Com a autoridade que lhe confere a braçadeira de capitão da equipe, o volante Maicon lembrou aos jogadores, a caminho do gramado da Arena, quinta-feira, para a partida contra o Ypiranga, que o Grêmio precisaria começar "voando" o ano de 2017.
Se a atuação não foi ainda do mesmo nível do ano passado, bastou para a conquista dos primeiros três pontos no Gauchão, cujo título é tid como uma exigência, como forma de quebrar a hegemonia colorada nos últimos seis anos.
- Nós, jogadores, temos de entender que não devemos parar por aqui. Temos que ter a ambição de novas conquistas - diz o volante, que em março completa dois anos de clube - veio em março de 2015, do São Paulo.
Nesta entrevista a Zero Hora, Maicon fala dos momentos difíceis vividos no ano passado, como a queda na Libertadores, e de como a experiência serviu para aumentar a união do grupo, fator que é apontado como decisivo para a conquista da Copa do Brasil, em dezembro.
Com um certo tom de mágoa, lembra que seu estilo discreto, avesso a dar "voadoras", era visto como impróprio para capitão do Grêmio.
- Depois, passei a ser o melhor capitão do mundo - diz.
O jogo contra o Caxias, neste domingo, em Caxias do Sul, será sua segunda experiência ao lado de Jailson, com quem forma nova dupla de volantes do Grêmio desde que Walace foi para o Hamburgo.
Ainda que a temporada recém se inicie, Maicon avisa que o nível de concentração precisa ser o máximo.
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Você foi o primeiro capitão do Grêmio a erguer uma taça na Arena. O torcedor pode manter a mesma expectativa em relação ao ano passado ou ele precisa entender que é um time novo?
Eu acho que temos de ter a ambição de repetir. Foi uma conquista muito importante. O torcedor esperava por esse momento. O Grêmio é um clube grande, vive de conquistas, ganhou Mundial, Libertadores, todos os títulos que uma grande equipe deve ter. Nós, jogadores, temos de entender que não devemos parar por aqui. Temos de ter a ambição de novas conquistas. Durante os dois anos que estou aqui, sempre demonstramos, em cada treinamento, em cada jogo, a ambição de ser campeão. Os momentos difíceis e complicados que passamos nos fortaleceram ainda mais. Com toda a crítica que recebemos, terminar o ano com uma conquista foi muito bom.
Com o título do ano passado, as coisas deverão acontecer mais naturalmente neste ano, sem maior pressão?
Eu penso dessa maneira. Até porque quem nunca tinha jogado uma final, jogou. E viu como é bom todo mundo te assistindo, muitas pessoas querendo estar no teu lugar. E você poder dar alegria a milhões de torcedores que esperavam tanto por esse momento. Saiu aquele peso. Quem nunca tinha jogado uma final viu que não era uma coisa do outro mundo. Todo o trabalho que fizemos nos proporcionou a fazer grandes partidas. Na final, jogamos dois grandes jogos. Tira um peso, mas nos dá maior motivação ainda de poder ter mais conquistas pela frente. O torcedor também criou uma expectativa maior a partir dessa conquista.
Não vieram as grandes contratações para 2017. Você acredita que os que vieram podem manter o mesmo nível da equipe no ano passado?
Eu acredito que sim. Se o jogador chegou no Grêmio, é porque tem qualidade e potencial para vestir a camisa. Não chegar nenhum craque ou jogador de nome é muito relativo. De repente, o jogador de nome chega aqui e sofrerá questionamentos também. E o jogador que vem de uma equipe de menor expressão vem com vontade além do normal de poder criar sua história dentro do clube. Ele tem a confiança da diretoria, do treinador e o torcedor tem de ter uma expectativa muito boa. Foi feita toda uma pesquisa sobre a qualidade de quem veio. É importante o torcedor dar esse crédito.
Vocês debatem no vestiário essa questão de que é preciso mais reforços?Conversar a gente sempre conversa. Mas todos os clubes têm dificuldades para contratar também. O presidente tem a maneira dele de pensar, junto com quem está ao seu redor. Ele fez um grande trabalho aqui, foi campeão também. Mas é sempre importante ter um grupo qualificado, porque suas chances de vencer uma competição são maiores. Quem não quer jogadores qualificados? Eu quero que chegue um volante de muita qualidade porque sei que vou ter que fazer mais do que venho fazendo.
Qual volante você queria que chegasse?
É difícil falar. Estou falando para ter uma disputa dentro do grupo. É isso que fortalece. Você chegar e saber que a cada dia tem que provar mais, porque senão o companheiro entra e rouba tua posição. É difícil uma equipe que começa jogando terminar o ano. Sempre muda uma peça ou outra. Claro, ficamos na expectativa da contratação de jogadores de qualidade para entrar cada vez mais forte nas competições.
Em que ponto do ano o Grêmio estará no mesmo nível do ano passado?
