Talvez o Grêmio termine 2017 sem levantar uma única taça. É possível, é futebol. Mesmo com uma equipe poderosa que está entre as favoritas do Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil, bastam pequenos vacilos para ficar de mãos abanando. Ao contrário de outros esportes que basta jogar melhor para ser campeão, o futebol é generoso com zebras. Só que resultado algum apagará o que já aconteceu em 2017.
O Grêmio encontrou um novo jeito de jogar, moldou um estilo diferente. Mais do que o título da Copa do Brasil em 2016, os gremistas festejaram a forma como ele veio. O time passou a tratar bem a bola. Muitos passes curtos, poucas e boas arrancadas. Gols de quem sabe jogar futebol.
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O ano de 2017 reforçou essa sensação e é aí que surge uma formidável oportunidade para o futuro: que tal uma "cantera gaudéria"? Sim, o Barcelona não tem sua La Masia, o criadouro de jogadores de base que reproduz a forma de jogar do time de cima?
Pois o Grêmio recebeu uma bênção do acaso. Felipão foi contratado em 2015 e deu errado. Roger Machado foi chamado para apagar o incêndio e rapidamente se conectou com o grupo de jogadores. Propôs um jogo moderno, compactado, que tivesse controle total da bola. Os atletas entenderam, toparam.
Por inexperiência, Roger não foi capaz de transformar isso em vitórias. Veio Renato que preservou a ideia base e acrescentou alma vencedora. Jogadores foram trocados. Cada novo que chega rapidamente entende como funciona a brincadeira.
Quem pega a bola precisa ter duas ou três opções de passe. Com tanta opção para confundir a marcação, o dono da bola pode até tentar o drible. Quando se perde a bola, todos vão atrás dela freneticamente até recuperá-la e começar tudo de novo.
Luan vai embora, Arthur um dia segue seu caminho, Renato, mais dia menos dia, vai atrás do sol. É da vida. Mas quando se vê um Ramiro, um Cortez, um Kannemann jogando esse jogo bonito fica claro que o craque atual do Grêmio é o sistema e a confiança para executá-lo.
O clichê do "time copeiro" seguirá sempre grudado na alma do clube, mas é possível agregar algo mais. Por que não um "joga bonito" como conceito? Não vale implementar nas categorias de base essa semente? Usar isso no marketing do clube?
Na cantera do Barcelona, esquema tático e treinamentos do profissional são reproduzidos. O Grêmio poderia usar os auxiliares de Renato como padrinhos dessa ideia. E o Grêmio de 2017 poderia se eternizar, com taças vindo agora ou não. No futebol, como na vida, o sucesso vem da insistência na excelência.