O Grêmio perdeu, na noite de sábado, o maior goleador de sua história.
Alcindo Martha de Freitas, o Bugre Xucro, morreu aos 71 anos no Hospital São Lucas da PUCRS, por complicações decorrentes de seu quadro de diabetes, que combatia desde a década passada. Alcindo está sendo velado, neste domingo, na capela 4 do Crematório Metropolitano. A cerimônia de cremação ocorrerá às 16h.
Autor de 264 gols com a camisa tricolor, fez do Olímpico sua casa e seu palco. Ninguém marcou mais gols que ele no velho estádio, hoje em ruínas, que aguarda por uma implosão que nunca chega: foram 129 em 186 jogos. Ao todo, fez 636 gols na carreira.
Poucas pessoas viveram tanto o Olímpico quanto Alcindo. Por 11 anos, frequentou o estádio diariamente. Natural de Sapucaia do Sul, chegou ainda menino, com 15 anos, em 1960 – após ser dispensado do Inter por pedir ajuda de custo para treinar. Passou um ano emprestado ao Rio Grande, em 1963, e retornou para fazer seu primeiro jogo como profissional do Grêmio: justamente um Gre-Nal em 23 de abril de 1964.
Com apenas 19 anos, Bugre marcou dois gols em seu batismo de fogo e escreveu seu nome na história do clássico. Foi ali também que surgiu a rivalidade com Gainete, goleiro do Inter à época. A cada Gre-Nal, os dois faziam questão de discutir e trocar gentilezas. E protagonizar duelos inesquecíveis em campo.
Mas voltemos ao Olímpico. Alcindo conhecia cada palmo daquele campo, mas era na área onde mais gostava de estar. Dono de um poder de finalização incrível, formou dupla histórica com João Severiano no ataque. Teve uma média impressionante naquele gramado: dois gols a cada três partidas.
– A minha vida foi dentro do Grêmio. Tudo o que fiz e tenho, que aprendi em termos de futebol, foi lá dentro do Olímpico – contou Bugre, em entrevista a ZH.
Estádio gremista foi a segunda casa de Alcindo
Tamanha era a ligação do atacante com o estádio, que houve até uma despedida formal. Em 2014, antes de o Olímpico ser desativado por completo, Alcindo foi levado pelo colunista de Zero Hora, Moisés Mendes, e pelo repórter Luís Henrique Benfica para uma última entrada em campo. Em meio ao concreto retorcido pelas máquinas de demolição no estádio, o artilheiro se emocionou ao relembrar o gol mais bonito da carreira, marcado em 16 de fevereiro de 1966, num amistoso do Grêmio com a seleção russa. No Olímpico, é claro. A pintura iniciou com uma arrancada em velocidade pela esquerda, enfileirando cinco russos até a pequena área. Cara a cara com o goleiro Victor Bannikov, na goleira da Cascatinha, teve frieza para concluir com um chute rasteiro no canto direito.
– Lembro que a bola bateu na trave e correu no fundo da rede até o outro lado da goleira – lembrou o artilheiro.
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Naquele ano, Alcindo foi convocado pelo técnico Vicente Feola para defender a Seleção Brasileira na Copa de 1966, na Inglaterra. Foi assim que virou amigo de Pelé, que o levaria ao Santos em 1971. Só não participou da campanha do tricampeonato, em 1970, porque estava lesionado no joelho. Alcindo gostava de frisar que jamais teve uma lesão muscular:
– Todos tiveram: o Pelé, o Garrincha, agora o Neymar e o Messi. Os médicos sempre se surpreenderam que a minha musculatura era muito forte. Aí estourava nas articulações – lembrou em entrevista a ZH em 2014.
O Bugre Xucro também perambulou pelo futebol mexicano, atuando por Jalisco e América, antes de voltar ao Grêmio em 1977 para encerrar a carreira no ano seguinte.
No Olímpico, Alcindo colecionou faixas. Enfileirou o penta gaúcho entre 1964 e 1968, além de conquistar o Estadual em 1977, atuando ao lado de Tarciso, o segundo maior goleador da história do Grêmio, com 222 gols. O ídolo de riso fácil, especialista em decidir Gre-Nais, deixará saudades na torcida.
– Dei muita coisa para o Grêmio, mas o Grêmio me deu mais – disse Bugre, ao se despedir do Olímpico.
Alcindo deixa a mulher Rosângela e três filhos: Yur, Ray e Dayó. E uma legião de gremistas, saudosos de seus gols.