Há exatos 10 anos, 46 mil torcedores testemunhavam mais do que uma final de Libertadores. Assistiam, sem que soubessem, à última grande decisão realizada no Olímpico Monumental. A quarta e derradeira final da principal competição do continente na antiga casa. Até ali, nenhum gremista imaginava deixar de frequentá-la. Aqueles que lá estiveram fazem parte de um dos maiores dias do velho casarão. Quem ergueu a taça, hoje, pouco importa.
Não se ascende do calvário a campeão da Copa no intervalo de duas temporadas. Só o lado imponderável do futebol explicaria o título do Grêmio naquela noite. Já se sabia da derrota. Consciente ou inconscientemente, a resignação pairava no ar respirado pelos tricolores, ainda que todos tivessem trocado as fotos de perfil do Orkut para a montagem "3XO, eu acredito". E o fizeram com razão. Afinal, aquele time não havia tomado um gol sequer em seus domínios e revertera os dois confrontos que precisou, contra São Paulo e Defensor. Além disso, abriu vantagem decisiva quando enfrentou o Santos. Porém, na última fase, era um argentino. Mais do que isso, era o até então pentacampeão Boca. De Juan-Román-Riquelme.
Naquela fria quarta-feira, não se falou de outra coisa na cidade. Porto Alegre se tornou a Capital da América, como bem disse ZH no dia seguinte. O pátio da casa tricolor enchia desde a tarde. No começo da noite, mal dava para se mexer próximo ao gramado suplementar. Uma hora antes de a bola rolar, as geladas arquibancadas de cimento estavam tomadas e tremiam. Ninguém sentava. A sinergia entre estádio, torcida e time fazia inveja a qualquer adversário. A Geral, hoje burramente isolada na Arena, inflamava todos os setores, transformando a atmosfera do jogo. Era uma atração nas quatro linhas, outra atrás delas. Assim foi em toda aquela campanha, que começou com o show de luzes no apagão do
0 a 0 diante do Cucuta, muito antes de os celulares terem lanternas. Não poderia ser diferente naquele 20 de junho. Sinalizadores, bobinas, bandeiras, faixas, trapos e cantos ininterruptos faziam parte da programação normal.
O saudoso Olímpico, em uníssono, bradava um de seus melhores momentos. Curiosamente, quando o hiato de títulos mais incomodou. Clube e torcida voltavam a se apaixonar, numa reaproximação que começou no pior cenário e os elevou para perto do ápice. É isso o que hoje vale a pena lembrar. A tristeza daquela noite é melancólica. Dela, sente-se saudade. Esqueçam a derrota e a festa argentina ao fim da partida, gremistas. Nenhum título perdido diminui a história do lendário Monumental. Vocês a fizeram tão grande quanto ele.