Para o especial do aniversário de um ano da Arena, Zero Hora conversou com o ex-presidente do Grêmio Paulo Odone. Confira:
Zero Hora - Como o senhor avalia o primeiro ano de Arena?
Paulo Odone - Eu sinto um misto de orgulho e também um pouco de frustração. Orgulho por ver que a Arena ficou pronta como projetamos 10 anos atrás. Mostrou que, além de porte, segurança e qualidade quase insuperáveis, nesses jogos decisivos que precisou do apoio do torcedor, a Arena teve o espírito da história do Grêmio. Se alguém tinha dúvida de como iria se comportar a torcida, agora não tem mais. Se o Grêmio tiver empenhado, a torcida motivada, a Arena se transforma naquele tambor que se dizia ia ser, uma Bombonera de luxo.
A frustração era de que ela deveria estar vivendo a pleno a esta altura, que tivesse vida o dia inteiro todos os dias, queria ver o museu inaugurado, churrascarias e área de gastronomia e entretenimento funcionando, com os gremistas circulando por lá todos os dias. Ela foi feita para isso, para ter vida própria, área de shopping, entretenimento. O Museu previsto, que pode receber milhares pessoas por mês ainda não abriu, assim como a churrascaria, a loja âncora. Isso ainda não se cumpriu. Mesmo assim, mostrou que é uma obra de modernidade, que coloca o Grêmio entre as equipes tops do mundo.
ZH - Por que ainda não há essas opções de gastronomia, comércio e entretenimento?
Odone - Não posso entender que quando o presidente (Fábio Koff) assumiu, com a torcida eufórica, estádio inaugurado, ele diz que a Arena não é do Grêmio. Isso é como jogar um balde de água fria no torcedor. Mesmo assim, o torcedor rejeitou e disse que é a nossa casa sim.
Não posso entender a administração desse ano. Se tem coisas que precisam ser completadas. Ou não aceita e diz o que está errado e vai buscar ressarcimento ou não paga essa parte. Enfim, acerta ou não acerta o que tem de ser acertado. Se alguma coisa não está como foi contratado, não sei se tem algo assim, a gente não consegue identificar. Se algo está assim, não aceita e ponto. Mas não fica nesse impasse, não posso entender isso. Não é forma de entusiasmar a torcida, tem que ver como se resolve. Ficar apontando defeitos na Arena é um tiro no pé, pois é um patrimônio do Grêmio. Ah, mas estão defendendo uma empresa, a OAS. Não, eu fico preocupado em defender a Arena, um patrimônio do Grêmio. Isso tem que ser passado para o torcedor, ele tem que abraçar isso. Se há algum problema ou defeito, tem que ser cobrado da empresa e não desvalorizando o estádio. A Arena era para ser bombada. É um ciclo vicioso, a Arena bombar a torcida, que, vivendo a Arena, bomba o time, que corresponde. Isso tem que ser feito, mas até agora o pessoal não teve a percepção disso.
ZH - Então, são esses desacertos que estão impedindo que a Arena funcione a pleno?
Odone - O projetado era para, logo após a inauguração de dezembro, começar tudo. O museu, até o presidente atual (Fábio Koff) disse que seria com alta tecnologia, interatividade com o público infantil e adulto, torcedor e não torcedor. No entanto, não está funcionando. Era para estar no roteiro turístico de Porto Alegre. Em Barcelona é assim. São milhares de pessoas que vêm a Porto Alegre e querem conhecer a Arena, o Beira-Rio. E nós não estamos aproveitando, prejuízo que não se recupera, este ano está perdido neste ponto. O pessoal que vem do Interior poderia antes dos jogos almoçar em uma churrascaria com visão para o campo, tudo que foi concebido para a Arena ter vida todos os dias, este ano foi posto fora. Só temos os jogos lá, e assim mesmo do jeito meia-boca que se vê de administração. Do jeito que está, não pode ficar. Notifica o que está errado, vai cobrar o que está errado, deixa de pagar, deposita, mas não posso entender que fique assim. O clube tem que defender os seus direitos. Denuncia, não paga isso, mas assume o estádio de uma vez. O pior é isso. Não é bom para ninguém.
