpreendeu-se ao vê-lo fardado no vestiário.
– O Luan quer nos ajudar de todas as formas, está sendo até chato nos últimos dias. Falei para ele subir para o camarote para ver o jogo, aí chego no vestiário e ele está de chuteira, pedindo para jogar alguns minutos. Está querendo. É muito importante, vamos ver como vai se comportar – disse Renato após o jogo com o Coritiba.
Nos dois treinos seguintes no Paraná, antes de seguir a São Paulo, Luan trabalhou normalmente, sem dores. E isto deu a confiança necessária ao técnico Renato para promover seu retorno ao time contra o Corinthians, 56 dias depois de seu último jogo em plenas condições pelo time, que ocorreu na eliminação para o Cruzeiro, na semifinal da Copa do Brasil.
– Ali a gente já tinha confiança da cicatrização da lesão. É claro que ninguém pode garantir que não poderia romper de novo. Mas ele recuperou bem e treinou 100% nestes dias – diz Rabaldo.
Ao jogar por 75 minutos contra o Corinthians e demonstrar boa resistência, Luan se credenciou para iniciar também contra o Palmeiras, na Arena. A comissão técnica colocou como prioridade a recuperação de ritmo de jogo do meia. E, contra o rival paulista, em casa, ele aguentou ainda mais em campo: 80 minutos.
– Antes de adquirir o retorno ao bem-estar tático, ele precisava ter o bem-estar físico. Isso ele adquiriu aqui, antes da viagem a Guayaquil – observa Rabaldo.
A consequência de todo o esforço feito por Luan durante o tempo em que esteve em campo no Equador seria avaliada nesta sexta-feira pelo fisiologista José Leandro Oliveira, 37 anos de Grêmio. O exame de CK (creatina quinase), colhido em uma amostra de sangue, apontaria o nível de desgaste de um jogador que, depois de uma parada próxima de dois meses, moveu-se pelo gramado como se não tivesse passado tanto tempo em tratamento. E ainda marcou dois gols.
Ainda que encarasse com naturalidade o fato de o jogador sentir dores quase 48 horas após a partida, Leandro não escondia sua satisfação com o resultado do trabalho de toda a equipe de apoio. E aponta um fator decisivo para que, ao longo de toda a parada, o atacante tivesse mantido um bom condicionamento físico.
– Luan é um jogador muito especial em termos físicos. É jovem, magro e tem um condicionamento físico natural muito bom. Tem ótima genética, é leve e, mais importante, tem muita motivação para treinar – enumera.
Sobram, também, elogios do fisiologista para a equipe de fisioterapia. José Leandro observa que há sessões que chegam a se estender por três horas, o que exige muita paciência do atleta e do fisioterapeuta. Na semana que antecedeu o jogo contra o Botafogo, no Rio, pelas quartas de final da Libertadores, os trabalhos eram realizados em três turnos, com os fisioterapeutas Henrique Valente e Ingrael do Amaral. Quando a fisioterapia era realizada em Porto Alegre, os dois ainda contavam com o reforço de Thiago Albuquerque, além de estagiários. A recuperação foi acelerada porque, simultaneamente, Luan realizava trabalhos físicos.
– Futebol é uma engrenagem com vários dentes, que trabalham juntos. Se um deles quebra, atrapalha todo o andamento. Toda a equipe merece cumprimentos – diz José Leandro.