Horas antes do embarque para a Venezuela, semana passada, Rafael Thyere recebeu, meio de susto, a notícia de que faria seu primeiro jogo de Libertadores.
A surpresa pela fratura na costela de Geromel, que tirou o ídolo de ação até o próximo mês, ocorreu dois dias antes da estreia contra o Zamora. Do técnico Renato aos colegas mais experientes, como Léo Moura, Marcelo Oliveira e, sobretudo, Kannemann, Thyere recebeu confiança. O zagueiro de 23 anos, que subiu ao profissional justamente pelas mãos de Renato em 2013, demonstra segurança e tranquilidade a cada vez que entra em campo.
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– É uma responsabilidade grande. Tanto o Geromel quanto o Kannemann, viraram ícones da nossa equipe. Hoje, acho que é a melhor zaga do Brasil. Mas, quando substituo um deles, o outro me ajuda muito. O Kannemann me disse para desfrutar o momento. A gente não sabe se terá outra chance – observa.
A oportunidade contra o Zamora foi um prêmio para a persistência de Thyere. Desde a infância, ele batalhou para jogar futebol. Nasceu e se criou em uma comunidade pobre, no bairro da Torre, em João Pessoa, na Paraíba. Sua mãe, Maria José, mal podia pagar a escolinha. Por isso, o pequeno Rafael, com sete anos, resolveu tentar a sorte no gol.
– Fiz teste como goleiro porque era R$ 10 a mensalidade. Para jogar na linha era R$ 30, minha mãe não tinha condições de pagar – recorda Thyere.
Mas não teve jeito. Ele queria mesmo atuar na zaga. Tanto que convenceu, em um só treino, o técnico da escolinha Meninos de Cristo, Clerson do Carmo, a ajudar. Pelo bom desempenho, o treinador lhe deixou jogar de graça na linha e ainda deu fardamento para jogar.
– Vou lá sempre que posso. Se não fosse por ele, talvez hoje eu não estivesse aqui no Grêmio – agradece o zagueiro.
O caminho de Thyere até Porto Alegre teve escalas em Maceió e Jundiaí. Aos 13 anos, foi levado pelo pai, Eliodoro, para um período de treinos no Corinthians Alagoano. Lá, chegou até a passar fome no alojamento. E, quando sua mãe ligava, ele mentia que estava tudo bem. Só que, como o clube não cumpriu a promessa de colocá-lo para estudar, retornou para casa.
De volta a João Pessoa, foi aprovado em uma peneira realizada pelo Paulista em 2008. Pegou o ônibus para Jundiaí, onde ficou por três anos até chamar a atenção do coordenador da base do Grêmio, Francesco Barletta, na Copa São Paulo de Futebol Júnior 2011.
– Não pensei nem meia vez quando recebi o convite – lembra.
Passaram-se mais dois anos até vir uma chance no profissional. Pela lesão no ligamento do joelho do zagueiro Gabriel em Salvador, em setembro de 2013, foi chamado às pressas por Renato para compor o grupo que enfrentaria o Vitória pelo Brasileirão. No ano seguinte, contudo, caiu no esquecimento após a chegada de Felipão.
Fora dos planos do treinador, Thyere foi comunicado pelo executivo Rui Costa de que seria emprestado ao Boa-MG. Mas a passagem pelo clube mineiro durou menos de um mês. Logo em seguida, foi repassado ao Atlético-GO. Só que não jogou em nenhum dos clubes.
– O final de 2014 foi complicado. Foram dois empréstimos de insucesso total. Mas aprendi a dar valor a muitas coisas. Nas férias, passei o tempo todo treinando. Coloquei na cabeça que voltaria a jogar no Grêmio – conta.
E realmente voltou. A partir da chegada de Roger Machado, Thyere teve novas chances. Virou reserva imediato de Geromel, formando dupla com Erazo em seis jogos do Brasileirão e da Copa do Brasil.
No ano passado, com a caxumba e as lesões de Geromel, teve sequência no time, atuando em 14 partidas na temporada - metade delas sob o comando de Renato Portaluppi, de quem parece ter conquistado a confiança.
– Você precisa passar segurança para a equipe. Ali atrás, se você falhar, o time leva gols. O Geromel sempre me fala para ter tranquilidade e simplicidade. É isto que um zagueiro precisa ter – define Thyere.
A OPINIÃO DE QUEM CONHECE THYERE
"É um zagueiro muitp profissional, um zagueiro de muita técnica e inteligência. Não é um xerifão de dar balão e tentar se impor na porrada. Vai crescer ainda muito no Grêmio. Um jogador de muito bom passe. Um menino que tem tudo para se firmar no profissional."
Mabília, técnico de futebol
"Thyere é um menino promissor, já mostrou seu talento no ano passado quando foi exigido. Agora está recebendo novas oportunidades de mostrar sua qualidade. É um zagueiro rápido, de bom passe, de bom posicionamento, de ótima bola aérea e de boa imposição física. Tem tudo para brigar pela titularidade, e não só compor elenco."
Fred, zagueiro do Vitória, e ex-companheiro de Thyere
"Conheço o Thyere desde sua chegada na base do Grêmio. É um zagueiro muito técnico, um jogador muito comprometido no dia dia e que treina muito forte. Era quem tinha os melhores índices de intensidade nas atividades do dia a dia. E isso agora está se transferindo nos jogos. É um menino humilde, uma pessoa que não se abala quando o sucesso não vem rapidamente."
James Freitas, auxiliar-técnico do Cruzeiro
"Eu era observador na captação da base do Grêmio. Ele chamou minha atenção quando tinha 16 anos, mas só o conseguimos trazer quando ele fez 18. A questão técnica era o principal. Um zagueiro com um posicionamento diferenciado, uma visão de jogo muito acima da média para a idade dele. Agora, amadureceu e melhorou ainda mais."
Francesco Barletta, coordenador geral da base do Grêmio
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