Aos 18 anos, Lincoln carrega o peso de corresponder às expectativas criadas com o status de ser uma das maiores promessas criadas na base do Grêmio. Promovido aos profissionais com apenas 16, quando chamou a atenção de Felipão em um treino no final de 2014, o meia alternou bons e maus momentos em suas três primeiras temporadas entre os profissionais. Após dar indícios que iria decolar no primeiro semestre de 2016, quando mostrou bom futebol e marcou gols importantes, o jogador terminou a última temporada disputando a Copa Ipiranga Sub-20.
E em 2017, mesmo com a lesão de Douglas, teve poucas oportunidades enquanto Bolaños estava em alta no primeiro semestre e Luan como um dos melhores jogadores do país. As chances no time principal diminuíram. Nos 20 jogos que esteve em campo, apenas quatro como titular, contribuiu com quatro assistências e nenhum gol.
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Mas após o nascimento do filho, Lincoln Júnior, o meia acredita estar em uma nova fase. A rotina do videogame foi trocada pelos banhos e troca de fraldas do bebê, nascido no dia 29 de julho. Com o planejamento de poupar os titulares paras a Copa do Brasil e a Libertadores, Lincoln deve ser uma das apostas de Renato Portaluppi para vencer o Atlético-PR neste domingo, às 11h, na Arena.
Como você analisa as oportunidades que recebeu?
O jogador de futebol sempre quer sequência. Independentemente se vai entrar durante o jogo ou ser titular, queremos estar em campo. E mesmo que seja para ficar 10 minutos, dar o máximo para aproveitar a oportunidade. Sei da dificuldade que estamos enfrentando com esta sequência mais forte de jogos, por isso é importante poupar. Temos de entrar ligados para aproveitar cada chance como se fosse única.
Você acha que faltam oportunidades?
A oportunidade aparece com o trabalho, e estou treinando forte. Por isso, as chances estão aparecendo. O Renato acompanha o nosso dia a dia e com quem ele pode contar.
Você teve uma sequência muito boa em 2016. Qual a razão de você ainda não ter “explodido”?
Vai do momento do jogador, é muito difícil manter uma regularidade muito alta. Tem dias que você não está bem. Mas tive um momento bom, com oportunidades, e fui bem. Caí um pouco demais, mas é normal. Não baixei a cabeça e sigo trabalhando. O futebol te proporciona ser um zé ninguém e no próximo jogo ser alguém.
Você entende a razão de não ter mais sequência no time titular?
Pode ser por algumas situações de jogo. Não posso falar que entendo, algumas vezes fico p... por jogar abaixo do potencial que tenho. Como foi contra o Palmeiras, em que estive abaixo. Mas contra o Botafogo, mesmo sem termos vencido, senti que fui um pouco melhor.
Você entrou contra o Atlético-GO e deu a assistência para o gol. Acha que isso te ajudou a ganhar mais chances?
Tenho trabalhado forte nos treinos para isso, é uma sensação boa. Contra o Atlético-GO, dei o passe para o gol do Michel. Estava preparado e pude ajudar.
Com quem você mais conversa sobre o teu momento?
Falo muito com o meu irmão e com a minha mulher. Meu irmão me liga. Ele já jogou futebol e passou pelas coisas que estou passando, entende bem o que está acontecendo. Converso com os meus colegas. Vou citar os exemplos do Maicon, que é um cara que ajuda a todos, e o Geromel. Eles nos falam a verdade. Quando os mais jovens vão bem, nos dão parabéns. Mas também alertam que é nossa obrigação melhorar.
O que mais te cobram?
É difícil dizer quem mais nos cobra. Quando acontece de não estar bem no treino ou no jogo, e você baixa a cabeça, todo mundo corre e chega falando: “Vamos lá, não desanima”. Por isso que cito a união do grupo. O Renato sempre diz que os mais velhos nunca podem desanimar, por que isso vai fazer com que os mais jovens também baixem a cabeça. Isso nos dá confiança.
Você conversa muito com o Renato?
Ele nos procura bastante para conversar. É um cara que está sempre nos cobrando. Se ele nos pede, é porque podemos dar mais. Quando ele está nos puxando, é pelo nosso bem. Conversa muito para que a gente possa aprimorar. É um reflexo dos treinos, sempre me cobra bastante. Ele me avisou que iria me colocar mais para jogar, daria mais oportunidades. Cobra para eu entrar mais na área, participar mais das jogadas, não cair muito para os lados e ficar mais centralizado. O Renato quer que eu esteja sempre próximo do gol do adversário. Ele fala muito isso nos treinos. Tem sido fundamental para o meu desenvolvimento.
Você já tem três anos no profissional, mas apenas 18 anos. Se sente maduro?
