Dois desejos convergiram no final de maio. O do Sport Recife, que buscava um treinador de ponta para comandar o mais caro grupo de jogadores do Nordeste, e o de Vanderlei Luxemburgo, disposto a mostrar ao país que, aos 65 anos, ainda não havia parado no tempo. Passados pouco mais de três meses, as duas partes têm sólidas razões para entender que fizeram a coisa certa.
A contratação foi anunciada dia 29 de maio, uma segunda-feira. A estreia no Brasileirão foi em 3 de junho, com derrota por 1 a 0 para o Avaí, em Florianópolis, pela quarta rodada do Brasileirão. Apenas dois dias antes, o Sport havia sido eliminada da Copa do Brasil ao empatar o jogo de volta contra o Botafogo.
A preocupação inicial, contudo, logo foi substituída pela sensação de euforia provocada pela vitória por 2 a 0 contra o Flamengo, na Ilha do Retiro. O projeto, ou "pôjeto", de classificar o clube para a Libertadores dava seus primeiros passos.
– Faltava um técnico. Com Luxemburgo, o Sport passou a ter uma cara de time. Quando ele assumiu, no lugar de Ney Franco, o time não tinha consistência tática, apesar de contar com bons jogadores – analisa Thiago Vieira, do Jornal do Commercio, de Recife.
O segredo é o foco. Luxemburgo, que costuma chega cedo ao CT José de Andrade Médicis, de onde só sai no final da tarde, não se envolve mais em questões extracampo. Desvinculou-se, por exemplo, do site de vinhos, que chegou a montar em Porto Alegre, durante sua passagem pelo Grêmio, entre 2012 e 2013.
– Ele chegou muito focado no campo. E os jogadores compraram a ideia dele. Felizmente, as coisas estão caminhando bem – diz o ex-jogador Fabiano Costa, com passagem por São Paulo, Inter e o próprio Sport, e casado com uma das filhas do treinador.
De tão focado, o técnico tem recusado a maioria dos convites da imprensa de Recife para entrevistas exclusivas. Entende que elas poderão atrapalhar sua concentração nas partidas e responde não aos pedidos. Por isso, chegou a surpreender que tenham vazado fotos da peixada que preparou durante esta semana aos integrantes de sua comissão técnica.
– Ele quer provar alguma coisa, foi muito questionado nos últimos anos. Quer mostrar que ainda é de ponta – entende o jornalista Thiago Vieira.
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Logo na chegada, Luxemburgo mudou o esquema tático. Retirou Fabrício, um dos três volantes, e abriu espaço para Everton Felipe. Mesmo com menos marcadores, o time adquiriu consistência defensiva e, acima de tudo, passou a fazer mais gols. São desse período as três vitórias fora de casa, contra Coritiba, Bahia e Santos e o empate contra o Atlético-MG. O ponto alto da campanha deu-se na 13ª rodada, quando a goleada por 3 a 0 contra a Chapecoense levou o clube ao G-6.
Neste sábado, contra o Grêmio, por coincidência, o Sport volta a contar com mais um volante, Wesley, buscado no São Paulo. Em compensação, Diego Souza ganhará maior liberdade para chegar na frente.
Para o executivo de futebol Paulo Pelaipe, Luxemburgo paga por uma excessiva cobrança da mídia e de torcedores, que, a seu ver, não se estende a outros treinadores. E também de uma injustificada pressa de que os jovens técnicos desbanquem aqueles que já fizeram sua história.
– O bom treinador pode ser velho ou jovem. Luxemburgo é o treinador com mais títulos no futebol brasileiro. Na Europa, o técnico também é valorizado se classifica a sua equipe para a Liga dos Campeões. Aqui, isso não acontece. Você é obrigado a ser campeão sempre. Principalmente Luxemburgo – estranha Pelaipe.
Dessa linha de pensamento partilha o empresário César Soler, que levou o técnico para o Tianjin Songjiang , da China, em 2015:
– Ele foi, é e sempre será o melhor treinador que já vi. Basta ter as devidas condições de trabalho, o que é oferecido pelo Sport.
Ele lamenta a rapidez com que, no Brasil, velhos profissionais sejam substituídos pelos mais jovens. César entende que isso é ruim para os dois lados.
– Quando Luxemburgo iniciou na profissão, os velhos treinadores davam sustentação aos mais jovens. Hoje, isso deixou de existir– observa.
O genro Fabiano Costa desempenhou papel decisivo para que Luxemburgo aceitasse o convite do Sport. Não apenas por ter jogado no clube, mas por entender que havia potencial para crescimento, apesar do fracasso na Copa do Nordeste, que havia vitimado Ney Franco, o técnico anterior.
– É como vocês dizem aqui no Sul: eu já conhecia baia. Quando ele olhou a tabela de classificação, logo viu que valia a pena pagar o preço – diz o genro, que acompanha o sogro na vinda a Porto Alegre.
Indagado se o velho Luxemburgo está de volta, Fabiano é rápido na resposta, que vem acompanhada de um sorriso:
– Ele nunca deixou de existir.