Desde o ano passado, Roger Machado acertou um casamento quase perfeito à frente da zaga. Maicon é quem distribui o jogo, dá o ritmo das trocas de passe lá de trás, ainda que não se mova tanto pelo campo. Walace se projeta, aparece na frente e depois retorna para dar combate. Um é técnico, o outro, dinâmico. Os dois se complementam.
A lesão do capitão gremista, combinada com o mau momento de Ramiro, abriu espaço para Jaílson. E ele está muito mais para Walace do que para Maicon. A dupla que atuou no Gre-Nal tem, portanto, dois jogadores de características semelhantes – evidente que há diferenças entre os dois, mas a movimentação é muito parecida.
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As excelentes atuações do jovem colocam uma questão a Roger que costuma dar nó na cabeça dos técnicos. O que é mais importante: o brilho técnico de um jogador ou o encaixe das peças para formar uma equipe?
Não há resposta única para a pergunta. A análise tem de ser caso a caso. Tem de se avaliar o peso de um jogador na estrutura tática do time, além de considerar o brilho individual de alguém em fase iluminada. O exemplo gremista é dos mais difíceis de avaliar.
Maicon é peça-chave do Grêmio de Roger. Costumo dizer que não é Douglas, e sim o capitão, o real comandante das longas trocas de passe do time. Manter a bola e fazê-la rodar é, justamente, o principal pilar da equipe desde o ano passado. Por outro lado, o volante não vive o melhor dos momentos.
Jaílson é o anti-Maicon. Desde sua primeira oportunidade, diante da Chapecoense, tem desempenhos muito destacados. Impressiona pela vitalidade, movimenta-se por todo o campo e é forte na marcação. Mas não tem, nem de longe, a capacidade do capitão de distribuir o jogo.
Contra Santos e Inter, essa carência não influiu na atuação da equipe. Foram jogos atípicos para esse Grêmio – nos dois, o time teve menos posse de bola do que o adversário. Nas partidas em que o rival se fecha atrás, porém, a distribuição correta de Maicon pode fazer falta.
Roger pode treinar mecanismos para que o time "substitua" a função de Maicon – pedir aos meias que recuem para qualificar a saída de bola é uma providência interessante, por exemplo –, mas a tendência é de que haja alguma demora até que seus comandados absorvam os novos movimentos. As próximas rodadas trarão essas grandes questões: Jaílson está jogando muito, mas ele vale o sacrifício de promover mudanças em uma estrutura azeitada? Por outro lado, sacar um jogador em grande fase não é o mais custoso dos sacrifícios para uma equipe?
Confesso que tenho tentado me colocar no lugar de Roger e não consigo chegar a uma resposta.
* ZH Esportes