O velho volante morreu. O chamado cabeça-de-área, cuja prioridade era destruir a jogada do adversário, nem que fosse com falta, cedeu seu espaço a um novo modelo de marcador, cujo repertório inclui maior qualidade técnica e inteligência para ler o jogo. É nessa categoria que se encaixa Walace, 20 anos, peça-chave do esquema de Roger Machado no jogo contra o Coritiba, neste domingo, na Arena, pela Primeira Liga.
Como Maicon, com quem divide a tarefa de guarnecer a zaga, Walace é o antibrucutu. Nos desarmes, o índice de faltas é pequeno. E a chegada à frente, "para pisar na área", como pede o técnico, é cada vez mais frequente. Seu espelho é o francês Paul Pogba, da Juventus, que desfila por todas as partes do campo um futebol límpido, de economia de toques na bola, como Roger Machado exige dos volantes do Grêmio.
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Vem daí, e também da semelhança de estatura entre os dois - 1m88cm - o apelido de Pogbalace, que ele rejeita com um sorriso. Nos dias de folga, Walace ocupa seu tempo observando Busquets, do Barcelona, e Toni Kroos, do Real Madrid.
As primeiras chances no time chegaram com Felipão, hoje no futebol chinês. Trocado pelo meia Marquinhos, Walace foi lançado no Gre-Nal de estreia do treinador, em agosto de 2014. Naquela época, ainda havia a concorrência com Fellipe Bastos e Riveros. Titularidade absoluta, mesmo, só a partir da chegada de Roger, em maio de 2015.
Para Paulo César Tinga, hoje aposentado, volantes modernos são cada vez mais meias. Por serem menos marcados, têm a obrigação de avançar ao campo adversário e, de preferência, "dar um beijinho no cofre", gíria que ex-volante de Grêmio e Inter inventou em sua passagem pelo Cruzeiro para realçar a necessidade de que os marcadores também façam gols.
- Daqui a uns três anos, será assim também com os zagueiros. Por isso, Guardiola está extinguindo essa posição no Bayern de Munique - observa.
Dominar a bola já preparando o lance seguinte e dar o menor número possível de toques na bola são outras lições de Tinga aos jovens volantes. Uma prática que, nos treinamentos do Grêmio, já é corriqueira.
- Roger pede para que a gente trabalhe com dois toques na bola, no máximo, três. Isso ele fomenta bastante. Já estamos botando na nossa cabeça - diz Walace.
Ao analisar os mapas de calor do último jogo de Walace em 2015, frente ao Joinville, e o da partida de quarta-feira, contra o Aimoré, Gustavo Fogaça, comentarista da Rádio Gaúcha e titular do blog Esquemão, observa uma elevação da movimentação e intensidadde.
- No geral, ele ocupa todos os espaços no meio campo, defensivo e ofensivo. É certamente o atleta do Grêmio com mais desgaste - conclui Fogaça.
VOLANTE MODERNO
"No meu modo de ver, estou evoluindo. Ainda tenho muito para aprender. Tenho visto muitos jogadores da posição e tenho procurado buscar essa evolução. O que ele (Roger Machado) tem fomentado é que o volante passe a pisar na área. Isso já deu certo nos amistosos, já deu certo com Edinho. Passa isso não só para mim, mas para todos os volantes. Já nos aproximamos mais da área e do gol adversário. Contribuímos para o time como um todo."
MODELOS NA POSIÇÃO
"Gosto muito de Pogba, Busquets, Toni Kroos. Pogba é um jogador de muita personalidade, não tem medo de errar, se precisar arriscar, arrisca. Todo jogador deveria ser assim, não pode ter medo das coisas que vão acontecer. As coisas só acontecem se a gente tentar. E ele tenta. Ele joga demais, é um fenômeno, não é á toa que está na seleção dos melhores do mundo. Para mim, Busquets é um absurdo como jogador. São dois toques na bola, não complica. Às vezes, o simples começa a sobressair."
O AMADURECIMENTO
"Muita coisa mudou na minha desde 2014. Adquiri maturidade jogando com os jogadores mais velhos. A gente cresce não só como jogador, mas como pessoa também. Jogador de futebol tem que ser homem mais cedo. E comigo não está sendo diferente. Busco maturidade para, um dia, ser um grande jogador. Já sou pai, apesar de jovem Segunda-feira, meu filho chega de Salvador para a alegria de todos. Ele nasceu prematuro, fez dois meses e agora está liberado para vir."
O GRÊMIO NA LIBERTADORES
"Nosso time é forte, bom, que já vem com entrosamento desde o ano passado, tem jogadores experientes, como Douglas, Maicon, Geromel, Marcelo Oliveira, que servem de espelho para os mais jovens. Às vezes, o futebol é mais dos espertos. É preciso ser mais malicioso que os adversários e tentar neutralizá-los. Na Argentina, sempre dá uma confusão a mais. Vamos tentar ganhar da maneira que for".
O FUTURO
"Procuro focar no Grêmio. Foi aqui que recebi a chance de crescer na profissão. As coisas só vão se abrir lá na Europa se eu me dedicar ao máximo e fazer as coisas acontecerem aqui. Quem sabe possa surgir alguma coisa mais para a frente.
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