Nas finais da Copa do Brasil, atingimos um nível muito alto porque estávamos preparados para fazer isso. Um ou dois meses antes ficamos sete ou oito jogos sem vencer e fomos bombardeados aqui. Perguntaram: será que o Grêmio vai passar mais um ano em branco? Ficamos calados, trabalhando da maneira que sempre fizemos, sabendo que, na hora certa as coisas iriam acontecer e aconteceram. Não foi por acaso. Nenhuma equipe que não tenha qualidade dificilmente vai manter o nível que tivemos nas semifinais e finais, contra os adversários que jogamos. Muitos acharam que ficaríamos no meio do caminho, contra Palmeiras, Cruzeiro e Atlético-MG. Aqui, todo mundo se ajuda dentro de campo. Foi isso que nos fez conquistar. Acredito que temos que começar voando, em alto nível. Haverá dificuldades, mas não podemos baixar a cabeça e seguir sempre no mesmo nível até o fim do ano.
Quando Giuliano saiu, o Grêmio demorou até achar uma solução com Giuliano e readquirir o nível. Agora, saiu Walace. O que Renato tem falado para tentar minimizar essa saída?
Na verdade, ele não abordou ainda a questão da saída de Walace. Mas sabemos que é um baita jogador, tem os seus méritos. Eu vejo que se foi bom para ele e para o clube, foi bom para o nosso grupo também. Já estávamos entrosados, um sabia como o outro jogava. Acho que farei boa dupla com Jailson. Vamos ajustando na conversa, na maneira de jogar. Jailson tem um futuro brilhante pela frente. Ano passado, quando eu fiquei de fora e ele jogou com Walace, o discurso era: "vai tirar Jailson? Maicon não pode mais voltar para o time". Ele é um menino, tem uma personalidade muito forte, mas depois ele deu uma caída. E aí os mesmos que falavam que ele não poderia mais sair o criticaram. Então, futebol é momento. Ele vai entrar voando, está com muita vontade de de jogar. E eu não quero sair do time, vou voar mais do que ele. Michel que está chegando, vai querer tomar nossa vaga. Tem o Kaio, tem o Arthur, tem o Machado que subiu. Essa disputa é boa para o grupo.
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Qual seu estilo de capitão? É do que esbraveja ou é mais discreto?
Sou daquele que cobra na hora certa. Fui muito questionado quanto a isso, pelo estilo de jogo aqui do Sul, pela característica dos que já foram capitães do Grêmio, de dar voadora. Hoje, no futebol, se você empurrar o árbitro fica 10 jogos sem jogar. E aí vou estar sendo herói? Não estarei sendo herói, estarei sendo um burro prejudicando minha equipe e me prejudicando. Então, às vezes, eu deixo que as críticas venham de fora, mas que eu esteja no nível que o treinador acha o correto e eu acho correto. Eu me vejo como um cara tranquilo, que cobra na hora que tem que cobrar, mas aceita cobranças também, independentemente de quem vai cobrar, se é novo ou tem mais idade. Meu objetivo é só vencer e ser campeão. Só assim ficaremos marcados na história do clube. Antes da Copa do Brasil, diziam que um carioca não podia ser capitão, não tinha perfil. Depois, passei a ser o melhor capitão do mundo. Não concordo com isso. As críticas têm que ser em relação ao rendimento dentro de campo.
As críticas o incomodam?
Me incomodar, não incomoda. O que estou tentando explicar é que futebol é momento. Se você está ganhando, dificilmente vai receber uma crítica. Passamos momentos difíceis pelo tempo que estávamos sem ganhar. A pancada só me fez crescer. Me fez amadurecer, buscar cada vez mais estar melhor em campo. Passei em outros clubes e é sempre a mesma cobrança. Quando não está ganhando, miram um ou outro jogador. Não posso me abalar pelas críticas, nem deixar os elogios subirem à cabeça. Até porque já sou experiente, já sei como funciona o futebol no Brasil.
Você sempre deu a cara a tapa, no momento bom e no ruim. Alguma crítica pontual incomodou mais o grupo?
Críticas são normais quando não se ganha. Mas nunca vou me esconder, nem se não fosse o capitão. Não posso deixar um menino de 19, 20 anos, por mais que tenha experiência, vir aqui no momento ruim. Prefiro que venha eu, Geromel, ou Douglas, que temos mais bagagem, para mostrar a cara.
A queda na Libertadores, com aquela chegada tumultuada, foi o momento mais complicado de 2016. Ao mesmo tempo, serviu para unir o grupo?
Na verdade, perdemos para uma equipe (Rosario Central) que foi superior. Não ganhamos Copa do Brasil porque fomos superiores ao Atlético-MG? Você não acha que a torcida deles não cobrou os jogadores? Na verdade, pegamos um adversário muito qualificado, que eu pensava que seria o campeão da Libertadores e não foi. Cada derrota nos fortalecia mais para conquistarmos um título no momento certo. Sabíamos que estávamos a um passo de uma grande conquista para a torcida e para nós mesmos. Não foi uma resposta para ninguém. Nossa equipe amadureceu muito.