Um dos momentos mais tocantes da final da Copa do Brasil, na Arena do Grêmio, foi o minuto de silêncio em homenagem às vítimas da tragédia de Medellín, com o voo da Chapecoense. Enquanto que no meio-campo jogadores e jornalistas se abraçavam e, nas arquibancadas, os torcedores se calavam em solidariedade, o soldado Emerson Silva teve o seu momento de glória. Silva é corneteiro/clarim da Brigada Militar. Ele foi convocado dois dias antes pelo comando-geral para que homenageasse as vítimas de Chapecó com o Toque de Silêncio, a composição em respeito àqueles que morreram. Zero Hora conversou com o soldado Emerson Silva.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como foi se manter frio naquele momento para conseguir executar o Toque de Silêncio?
Mas não me mantive frio. Não consegui. Foi difícil até para respirar. Eu também estava muito emocionado. Tanto que em alguns momentos, tive muita dificuldade para manter a concentração. Olhava para as arquibancadas, para os jogadores, para os repórteres, e todos estavam emocionados. Foi muito difícil, me faltou a respiração, por causa da emoção, e quase engasguei em alguns momentos. O meu treino foi muito melhor do que o meu ao vivo.
Como foi a volta para casa?
Cheguei em casa, em Alvorada, e estavam todos emocionados: pai, mãe, minha companheira, minha filha. Emocionados e orgulhosos. Na saída do estádio, minha mãe (Valéria), telefonou. Queria me elogiar, mas não conseguiu: só soluçava ao telefone, emocionada.
O Toque de Silêncio, que o senhor executou na Arena, é uma composição militar?
É uma composição que veio para o Brasil com a família real portuguesa. Foram eles que trouxeram esse manual para o Brasil, e que é executado até hoje em honras militares.
Qual foi a sua percepção do estádio, das pessoas, enquanto tocava?
Vi todos muito emocionados, uma emoção sincera, um sentimento real de perda naquele momento.
Por que a corneta é importante em um ambiente militar?
Porque ela organiza as tropas, dá cadência, dá a marcação às tropas, ela se torna a voz do comandante e que dá o bom exemplo à tropa. E isso vem desde o Egito antigo, dos gregos, dos macedônios. É algo que praticamente nasceu com essas organizações militares. Mas, antigamente, não era a corneta que ditava o tom e, sim, tambores.
Na Brigada Militar, a corneta funciona de que maneira?
Diariamente, no Quartel General, toco às 12h30min e às 18h30min, para marcar períodos de início de expedientes ou de encerramentos deles. Como atualmente sou o único corneteiro da Brigada Militar, toco sempre em formaturas ou em cerimônias fúnebres, para homenagear os nossos heróis.
Os jogadores da Chapecoense são heróis?
Claro que são. Eles e todos os demais que estavam no voo. Estavam cumprindo uma missão, estavam trabalhando naquilo em que acertavam, como um soldado, quando morre em combate.
Por que alguém se torna corneteiro?
Meu tio, Jair Rogério Gonçalves, era soldado e corneteiro do Exército. Ele chegava em casa do trabalho e tentava me ensinar a tocar. Tomei gosto pela percussão e passei a estudar. Toco desde 1994. Sou um corneteiro do bem.
O senhor é gremista?
Quando pequeno, meu avô dizia que eu era gremista. Mas nunca gostei muito de futebol. Torço para quem estiver ganhando. Hoje, sou gremista. Mas gosto do Inter, do Juventude, do Brasil de Pelotas...
Qual é o seu sonho agora?
Quero me tornar capitão da Brigada Militar. Para isso, estudo Direito. Estou indo para o quinto semestre. Esse é o meu sonho.
* ZHESPORTES