Polivalente, motor do meio-campo, raçudo, essencial. Os adjetivos elogiosos a Ramiro se acumularam em 2017 à medida em que se tornava decisivo para o funcionamento do Grêmio de Renato. Nos últimos meses, porém, o jogador onipresente do começo da temporada já não é tão eficiente.
Ramiro não diz com todas as letras, não é de se queixar, mas o motivo da queda de produção pode ligar seu nome a mais um adjetivo: cansado. As 47 partidas e os 4.137 minutos em que esteve em campo parecem cobrar seu preço. Não que tenha, de repente, se tornado um jogador sem mobilidade. Corre e se movimenta como poucos, mas já não é tão preciso nos chutes de longe e suas investidas em direção à área, que o renderam nove gols no ano, não são tão frequentes. As notas que ZH dá aos jogadores a cada atuação denunciam: nos primeiros meses do ano, Ramiro tinha média acima de 7. Em agosto e setembro, ficou na casa dos 5 (veja no fim do texto).
Zinho, ex-meia e comentarista da Fox Sports, viveu algumas temporadas com acúmulo de jogos quando atuava. Lembra que o cansaço mental também entra na conta:
No momento em que um Luan se machuca, o Pedro Rocha sai, o Douglas ainda não voltou, aumenta a responsabilidade sobre ele.
Zinho
Comentarista do Fox Sports
— Não é só o número de jogos. São competições diferentes. Esse desgaste de sair de um campeonato, ir para o outro, jogar em diferentes posições. Agora o Grêmio vai ter um período sem jogos que vai ser bom para o pessoal ficar em Porto Alegre, descansar, ver a família. Se não, fica essa rotina de chegar em casa, dar um beijo na mulher, um abraço nos filhos e já sai de novo.
A troca de posição pode ser outro fator que o atrapalha. Em rodadas recentes, com desfalques importantes, Ramiro voltou a circular na região central do campo. Com Renato, firmou-se atuando aberto pela direita.
— O Ramiro é um jogador mais do conjunto. Um motorzinho do time. É um coadjuvante, uma peça importante para a estrela do time aparecer mais. Faz um trabalho operário. No momento em que um Luan se machuca, o Pedro Rocha sai, o Douglas ainda não voltou, aumenta a responsabilidade sobre ele. E isso pode pesar também — complementa Zinho.
O que ele corre é brincadeira. Chega à área, volta, acompanha o lateral. Ninguém vai manter a alta performance por toda uma temporada.
Paulo Paixão
Preparador físico
Ainda que fatores técnicos e táticos possam ter influenciado, os números indicam que a questão física teve mais impacto. Ramiro ocupa a posição de extrema, atua aberto pelo lado do campo em uma função que exige condicionamento perfeito. Considerando jogadores dessa posição nas cinco melhores equipes do Brasileirão, é quem tem mais jogos, ao lado de Alisson, do Cruzeiro. Ramiro, porém, é titular absoluto, o que resulta em mais de mil minutos a mais em campo do que o meia cruzeirense, que esteve no gramado por 3.043 minutos (veja quadro abaixo).
— Essa função da beirada é muito desgastante. Não é à toa que vários treinadores optam por escalar um lateral de origem ali, para garantir que seja alguém com ótimas condições físicas. Lembro da Inter de Milão há alguns anos, quando escalava o Maicon e o Zanetti, por exemplo — analisa o preparador físico Paulo Paixão.
Paixão alerta para os efeitos do grande número de jogos:
— Mesmo que se faça um trabalho competente de preparação, quando há esse acúmulo e o tempo curto para recuperação, vai se perdendo a base que é feita na pré-temporada.
O prejuízo se agrava justamente pela volúpia do jogador. Já seria cansativo atravessar o ano atuando duas vezes por semana, trocando o "chip" de competição para competição. Fazer isso com a intensidade de movimentação de Ramiro aumenta o problema.
— O que ele corre é brincadeira. Chega à área, volta, acompanha o lateral. Ninguém vai manter a alta performance por toda uma temporada. Mesmo um atacante, que tem menos gasto calórico nos jogos, não vai ficar no mesmo nível o ano todo. Ninguém é máquina — complementa Paixão.
CAMPEÃO DE ATUAÇÕES
Números de jogos em 2017 de extremas dos cinco primeiros colocados no Brasileirão (Corinthias, Santos, Grêmio, Palmeiras e Cruzeiro)
Ramiro (Grêmio)* — 47
Alisson (Cruzeiro) — 47
Fernandinho (Grêmio) — 46
Ángel Romero (Corinthians) — 45
Roger Guedes (Palmeiras) — 45
Willian (Palmeiras)** — 44
Bruno Henrique (Santos) — 44
Copete (Santos) — 42
Keno (Palmeiras) — 42
Pedro Rocha (Grêmio) — 40
Jadson (Corinthians) — 38
Dudu (Palmeiras) — 38
* Tem 4.137 minutos em campo, enquanto Alisson atuou em 3.043 minutos
** Atuou como centroavante em vários jogos
Queda de produção em notas
Mês a mês, a média das notas de Ramiro nas cotações de GaúchaZH.
FEVEREIRO — 7,0
MARÇO — 7,83
ABRIL —7,16
MAIO — 7,4
JUNHO — 6,83
JULHO — 6,87
AGOSTO — 5,75
SETEMBRO — 5,83