Depois de 347 dias, teremos a nossa Copa outra vez. Porque Gre-Nal não é um jogo, é um título em jogo. É um mundo à parte dentro desse universo em azul e vermelho. Vale por si só. Mesmo que, fora da bolha, pouco valha. É o caso deste clássico 438.
A rigor, ele pouco muda para efeito do Gauchão. O Grêmio está classificado em primeiro lugar, a duas rodadas do fim. O Inter dificilmente deixará de ser o segundo colocado. Ganhar ou perder pouco ou nada impactará na tabela. Porém, em tudo impactará no mundo particular do Gre-Nal.
Há alguns elementos que fazem o clássico deste domingo (5) ter vida própria e impor aos dois times força e mobilização totais, dignas de final do campeonato que Grêmio e Inter disputam entre si. O primeiro elemento é o que está citado no começo deste texto. São mais de 11 meses sem o encontro entre o azul e o vermelho.
Há um novo Grêmio sendo formado e um Inter já formado, mas ainda sem um clássico para chamar de seu. Há dois técnicos forjados na rivalidade e criados aqui nos pagos, no ar saturado de uma rivalidade que beira o insano.
Mais, há novas caras nos dois lados que serão apresentadas ao calor do Gre-Nal neste domingo e que elevaram a régua dos dois times. Há Vitão, Renê, De Pena, Wanderson e Pedro Henrique, para citar alguns no Inter. E há Pepê, Cristaldo, Carballo, Vina e Reinaldo, para citar alguns no Grêmio. E há, claro, Luisito Suárez, um astro de alcance mundial, cuja presença em campo eleva o padrão, dá lustro e status. Suárez já foi personagem da Copa e, agora, queremos vê-lo como se sairá na nossa Copa.
Tudo isso transforma o jogo deste domingo em um caldeirão de ansiedade. A pergunta que mais ouvi nesta semana é: "Quem ganhará o Gre-Nal?". Na escola do meu filho, cruzo o pátio e um professor me aborda: "Quem ganhará o Gre-Nal?" Estou no supermercado, entre os corredores do leite e dos sucos e um desconhecido interrompe minhas compras: "Quem ganhará o Gre-Nal?". Entro no estúdio da Rádio Gaúcha para fazer o comentário no Gaúcha+, e a primeira pergunta da Viviana Fronza é: "Quem ganhará o Gre-Nal?". Abro o meu Instagram e lá estão os seguidores com o mesmo questionamento: "Quem ganhará o Gre-Nal?".
É como se essa resposta fosse resolver os problemas mais urgentes do mundo. O que, se levarmos em conta o mundo à parte em que vivemos muitas vezes aqui no Rio Grande Sul, até faz sentido. Tudo aqui gira em torno do Gre-Nal e, quase sempre, tudo acaba em um grande Gre-Nal, seja para discutir política, economia ou mesmo o melhor corte de carne para o churrasco. Assim, entende-se por que este Gre-Nal valha tanto e alvoroce tanto as nossas águas de março.
Ingressos
Há uma ansiedade acima da conta para o jogo deste domingo. Os ingressos se esgotaram na quarta-feira (1º) pela manhã. Foram colocados 30.882 lugares à venda. Duraram 48 horas. Somados aos sócios do Grêmio que tomarão o caminho da Arena, teremos, seguramente, mais de 50 mil pessoas e casa lotada. Esse é outro indicativo de que este clássico que nada muda no Gauchão mudará muito a vida de gremistas e colorados a partir de segunda-feira (6).
Não deveria ser assim. Fechar-se em um universo futebolístico paralelo já nos causou embaraços. O Grêmio de 2019 a 2021 dava sinais de queda que eram enevoados por vitórias sobre o Inter. O Inter de 2021 encerrou o ano de forma prematura porque venceu o Grêmio e o empurrou para a Série B.
O clássico 438 não tem essa força nem mesmo pode apontar o destino do rival. Mas servirá de balizador para um futuro imediato. Quem ganhar se fortalece e ganha músculos para a fase decisiva do campeonato. Quem perder terá de lidar com as feridas sempre abertas em tombos levados diante do rival. É o primeiro teste forte em 2021. E ninguém quer perder. Afinal, o Gre-Nal é a nossa Copa.