A ruptura virou a marca de Romildo Bolzan Júnior em seu primeiro ano como presidente do Grêmio. A primeira medida radical foi tomada no plano financeiro, ao cortar gastos e evitar o risco da inadimplência.
Em maio, quando o time afundava em campo, o dirigente surpreendeu ao abrir mão de um medalhão para o lugar de Felipão. Era preciso romper com a cultura de futebol do clube, explica Bolzan, ao lembrar a aposta em Roger Machado, que daria resultados acima dos esperados.
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Inquieto, o dirigente ainda envolveu-se na luta pela criação da Primeira Liga. Romildo pretende tirar proveito de sua experiência política para ajudar os clubes a agirem de forma corporativa. Convencido de ter promovido a pacificação política do Grêmio, o presidente não descarta tentar a reeleição.
Por ora, o desafio é montar um time forte e fazer bonito na Libertadores. Confira como ele avalia seu primeiro ano de mandato.
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Risco de falência
"Quando iniciamos a transição presidencial, era nítido que o Grêmio tinha muito mais despesas do que receitas, era impossível continuar daquela forma. Se não trancássemos aquela realidade com a política de contenção, aprofundaria o débito. Estancamos com a política mais simples: controlar despesas e melhorar receita. As políticas deram resultado. Se não fizéssemos isso, o Grêmio teria caminhado para uma situação quase de inadimplência absoluta, onde o seu patrimônio não seria suficiente para pagar as dívidas. Isso, tecnicamente, é falência."
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Aposta em Roger
"Eu não tinha o sentimento do risco. Minha única certeza era de que tínhamos de romper a cultura de fazer sempre as mesmas coisas. Resolvi intervir diretamente na cultura de fazer futebol no Grêmio. Tudo estava maduro para acontecer. Rogerinho (preparador físico) havia subido, Rogerião (treinador de goleiros) havia subido, James Freitas (auxiliar técnico) subiu. E precisávamos de uma figura que caracterizasse isso. Roger tinha esse perfil, já tinha sido jogador, auxiliar, havia empatia com a torcida. Eu só tinha uma bala, mas o processo gerido era o certo, rompemos a estrutura do Luxemburgo, do Renato Portaluppi, do Felipão, rompemos tudo, tínhamos um fato novo. A decisão não foi minha, foi coletiva, de todo o Conselho de Administração. Roger não foi o nome que sobrou, já vinha sendo falado desde o primeiro momento. No domingo, num churrasco na minha casa, ainda troquei algumas ideias com meu filho (Romildo Neto), que é muito entendido em futebol. Mas não foi ele que decidiu, não é um Euriquinho (filho de Eurico Miranda, presidente do Vasco)."
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Saída de Felipão
"Felipão pediu as contas. É um homem inteligente, vivido no futebol, percebeu que o contexto não era bom, adiantou o serviço, facilitou o trabalho. Claro, se não pedisse demissão, iríamos trabalhar a ideia da saída. O contrato de dois anos com Roger prevê isso. Mesmo na dificuldade, vamos superar com o que temos. O temperamento de Roger é mais fácil de lidar, é mais maleável para superar eventuais crises, não é explosivo como Felipão."
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Equilíbrio financeiro
"Tivemos avanços nesse ano. Repactuamos R$ 54 milhões em dívidas. Jogamos no tempo, alongamos o perfil em 48, 60, 90 meses. A partir de agosto, já começamos a prever equilíbrio entre despesa e receita. Diminuímos em 20% as despesas operacionais do clube. Para o ano que vem, prevemos um pequeno superávit. A dívida de curto prazo é de aproximadamente R$ 20 milhões. A dívida fiscal é em torno de R$ 100 milhões. Mas o Profut vai abater a dívida em R$ 40 milhões. Se o fluxo financeiro fosse mais tranquilo, se tivéssemos mais R$ 2,5 milhões ou R$ 3 milhões mensais, viveríamos bem. Hoje, o déficit mensal é em torno de R$ 2 milhões. Se aumentarmos a receita, passaremos tranquilamente por tudo isso. O difícil não é inventar coisas novas, é fazer a rotina de maneira bem feita. Por exemplo, em três dias de campanha de sócio, já associamos 800 novos. O Flamengo está uns dois anos na nossa frente. O Palmeiras também tem certo equilíbrio. Mas, do ponto de vista de gestão, estamos na frente de todos. E teremos efeitos mais contundentes a partir do ano que vem."
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Suplementação orçamentária
"Não há rombo, os números impactam contabilmente, mas não representam despesa. Abrimos no balanço a rubrica rescisões e contabilizamos o valor total relativo ao Kleber (Gladiador), que é de R$ 15 milhões, não lançamos como despesa futura. Mas, na verdade, nesse ano só pagamos R$ 3 milhões. A rigor, terminamos o ano com uma falta de caixa de R$ 15, R$ 16 milhões. Seria muito fácil cobrir com alguma negociação, mas adotamos a política de não vender jogadores."
