E o Grêmio conquistou a tríplice coroa. Não, não é o triunfo almejado pela torcida, os tão sonhados títulos do Brasileirão, da Copa do Brasil e da Libertadores. É o objetivo idealizado pela diretoria e pela comissão técnica: sair de três competições no ano. Afinal, o Grêmio desdenhou o Gauchão, abandonou o Brasileiro e entrou para perder na Primeira Liga. De quebra, foi eliminado na Copa do Brasil.
O estrondoso êxito no planejamento teve seu ápice quarta-feira, quando um arremedo de time entrou no Mineirão para enfrentar o Cruzeiro. O empenho em obter a derrota foi tão comovente que nem mesmo o treinador se dignou a dirigir a equipe à beira do gramado. Invejo tamanha devoção à desgraça.
A sucessão de infortúnios do Grêmio nas três competições tem resposta pronta da direção: "é preciso poupar o grupo, está todo mundo esgotado, o calendário é massacrante, blá, blá, blá". Eu, do alto do meu empirismo, desconfiava que era balela. Mas aí o blog Resenha Tricolor dissecou as estatísticas e desmascarou a fraude. Os 16 jogadores mais utilizados por Renato no time principal jogaram em média 33 partidas no ano: um jogo a cada sete dias. Ramiro, o mais escalado, fardou 41 vezes (um jogo a cada 5,9 dias).
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O resultado dessa estratégia suicida foi uma atuação apática no segundo tempo da decisão contra o Cruzeiro. Também pudera. Aquela escalação – excluída a emergência Bressan – atuou junto apenas cinco vezes no ano, incluindo as semifinais contra a Raposa. Já o Cruzeiro usou titulares pelo Brasileiro três dias antes do jogo de volta e anteontem tinha um mistão em campo para nos tirar da Primeira Liga. O Grêmio? Bem, o Grêmio jogou com Esperon, Conrado, Kaio, Dionathã e et caterva.
Talvez a competição mais talhada para uma conquista gremista em 2017 tenha sido o Brasileirão. Afinal, com padrão de jogo e o desempenho que os titulares vinham obtendo enquanto jogavam quarta e domingo, jamais perderíamos os 11 pontos jogados ao lixo pelo frankestein escalado por Renato contra Sport, Palmeiras, Botafogo e Atlético-PR. Quando optou por time misto, o técnico venceu sem dificuldades o Atlético-MG.
Ainda há tempo para tentar uma retomada. Isso, claro, se o fracasso não subir à cabeça de Renato e Romildo Bolzan.
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