Não é bem uma novidade para Erechim receber um grande evento. A cidade é sede de um dos rallies mais importantes do calendário sul-americano. É daqui também o Atlântico, glorioso time de futsal, campeão mundial da modalidade. O Colosso da Lagoa abrigou três Gre-Nais nos últimos 13 anos. Mas o sábado, 26 de março, foi um ponto de corte na história esportiva do município. A decisão do Gauchão, entre Ypiranga e Grêmio, jamais será esquecida.
Desde aquele pênalti perdido por Marlon, do Brasil-Pel, nos acréscimos da semifinal, os erechinenses já esperavam por este sábado. Se não lota frequentemente o Colosso da Lagoa (até porque cabe muita gente nas arquibancadas e cadeiras), o cenário mudou para a decisão. Metade do espaço ficou para os gremistas, metade para os donos da casa. Tudo foi preenchido.
Mas antes, houve aquele aspecto de decisão. Caminhar na Avenida, a principal da cidade, onde está localizado o estádio, dava a moldura do jogo. E aqui mora a grande diferença para os demais grandes confrontos que o Colosso recebeu. O Gre-Nal já vinha poderoso por si só, a inauguração (há 52 anos) tinha Pelé recém tricampeão mundial. Desta vez, não. Desta vez, os cavalinhos do Fantástico, as bandeiras, os chapéus, as almofadas vendidas pelos ambulantes eram verde-amarelas. Havia gente identificada com camisas da Chapecoense e do Passo Fundo apoiando o time de Erechim. E muitas outras cidades, possivelmente anônimos. Do lado tricolor também, claro.
Conforme o dia avançava, aumentava o movimento. E que beleza saber que é possível ter gente caminhando lado a lado com camisas diferentes. O amarelo misturado ao azul em paz. Brincando, conversando, rindo. Estruturas metálicas transformaram o canteiro em uma grande churrascaria pacífica. E era só chegar, de preferência com um pedaço de carne. A roupa era detalhe.
Pouco antes das 15h, um momento absolutamente sensacional. Porque emocionante. Bonito. Os torcedores do Ypiranga que ainda não haviam entrado se posicionaram em frente ao acesso principal do Colosso da Lagoa. Neste momento, chegava o ônibus do time. O veículo manobrou e parou. A festa explodiu. Em meio ao "Daleô, Ypiranga, daleô!", seguranças orientaram, a torcida obedeceu e abriu um corredor. Pó amarelo, fumaça e música. Os jogadores passaram pelo meio deles. Abriram os braços e bateram nas mãos, estilo NBA. Devem ter cantado, nem que mentalmente "Daleô, Ypiranga, daleô". Ficou provado: é, sim, dar proximidade entre fãs e ídolos. Ao menos em Erechim.
O Grêmio também encontrou paz na chegada. Os visitantes desembarcam em outro portão, foram recebidos com festa e tranquilidade por quem ainda não havia ingressado. O carinho maior foi sentido no aquecimento.
Times em campo, bola rolando. Guerra de gritos. E só de gritos. A cada escanteio, um frisson. Nas bolas nas traves de cada time, a lamentação. Até o gol de Lucas Silva, que explodiu o lado azul, preto e branco. E causou a ira da outra metade, indignada com a marcação do pênalti.
Mas foi só grito mesmo. Depois do apito final, todos foram embora. Sem a necessidade de esperar tanto até que a outra torcida saísse por completo. Sem precisar fechar ruas. Lado a lado, canarinhos e tricolores foram para suas casas, para os bares ou ficaram perambulando por aí, tentando adiar ao máximo o fim de um dia inesquecível.
Agora é o segundo jogo, na Arena. E como diz a música, o hino do Musical JM: "Porto Alegre é longe". Mas sábado tem de pegar um ônibus para encontrar o troféu do Gauchão.