Luan fica?
"Não tem nenhuma proposta. E, se vier uma que não seja a solução dos nossos problemas, não passa. Só aceitamos conversar por, no mínimo, 25, 30 milhões de euros. Se chegar, ainda daremos preferências às questões esportivas. Se ele for indispensável para o time que estamos montando, eu prefiro mantê-lo e ver o que acontece depois. O clube deseja ser campeão de alguma coisa no ano que vem. Vou fazer um esforço danado para ver se passo o ano sem vender ninguém".
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Contratações
"O Grêmio tem muito pouca margem de erro nas contratações. Queremos três, quatro jogadores que sejam titulares inquestionáveis, cheguem jogando. Mantendo a base que temos e trazendo esses reforços, montaremos um time forte. Não temos recursos, teremos ajuda de investidores, vamos comprar no crediário, tentar empréstimos, ceder jogadores por um ano, oito meses, para ficarmos com um time extremamente competitivo no primeiro semestre. Vamos trazer um lateral-direito, um zagueiro, um articulador e atacantes. É possível anunciar algo antes do Natal. Um ou dois estão um pouco mais adiantados."
Projeto Libertadores
"Será uma Libertadores de muitos clubes fortes, de tradição. Mas estamos bem no contexto, temos o nosso respeito. Há quantos anos não saímos da ponta do ranking do futebol brasileiro? Temos regularidade nas campanhas. Vamos priorizar ganhar a Libertadores, assim como todas as outras competições. Onde estou, tenho de ganhar.
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Primeira Liga
"Vale a pena o movimento que impulsiona a Primeira Liga, a perspectiva que ela pode representar no futebol brasileiro. Sinceramente, o que menos importa é jogar. Vale a ideia de construir uma agenda nova para o futebol brasileiro. Mas, não vai ser fácil. Na hora da decisão, cada um olha para dentro e vê se está sendo contemplado. Não vou desistir do debate. Temos que mantê-lo. O que importa é criar um ambiente corporativo saudável, os clubes têm de sentar para isso. Podem me chamar de ingênuo. Mas, se não formos idealistas numa coisa dessas, o futebol brasileiro vai acabar."
Apostas da base
"Léo é um grande goleiro. Tinga está retornando. Eu apostaria muito em Arthur, Araújo e Balbino. Kaio está chegando agora, é um excelente jogador. Tontini está subindo. Lincoln vai ficar no plantel de cima. Tem o Batista. Nicolas Careca cresceu muito, foi lançado de maneira prematura, mas tem treinado muito bem. Tem o Jean Pierre, segundo volante. A base tem muitos bons valores. Nesse ano, ganhamos tudo, ganhamos 15 dos últimos 17 Gre-nais".
Gre-Nal dos 5 a 0
"Eu me sinto confortado com os 5 a 0, mas não me sinto campeão. A autoestima do torcedor ficou radiante. Muita gente pensa que resolveu o ano. Mas sabemos que não é isso, eu só queria os três pontos. O futebol tem muito dessa irracionalidade. Isso eu aprendi. Não serei mais tão racional ou frio. O 5 a 0 foi a lavada da alma do torcedor nesse ano".
Rui Costa
"Isso (a polêmica sobre favorecimento a alguns empresários) já passou no Conselho Deliberativo e não encontraram absolutamente nada contra ele. Esses assuntos vira e mexe vêm, por interesses muito bem determinados. Às vezes, de quem quer pegar o cargo, às vezes de um empresário que perdeu negócio, às vezes das lutas políticas internas do Grêmio. Tem de tudo. Em primeiro lugar, trarei de preservá-lo, recomendei que não tivesse exposição pública tão grande. E que se vinculasse às questões do futebol, porque tem bom relacionamento com o grupo. Não vi absolutamente nada que maculasse. Eu o aconselhei a tomar em juízo as satisfações que tem de tomar. E ele fez. Processou a quem o detratou".
Pacificação política
"O clube pacificou. O presidente Milton Camargo (do Conselho Deliberativo) ajudou a construir os ambientes. Os grupos trabalham em consenso sem ninguém precisar abrir mão de nada. Não precisa brigar. Os ajustes são prévios com as lideranças políticas, há um fórum permanente de debates. Não há o debate pessoalizado. Prevalece o interesse do clube. Faz sentido ir para uma reunião xingar?"
Reeleição
"Nesse momento, não penso, mas não descarto. Depende muito da hora. Se pudermos apresentar uma perspectiva melhor, será natural, se houver conjuntura. Se não houver, não força, abre caminho, outro pode fazer melhor. Se tiver que ser naturalmente, será."
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