Parece que foi ontem que dei minha primeira entrevista para a Zero Hora, lá no escritório do meu empresário, em 2014. O futebol passa muito rápido. Os mais experientes do grupo sempre nos alertam que a carreira é muito rápida. Às vezes paro para pensar, subi com 16 anos, muito novo. Hoje tenho 18 anos. Mas coisas boas aconteceram. Quero amadurecer e ganhar mais experiência com meus companheiros. Isso será importante para a minha carreira.
Em 2017, você reencontrou ex-companheiros da base. Como é ter o convívio com Jean Pyerre e o Patrick?
São dois jogadores de muita qualidade, conheço eles desde os meus nove anos. Somos muito amigos. Mantivemos contato frequente mesmo quando subi para o profissional. Agora foram eles que subiram. Vão agregar muita qualidade para o Renato.
Te cobram mais porque você subiu mais cedo ao profissional?
Pode ser. Mas se criam expectativa é porque sabem que tenho alguma qualidade diferenciada. Fico feliz por estar jogando, não tenho pressa para ser titular. Quero trabalhar bastante, para que quando eu tiver a oportunidade, possa dar meu máximo. Se tiver que entrar no decorrer dos jogos, também vou dar meu melhor. As coisas vão acontecer naturalmente.
A torcida precisa ter mais paciência?
Se eu subi mais novo, foi por mérito meu. Foi porque eu estava bastante acima dos demais, e não estou falando que sou melhor do que ninguém. Mas foi por isso que subi. E quem me olhou foi nada mais nada menos que um campeão do mundo, o Felipão. Não sei se está todo mundo certo e ele errado, mas quem me viu jogar foi o Felipão em um treino coletivo contra o profissional. Ele queria que eu subisse naquele momento, mas eu tinha só 16 anos. Não tive pressa depois disso, desci para a base e segui treinando. Continuei dando meu máximo e esperei meu momento chegar. Quando chegou, não contribuí da forma que esperavam de mim, mas estou trabalhando, quero alcançar meus objetivos para ajudar o Grêmio.
No ano passado, Bolaños, jogando com os reservas, iniciou o ano bem. Você pode seguir este exemplo?
Sim. As oportunidades vão surgir, a gente precisa estar preparado. Tenho de me credenciar, entrar bem. Até falo com o Fernandinho e o Everton que, quando o professor chama a gente para entrar, temos de mudar o jogo de alguma forma. A gente conversa no vestiário, essa é a credencial para ser opção na Libertadores e no Brasileirão.
Como você vê esta disputa por um lugar no banco com a volta de Douglas e de Miller Bolaños?
Disputa tem em todo lugar. Até nos times pequenos tem. Não é no Grêmio que não vai ter. O Douglas é um excelente cara, que me ajuda muito, o Miller também. São grandes jogadores que buscam seu espaço.
De que forma a paternidade pode te ajudar dentro de campo?
Depois que meu filho nasceu, só aconteceram coisas boas. Aqui dentro de casa, com a minha família e também dentro de campo. Na partida com o Botafogo, nós perdemos, mas achei que eu joguei muito bem. Minha mulher viu o jogo e me elogiou bastante. Converso muito com ela, até falei que a vinda do nosso filho me ajudou muito, tenho uma responsabilidade a mais. Quero ser um espelho para meu filho, preciso fazer o meu melhor dentro de campo para que ele possa ter orgulho do pai.
Você está ansioso para que seu filho o veja em ação em campo?
Dá ansiedade. De que passe logo para que ele cresça e comece a caminhar para sair comigo. Ver os jogos na Arena, ir ao vestiário, passar a entender mais sobre futebol, poder conversar. Estas coisas são essenciais.
Qual é seu objetivo até o final do ano?
Acima de tudo, conquistar o objetivo de todo o grupo, que é ganhar alguma competição, seja Brasileiro, Libertadores ou Copa do Brasil. Estamos bem nas três. Queremos trazer mais um caneco para a Arena.
E meta pessoal? O que você gostaria de alcançar até o fim do ano?
Vou em busca de jogar mais partidas, ajudar minha equipe, independentemente de ser titular ou não. Quero jogar mais do que joguei no primeiro turno. Quero contribuir com gols e passes. Mas, acima de tudo, quero ganhar mais um título pelo Grêmio.
Que nota você daria para o Lincoln?
Uma nota para meu desempenho? Não sei como dar. Trabalho muito no treino para chegar no jogo e executar da melhor forma. Infelizmente, tem vezes que a gente não consegue isso. Eu daria uma nota bastante boa até pelo trabalho que estou fazendo este ano, de total dedicação. Agora veio também meu filho, que dá mais motivação e confiança para trabalhar, isso é importante. Mas eu não saberia dar uma nota, trabalho muito forte para executar no jogo da melhor maneira possível.
*ZHESPORTES