Convivi por anos com Renato Portaluppi no Grêmio quando eu era repórter da RBS TV. O menino de Bento Gonçalves, que foi de auxiliar de padeiro a craque e, agora técnico conceituado, sempre foi simples em seus atos e no trato com as pessoas. Após a conquista da Copa do Brasil, vi imagens dos jogadores dando um banho de espumante nele. A cena me fez voltar 33 anos no tempo e me lembrar de momento igual ao ocorrido na noite em que o Grêmio derrotou o Peñarol no Estádio Olímpico, ganhando a Libertadores da América. No vestiário, Renato à frente, jogadores traziam o então presidente Fábio Koff nos braços e jogaram, no manda-chuva tricolor, um balde d'água. Em seguida, caíram na banheira térmica.
Na decisão do Estádio Nacional em Tóquio, em dezembro de 1983, Hugo De León perguntou a Renato Portaluppi:
– Se ganhares o carro de melhor em campo, tu dividirás com o time?
Renato disse sim ao capitão. Algum tempo depois, eu estava na casa do Valdir Espinosa para uma entrevista, quando chega o Renato.
– Vim aqui repassar o dinheiro do carro da Toyota para o pessoal.
Valdir Espinosa preencheu o cheque, Renato assinou e foi embora feliz da vida. Não sei se ele e ou o Espinosa se lembram dessa cena.
Ídolo, famoso, nunca se esqueceu da família. Deu uma casa com piscina para Dona Maria, a mãe, uma farmácia para um dos irmãos, depois, ajudou a montar o Mercado Portaluppi para os outros irmãos.
Quando disse rindo que merecia uma estátua na Arena, recordei-me de uma outra história. O Grêmio havia contratado o técnico Francisco Neto. Na conversa com o time, para se impor, o Chiquinho avisou:
– Comigo é dureza. Se vocês tentarem me jantar, eu almoço vocês.
Renato, com ironia, respondeu:
– Professor, não esqueça que, antes, há o café da manhã.
Com grana, mulherada na volta, Renato e amigos compraram um dos melhores bares de Porto Alegre, o Arcabuz, na Rua Jerônimo de Ornellas, quase na Avenida Santana. Durou pouco esta aventura.
Um ídolo que sempre levou a vida leve assim, que transformou a profissão de jogador de futebol na arte de alegrar multidões, merece esta idolatria toda.
O cara continua assim. Ídolo também é não esquecer dos amigos, de quem te ajudou, ter gratidão. Valdir Espinosa, outro ídolo, que o diga.