ZH - Qual sua avaliação sobre o novo contrato?
Odone - Quando o atual presidente (Koff) pediu para a gente, inclusive, intervir e dialogar para fazer uma renegociação do contrato, nós nos dispusemos a isso. Foi negociado, o Conselho Deliberativo aprovou por unanimidade o que a diretoria submeteu, e continua tudo. Não vi nenhuma dificuldade no conselho do Grêmio em aprovar as mudanças que a diretoria propôs. Toda a melhora no contrato que favorece o Grêmio a gente apoia e abraça. Só que, até hoje, o Grêmio só assumiu a Arena à meia-boca, isso é um tiro no pé.
ZH - O senhor tem ido aos jogos na Arena?
Odone - Tenho. O principal problema era o fluxo. Demoro 15 minutos para chegar, mas uma hora para sair porque tem coisas incompreensíveis. Tinham liberado a faixa toda da Voluntários para sair, saíamos em meia-hora no máximo. Nos últimos jogos, não sei por que, interditaram uma faixa. Todo mundo num brete para sair em duas pistas, aí é uma loucura. Não sei se isso é falta de diálogo, se precisa conversar com a EPTC, com a Brigada. Não entendo não administrar isso. Não vejo ninguém debater isso, parece que quanto mais confusão, melhor. Me revolto um pouco com isso, acho um descaso com o torcedor, com a cidade e com o Grêmio em especial.
ZH - O entorno também segue um problema, correto?
Odone - A (BR) 448 que vai inaugurar agora não previu nada dentro do bairro Humaitá para dar vazão ao trânsito que chegará na cidade. Pela própria lei, Dnit e governo federal devem intervir por cinco quilômetros na malha urbana da cidade. Isso se sabia a muito tempo, Precisa de um trabalho intenso para fazer o governo cumprir. Ninguém, pode trazer uma BR, quase uma freeway, e de repetente para na cidade, dentro de um bairro que é antigo e sem nenhuma solução apontada. A 448 tem que continuar por cinco quilômetros dentro do bairro.
ZH - O senhor se arrepende do acerto com a OAS?
Odone - É uma parceria por 20 anos, isso só dá certo se houver um diálogo maduro, profissional de todas as partes, do Grêmio e da parceira. Esse tipo de administração, acho maravilhosa, pois a entidade pode fazer com profissionalismo, como ocorre na Europa, no mundo inteiro. Não tem o negócio de chegar na porta e dizer que é sobrinho do ex-presidente Paulo Odone e deixa entrar. É para ser profissional. Entra quem tem direito, quem paga mensalidade ou compra ingresso. Eu, para visitar a Amsterdam Arena, o arquiteto, diretor da entidade, teve que comprar ingressos para a gente. É preciso ter uma constante negociação, diálogo. Todo mundo quer ganhar com a Arena, o Grêmio é o maior interessado, e a OAS também, porque parte da conta para construir o estádio vai ser paga em 20 anos pelo sucesso da Arena. Diálogo para corrigir o que for necessário. Não pode é que, quando perguntam para a gente e você fala que não pode desfazer da Arena, fala em tiro no pé, dizerem que você está defendendo a OAS contra o Grêmio. Isso é mau-caratice. Eu defendo o patrimônio do Grêmio, e isso que, às vezes, as pessoas não se dão conta quando fazem um certo tipo de crítica.
ZH - O futuro do Grêmio na Arena é promissor ou temerário?
Odone - Extremamente promissor, pois a Arena é tão forte, e o que deixa no torcedor que vai à Arena é tão forte que ninguém vai conseguir frustrar a Arena. Ela aguenta, resiste e passa por cima. Essa coisa de dizer que a Arena não é do Grêmio, não adianta, o torcedor volta de lá apaixonado pela Arena, dizendo que é o nosso futuro, que é a grandiosidade do Grêmio. Essas coisas não vão destruir a Arena de jeito nenhum. As pessoas passam, mas Arena e o Grêmio ficarão.