Falta ao Gauchão o glamour da Libertadores. Esse detalhe, contudo, não tira do presidente Romildo Bolzan Júnior o sonho de conquistar o título estadual e retirar do rival a hegemonia mantida desde 2011. Sua parte na tarefa de mobilizar o grupo de jogadores foi definir bem cedo a premiação e não poupar recursos para reforçar o grupo, que tem folha salarial de R$ 7 milhões. Bolzan, ainda assim, rejeita o favoritismo do Grêmio. Vê o Inter em crescimento e aponta qualidades em Novo Hamburgo e Caxias, "que já nos venceu".
Na entrevista a ZH, o dirigente também coloca o Grêmio em condições de igualdade com qualquer outro brasileiro que disputa a Libertadores. Sobretudo depois de a direção ter concluído que, mais do que um time, era preciso dispor de um grupo para os desafios de 2017. O assédio sobre Luan, a compra da Arena e a derrapada no caso Kleber são alguns dos outros temas abordados nesta entrevista.
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Como o Grêmio se prepara para as decisões de abril?
Estamos fazendo as concentrações antecipadas, que preservam a integridade física dos jogadores. Da alimentação ao descanso. Também temos conforto nas viagens. Os voos são charter, nos deslocamos com mais velocidade e não enfrentamos filas em aeroportos. Também vejo mobilização intensa, há um ambiente muito proveitoso para que a gente possa cumprir nossos objetivos.
Como na Copa do Brasil, vocês pagam bicho por vitória?
Cada campeonato é tratado de uma maneira. No Gauchão, será uma premiação única pelo título. Na Libertadores é por fase ultrapassada. Os parâmetros são parecidos como foi no ano passado.
O Grêmio é favorito ao título do Gauchão?
Não. Estamos disputando o Gauchão. O Caxias já nos venceu, imagina se a gente faz a final com eles. Também podemos ter dificuldades com o Novo Hamburgo, que foi o primeiro colocado do campeonato. E claro que existe a possibilidade de jogar um Gre-Nal. Isso deixaria tudo no mesmo nível, emparelha as coisas. Cria conforto e desconforto para qualquer um. Não há favoritos.
O presidente do Inter quer Gre-Nal na final. Você também?
Seria bom para todos os gaúchos, para o Rio Grande, para o campeonato. Eu quero o Inter numa final também. E não falo isso menosprezando nenhum adversário. Nem o Novo Hamburgo e tampouco o Caxias. Um Gre-Nal na final valoriza mais o Gauchão, falo isso do ponto de vista técnico. E não como um desafio a ninguém.
Renato disse que os últimos jogos foram de encher os olhos. Você concorda?Achei o primeiro tempo da última partida (Iquique) excepcional. Tivemos posse de bola e marcação foi muito eficiente. Foi uma blitz geral. Com aquela intensidade, o Grêmio se torna um grande time de futebol. O que aconteceu no primeiro tempo me enche os olhos e me contempla como pessoa que gosta de ver futebol intenso e eficiente. Foi algo que me deixou entusiasmado.
Como é sua avaliação do trabalho do Renato?
Ele merecia um trabalho de mais longo tempo. Acho que ele está demonstrando isso. Ele tem conseguido estabelecer situações de jogo, principalmente agora que voltaram todos os jogadores, de uma ampla visão. De que ele pode tirar o máximo que cada um pode dar. Ele tem todo nosso crédito e confiança. E tem a condição técnica de levar o Grêmio aos títulos que precisa.
Há algum brasileiro em nível superior ao Grêmio na Libertadores?
O Grêmio não está melhor nem pior. Vejo nosso time em condição de enfrentamento com todos. Nossos jogadores têm a plena confiança de todo mundo, da comissão técnica à direção. Estamos com um grupo nem mais, nem menos em relação aos outros. Os enfrentamentos vão ditar estas questões lá na frente. Se mantivermos o foco, temos condição de competir com todos.
Ano passado, o Grêmio tinha um bom time. Agora tem um bom grupo também?
Nossa prioridade era manter o grupo. E conseguimos. O Walace se colocou numa condição quase que impossibilitando sua permanência. Era um jogador que a gente contava e foi. Página virada. Mas estamos suportando as dificuldades. O Michel está ajudando muito, como Léo Moura, Cortez, Barrios e Gastón. Temos reposições que não alteram o nível que o time joga. Isso é importante.
É possível suportar as finanças sem vender jogadores? O Luan é a bola da vez?
Não é possível. A gente vai ter que realizar jogadores sim. Mas a gente pode fazer isso só no final do ano, isso também é possível. Nunca recebemos proposta concreta pelo Luan. Ele está retomando todo seu esplendor, todo o futebol que qualificou ele. Um jogador com a qualidade dele se torna mais visível para as outras equipes.
Vocês estão receosos na negociação para renovar com ele?
Eu sempre parto do princípio da boa fé. E tenho visto isso. As pretensões que são colocadas na mesa não são para inviabilizar, são para começar a negociar. E vejo que temos boas possibilidades de avançar nesta negociação com o Luan. E acho que é isso que vai acontecer.
O Grêmio negocia com o Musto, do Rosario Central?
A negociação está suspensa, completamente desativada neste momento. Ele não vem antes do mês de junho. Embora os clubes estivessem apalavrados, não estamos avançando. Há um conceito no clube de que vamos fazer uma reavaliação do plantel após o término do Gaúcho e da primeira fase da Libertadores. Ver se precisamos reforçar e em quais posições podemos fazer aquisições.
Porque o Grêmio atrasou as parcelas da rescisão do Kleber e foi multado?
Há uma sindicância no clube comandada por três advogados. Eles estão avaliando esta e outras situações que possam ser objeto de um não-controle. Esta investigação está correndo e será consumada até o fim do mês. No momento oportuno, vamos tomar as providências com cuidado do ponto de vista jurídico. Um assunto desta natureza não pode passar em branco. Mas também estamos discutindo o débito desta multa. Entramos com um pedido de reconsideração e a decisão cabe recurso. O exame desta matéria pode ir até o Tribunal Superior do Trabalho.
No que será usado o dinheiro do Atlético-MG pela venda do Victor?
Este dinheiro entraria para o caixa do Grêmio. Temos compromissos assumidos e precisamos realizar nosso orçamento. Esta situação está criando embaraços processuais que vão prejudicar o Atlético lá na frente. Temos a segunda parcela garantida. Só que o dinheiro não será liberado automaticamente. Existem prazos a serem cumpridos. Por isso, não será tão rápido.
Como será a postura do Grêmio na negociação da Arena?
Nós nos retiramos. Suspendemos as assessorias econômicas e jurídicas sobre o tema. Comunicamos isso a todos os interessados. Tivemos a palavra do Banrisul, que está disposto a aceitar a negociação como estava concebida. Resta, para finalizar, a resposta do Banco do Brasil e a situação que tem que ser resolvida entre o MP, a Karagounis e a OAS. Nos pediram até o mês de maio para ter uma posição final de todos os agentes. O Grêmio aguarda. Já temos o plano B para ser executado. Se o desfecho não for favorável, vamos tomar nossas atitudes.
O que seria este plano B?
Isso ainda é uma espécie de segredo de estado. Não posso revelar.
*ZHESPORTES